ℭ𝔞𝔭𝔦𝔱𝔲𝔩𝔬 𝔒𝔫𝔷𝔢

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Capítulo onze
Ou
So Darling, Darling, stand by me.

Tudo queima.

Seu estômago, pelo enjôo, seus olhos, pelas lágrimas e seu braço, por estar sendo prensado contra a mesa.

E claro, ele também queimava por conta do líquido que estava sendo derramado em sua pele. Ela olha para o vidro, quase cega pelas lágrimas, mas consegue ler o "H2SO4" no rótulo. Ácido sulfúrico, extremamente corrosivo, pelo que ela se lembrava.

Isso explicava o ardor.

Ela não se atreve a olhar para seus braços. Não havia necessidade, já que ela estava sentindo na própria pele a dor excruciante. Era auto explicativo e com certeza não precisava de exemplos visuais. De olhos fechados, a única coisa que conseguia pensar era uma súplica silenciosa para alguém — uma divindade ou até para seu próprio cérebro — fazê-la parar de sentir, parar de pensar, parar de viver. Ela implorava para que seu corpo desmaiasse ou que sofresse um ataque cardíaco para finalmente acabar com aquele inferno.

Raven não pôde deixar de reprimir uma risada, porém. Era irônico pensar de que ela tinha saído de Ever After para fugir de sua vida miserável e tenha acabado em um lugar pior do que antes, implorando para morrer em cima de uma mesa envolta por uma toalha quadriculada e com enfeites de frutas que ela teria que jogar fora depois que tudo acabasse, já que o ácido respingou por todos os lugares.

Seu rosto arde, e então ela percebe que levou um tapa. Ele não gostava quando ela resistia ou quando fingia que nada estava acontecendo. Ou talvez ela tenha dito alguma coisa que não se lembrava, ou tenha feito algum barulho, ou se mexido demais.

De qualquer forma, a culpa era dela. A culpa sempre foi dela.

×××

— Senhorita Queen, ouviu alguma coisa do que eu disse? — o policial pergunta, sem paciência. Coincidentemente, era o mesmo que tinha a interrogado anos atrás, e ela só conseguiu o reconhecer pela voz, já que seus cabelos extremamente brancos, o cavanhaque e a perda de peso o deixaram irreconhecível aos seus olhos.

Ela, porém, não responde. Não cometeria o mesmo erro da outra vez, de falar bobagens ou pedir favores e eles distorcerem suas palavras para usá-las em seu benefício e ela com certeza preferia passar horas sem abrir a boca do que passar por tudo aquilo de novo.

Raven olha à sua volta, para tentar se distrair, e funciona. A sala em que eles a colocaram era como uma versão muito mal feita de uma sala de interrogatório produzido por uma criança brincando de ser policial, com cadeiras de plástico servindo de assento e uma mesa de escritório velha que a qualquer momento desabaria em cima de seu pé.

Como o quarto não tinha o "espelho interrogativo", havia um tripé com uma câmera filmando-a o tempo inteiro e um policial do lado de fora da janela (que tinha grades, então não havia muito o que ele fazer caso alguma emergência acontecesse, mas Raven resolveu não comentar para evitar problemas)

A mulher olha para o policial e sustenta seu olhar por um minuto inteiro, sem desviar, até fazê-lo se sentir desconfortável, e então, quando atinge seu objetivo, ela fecha os olhos.

— Você não vai ficar em silêncio pra sempre, Queen.

A pronúncia de seu sobrenome como se fosse um insulto a deixa irritada, mas ela nada diz, mantendo-se fiel ao seu propósito.

E ela não ficaria para sempre calada. Ela já tinha visto alguns filmes de policiais e eles teoricamente só poderiam mantê-la por até 30 dias sem provas concretas. E com certeza ela estava disposta a ficar 30 dias em silêncio se for preciso.

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⏰ Última atualização: Jan 03 ⏰

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𝐆𝐨𝐨𝐝𝐧𝐢𝐠𝐡𝐭 𝐒𝐨𝐜𝐢𝐚𝐥𝐢𝐭𝐞 Onde histórias criam vida. Descubra agora