𝕮𝖆𝖕í𝖙𝖚𝖑𝖔 𝕯𝖊𝖟

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Capítulo dez

Ou

The cause, the kid, the course, the charm, and the curse


Desde que se entende por gente, Raven Queen nunca gostou de dobrar roupas. Para dobrar uma pilha sequer, demorava minutos e mais minutos pois nunca ficava do jeito certo e ela não tinha outra opção a não ser recomeçar.

Agora, já adulta, Raven não mudou de opinião.

Suas mãos embolam as camisetas como se fossem bolinhas de papel e ela as joga na mala com rapidez, sem se dar o trabalho de separar as roupas limpas das sujas. Não era hora de ser higiênica, e sim rápida.

Fazia um dia inteiro que o bilhete havia sido entregue, o que significava que ela havia perdido um tempo precioso - crucial -, e ainda assim, com todo esse desespero, ela não conseguia parar de pensar em Darling, Maddie e todo mundo na cidade. Ela sabia que isso iria acontecer, mas mesmo assim teimou em ficar, em um ato egoísta de sua parte, e agora teria que sofrer as consequências de seus próprios atos. De novo.

Mas ela fugiu uma vez, e com certeza tem a capacidade de fugir novamente. Nada poderia ser tão ruim quanto a última vez.

Seu braço pinica, e ela se lembra que o remédio que precisava passar em seu braço todos os dias acabou na noite passada. Se não fosse o caos que tinha se instalado naquela casa após o bilhete ter sido "entregue", Raven já teria saído para comprar o produto na farmácia e aproveitaria a deixa para nunca mais voltar para essa maldita cidade.

...maldita?

Só esse pequeno pensamento a deixou com um gosto ruim na boca e uma sensação de traição. Como poderia chamar de maldita a cidade na qual residiam seus amigos?

Raven se lembra da pergunta que Maddie fez, dentro do cemitério, quando ela tinha recém chegado para o velório de Apple: "Sentiu falta desse lugar?" Ela tinha respondido que não ligava o suficiente para sentir falta, mas ela estava começando a reconsiderar, o que era perigoso.

Ela não pode se apegar, ela não deve se apegar. Sua vida agora se resumia apenas a ela mesma, e ninguém mais. Não há mais espaço para companhia, e ela estava bem com tudo isso, estava conformada em passar o resto dos dias tendo como companheiros seus cigarros e as vozes da sua cabeça, mas toda vez que pensava em deixar a pobre e perturbada Darling para trás, ou em nunca mais ver sua melhor amiga Maddie, seu estômago embrulha e ela sente nojo.

Se era um mal estar ou apenas nojo de si mesma, isso já era outra história.

Seu braço pinica novamente, e Raven, por instinto passa suas unhas em cima do machucado, causando uma onda de dor excruciante que a deixa cega por uns segundos

Eu preciso dos meus remédios, onde está a merda da minha carteira??

Ela vasculha suas coisas, mas não a encontra em lugar nenhum. Ao forçar sua mente, ela se lembra de que deixou a carteira em cima do notebook.

Mas a merda do notebook também não estava no quarto.

Raven suspira e vai em direção à porta, para procurar no resto da casa, e quando chega perto da maçaneta, ela ouve uma voz masculina do outro lado. Ela para e se encolhe instintivamente.

É um péssimo hábito que adquiriu ao longo do tempo, assim como o cigarro, mas com o tempo todas as feridas eventualmente vão sarar, até aquelas que pinicam.

A voz masculina do outro lado está falando muito baixo para que ela escute, mas ela encosta sua orelha na porta para conseguir decifrar sobre o que se tratava. O tom de voz do homem estava neutro, sem desespero, o que tranquilizou Raven de imediato. Já bastava de notícias ruins essa semana.

𝐆𝐨𝐨𝐝𝐧𝐢𝐠𝐡𝐭 𝐒𝐨𝐜𝐢𝐚𝐥𝐢𝐭𝐞 Onde histórias criam vida. Descubra agora