Capítulo 1 A luz

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Há algum tempo, ela precisava se desviar da multidão que tirava suas fotos e comprava seus souvenirs. Tudo estava movimentado, e a garota estava solitária, mas estava sorrindo, divertia-se com o momento. Elisabeth não possuía um namorado e seus amigos em geral eram bastante ocupados, o que a deixava apenas com a opção de viajar sozinha pelos Estados Unidos. Entretanto, isso pouco a incomodava, fazia amigos com facilidades nos lugares que visitava e sorria para todos os lados, aproveitando cada momento.

Em segundos, tudo mudou demais. Uma flecha passou próximo da sua cabeça e espadas se cruzaram ao seu lado. Ela apareceu no meio de um campo. Estar em uma região bastante desértica e contrastante com a cachoeira turística, que estava antes, a fez se sentir confusa. Corria tentando se salvar, os homens vestiam se de formas estranhas, pelo seu conhecimento pareciam várias vestimentas árabes, roupas típicas que se via em livros de história.

Olhando mais um pouco, Elisa percebeu que estava cercada. Os gritos não a deixavam pensar direito. Era uma guerra de verdade, com espadas e flechas. Ela não poderia ter se metido em uma enrascada pior, afinal não sabia nenhuma maneira para se defender além de atirar com a arma que estava em seu bolso, mas uma pistola não seria o suficiente para tantas pessoas, possuía apenas seis tiros, teria que sair dali sem sua arma.

Um puxão em sua barriga a levou vários passos para trás.

- Vem! – Um homem a agarrou forte pelo braço, enquanto brandia uma espada com a outra mão e deixava claro um olhar negro em seu rosto – De onde você surgiu?

- Uma boa pergunta – ela disse enquanto tentava acompanhar a corrida do homem, ele conseguia correr e golpear qualquer um que se atravessasse em sua frente – eu estava numa cachoeira.

- Cachoeira? Você ficou louca? – ele a puxava com força – não há nenhuma fonte de água grande o suficiente para uma cachoeira em um raio de mais de 10 quilômetros – ela ficou sem palavras, mas acreditou nele, pois olhou ao redor e só via um terreno arenoso e seco. O homem abriu uma porta e a empurrou para dentro com violência – Fique aqui!

A porta se fechou antes que ela pudesse protestar. O lugar estava escuro, pensou em sair, mas o breu claustrofóbico parecia melhor do que a batalha a qual ainda era possível escutar sons abafados do lado de dentro. Elisa demorou para notar que havia mais mulheres ali se escondendo.

- Olá... – tentou chamar, pensando como seria recebida – onde estamos?

- No abrigo – uma voz sussurrante respondeu, não era possível ver ninguém, mas sabia que eram mulheres pelos barulhos que faziam, pelos seus suspiros comparados com os gritos do lado de fora.

- Abrigo, é um bom nome – Elisa tentou levantar o ânimo do lugar, o que não aconteceu – mas digo, onde estamos mesmo, em que parte do planeta... sei lá... talvez eu tenha pegado uma onda meio forte e parado perto da América Central ou...

- Estamos em Masyaf.

- Masyaf... – ela repetiu, tentando se lembrar de onde já ouvira esse nome – isso não é nome de cidade árabe?

- Bem, somos árabes – uma moça respondeu, com a voz mais alta que as demais, mais firme. Deixando Elisa um pouco sem palavras.

- Quer dizer que estamos no Oriente Médio...?

- Isso – a mesma moça confirmou.

- Em uma região cheia de muçulmanos? Ou judeus? – seu cérebro estava trabalhando tentando se localizar no mapa-múndi. Seus anos no clube de geopolítica tinham que servir para algo.

- Muçulmanos – ela disse – por acaso você é algo diferente disso?

Elisa travou, já ouvira cada tipo de notícia de absurdos que muçulmanos fizeram com cristãos. Enforcamento com helicóptero e paredão de tiros foram só as mais publicadas pelos jornais, mas Elisabeth conhecia mais, sabia que não poderia viajar para algumas regiões do mundo sem ter algum risco de morte por conta de ser cristã.

- Algo diferente disso – ela respondeu, esperando não ser espancada por moças radicais – mas não procuro nenhum tipo de briga, quero apenas voltar para casa.

- Então não venha brigar, Algo Diferente Disso – pelo tom de voz, a mulher encerrou a conversa, mas era apenas uma pausa enfática – quando o conflito acabar, você poderá se resolver com os Mestres.

- Mestres? Que mestres?

- Bem, você vai conhecê-los logo – a moça disse, Elisa imaginou uma mulher de burca gesticulando com desdém – De onde veio?

Elisa precisou pensar um pouco antes de resolver revelar que viera de um dos países com a maior população católica do mundo. Talvez ela tivesse que cuidar tudo o que falava. Apesar de não gostar de se esconder, decidiu que não diria seu nome, CPF, nem nada de sua família.

- De muito longe – ela respondeu.

- Não brinque comigo – a mulher pressionou, Elisa conseguia ouvir a respiração de outras, entretanto todas estavam em silêncio.

- De terras além do Oceano Atlântico – revelou ela relutante.

- Tsc. Nunca ouvi falar de terras além do Oceano – disse a moça – Explique-se.

- Bem... – como explicaria isso? – É claro que tem. Tem o Canadá, os Estados Unidos, o Brasil...

- Talvez Al Mualim possa te ajudar – ela a interrompeu – ele é o mais sábio de nós.

- Ah, obrigada – Elisa ficou comovida pela ajuda oferecida repentinamente. Demorou para perceber que o silêncio do local não era apenas para escutar as duas conversando, mas também porque a batalha do lado de fora tinha acabado. Ela estava pronta para andar o caminho de volta e sair, quando passos rápidos atravessaram a sala e mãos finas, mas firmes, seguraram-na e a arrastaram. Com um chute, a porta abriu, e Elisa foi jogada com violência. Seus olhos demoraram um pouco para se acostumarem com a luz do dia de novo. Quanto tempo estivera ali dentro?

- Soraia, o que está fazendo? – perguntou uma voz masculina. Elisa conseguiu visualizar vultos de sapatos escuros se aproximando no chão arenoso. As mãos finas de antes a puxaram pelo cabelo e sustentaram lâmina em seu pescoço.

- Uma cristã no abrigo – disse a mesma voz com quem conversava no escuro – talvez seja uma espiã dos templários.

- Templários? – Elisa perguntou hesitante, o gelo da lâmina a deixava bastante intimidada para que pudesse falar com confiança – as cruzadas acabaram em 1270.

- Em 1270? Estamos em 587 depois da Hégira – deduziu que a voz feminina deveria ser a tal Soraia.

- Ela está usando o calendário cristão – disse um terceiro homem que se juntava a um círculo para observar a cristã.

- Mesmo assim, não é uma data condizente – disse outro – Agora é 1191, segundo os cristãos.

- O quê? – Elisa deixou escapar, e a lâmina apertou um pouco mais.

- Pare, Soraia – disse o primeiro – deixe que o Al Mualim decida se ela vai viver.

Como se ensaiado, Soraia a largou. Porém Elisa não teve tempo de pôr as mãos no chão, fora puxada para cima como se não pesasse nada por um homem e forçada a andar com uma espada balançando para si.

Ano de 1191. Ia contestar, mas observando ao redor, percebeu que talvez o homem não estivesse tão enganado. Todos estavam armados com ferramentas rudimentares. Espadas, adagas, arco e flecha. Nada de pistolas, teasers, coletes ou capacetes de alta proteção. Quando entraram em uma cidade, percebeu que as casas não possuíam nenhuma tecnologia, não havia banners de propagandas multinacionais e nem nenhum indício que conheciam o conceito de automóveis. Os cadáveres da batalha eram levados por carroças, enquanto os feridos eram tratados de forma rústica.

Seus pensamentos cercaram tudo o que conhecia sobre filmes de viagem no tempo. A conclusão mais concreta que chegou foi simples: ela estava ferrada. 

Assassins parte 1 - O ImperiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora