Prólogo

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1118 palavras.

Ao longo de toda minha existência, nunca dominei a arte de se expressar e agir com a maturidade intelectual que a vida exige

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Ao longo de toda minha existência, nunca dominei a arte de se expressar e agir com a maturidade intelectual que a vida exige... na verdade, nunca precisei. Sempre me mantive à sombra daqueles que amei, permiti que assumissem as responsabilidades que demandam habilidade e discernimento, em vez de eu mesmo dar minha cara a tapa e me expor ao desconhecido. Lamentarei eternamente por essa escolha. Forçado pela circunstância global atual, tive que aprender na prática, como priorizar a segurança alheia (no mundo contemporâneo não há espaço para o egoísmo de apenas se importar consigo mesmo), em parte porque temo a solidão efetiva, mas também porque as vidas de pessoas, que aqueles que eu zelava amaram, estão em jogo. É uma realidade difícil. O medo está sempre presente, mas para tranquilizá-los, devo manter uma fachada de convicto controle, como se eu tivesse certeza de garantir nossa sobrevivência... embora que, na verdade, não saiba se estaremos vivos amanhã, daqui uma semana ou um mês.

Quando essas criaturas, cadavéricas e espasmódicas, emergiram abruptamente do nada, me vi inserido em um cenário ao qual jamais imaginei um dia pertencer. Não tive sequer o privilégio de me despedir de minha família, permanecendo na incerteza de sua sobrevivência após o primeiro embate deste apocalipse genocida, que ceifou a vida de milhões, senão bilhões, de seres vivos. A expectativa de escapar desta cidade, deste bairro ou desta residência torna-se cada vez mais inalcançável. Em minha cabeça, explorei inúmeras estratégias para empreender uma fuga ou conceber um plano eficaz, mas como podemos escapar quando elas, as criaturas, estão presentes em todos os lugares, independente da nossa pretensão de destino?

Cada dia, as crianças se tornam mais suscetíveis ao perigo que habita lá fora, mesmo que não tenham consciência disso. Ontem, enquanto repousavam, observei alguns deles vagando perigosamente próximos ao portão do quintal, que dá acesso imediato a porta da residência onde nos escondemos tão seguros por tantos dias. Me intriga o fato de nunca terem invadido essa casa em particular; talvez tenha sido pelo silêncio sepulcral que a envolveu durante o ataque? Não posso afirmar com certeza. A simples ideia de uma possível invasão aqui, desperta em mim um temor indescritível. Não disponho de armas para um confronto mais resistente e, menos ainda, de forças para enfrentar numerosos adversários numa luta física. Desconheço até mesmo como tirar-lhes a vida, se é que podem morrer e permanecer mortos.

Há uma semana, eu era apenas mais um mero jovem incerto sobre o próprio futuro, cujos maiores problemas se limitavam à crença de que riqueza, beleza e o amor de alguém que me compreendesse estavam além do meu alcance. No entanto, meus problemas mudaram completamente seu curso e sua essência, agora me vejo completamente responsável pelo destino de dois jovens aterrorizados e uma criança que mal compreende a extensão do que enfrentamos.

Os primeiros dias foram os piores, alimentando a esperança de que a qualquer momento policiais armados ou, por alguma razão absurda que fazia sentido naquele momento, o FBI surgiriam à porta, informando que tudo estava bem e que o mal havia sido erradicado. Logo, percebi que a realidade não se desdobraria como nos seriados de TV ou nos livros, onde sempre tudo gira em torno de um trajeto que levará todos a um final feliz. Que absurdo! A ideia de que o mundo voltaria a ser o mesmo após isso é quase hilária. Primeiro porque não haverá um "após". Segundo, porque já aceitei que isso não terá um fim convencional. Acreditar que o mundo voltará a ser o mesmo é agora apenas um eco distante da minha ingenuidade, ou da de qualquer outro.

Imediatamente, no início de tudo, Sarah, Ryan e Beatrice se posicionaram atrás de mim, como se tivessem pensado que eu teria uma solução para aquilo. Passei pela breve reflexão de ser o mais velho, mas rapidamente indiquei que mantivessem o máximo de silêncio possível, orientando-os a se refugiarem no banheiro enquanto eu trancava a porta por fora. Embora tenha parecido, para eles, que eu seria o protetor deles, na realidade, foi apenas a ação instintiva que me veio à mente. Optei pelo banheiro por estar localizado no centro da casa, presumindo ser o lugar mais seguro. O que eles não sabem é que, após trancar o banheiro, corri para o sótão e me encolhi no canto próximo da pequena janela esférica. Ao testemunhar os horrores do lado de fora, abracei meu próprio corpo, me encolhendo ainda mais no canto da parede, em uma silenciosa prece para que aquelas terríveis criaturas não invadissem a casa. Graças a Deus, elas não tiveram motivação suficiente, seja por barulhos ou movimentos visíveis, para entrar.

A situação é crítica, a comida está se esgotando e a necessidade de encontrar um local mais seguro se torna cada vez mais urgente. No entanto, as criaturas parecem estar percebendo a presença desta casa, aproximando-se perigosamente com o passar dos dias. Os fundos oferecem pouca esperança de fuga, já que a situação lá parece ainda pior. Considerando minha atual escassez de opções, a única alternativa vigente é arriscar uma incursão na casa vizinha em busca de alimentos. Este movimento, embora necessário para evitar a morte por fome, é marcado pelo medo constante de cometer um erro fatal, sabendo que a mínima falha pode resultar em minha morte imediata.

Agora, enquanto observo pela mesma janelinha esférica os seres cadavéricos andando para cima e para baixo, rosnando como um cão bravo e tendo espasmos diretamente, penso com sarcasmo sobre a ironia da vida neste nosso novo mundo de horror. Vejamos, estamos aqui, nós, temendo a morte prematura pelas mãos de criaturas horrendas que vagueiam pelas ruas, como se a vida já não fosse complicada o bastante antes. Quem diria que a ameaça mais temível viria em forma de coisas que parecem ter escapado das páginas mais obscuras de um conto de terror? A morte, que antes resumia-se a uma presença abstrata e distante, agora caminha ao nosso lado, cercada por gemidos guturais e sombras famintas. Que ironia cruel, viver para presenciar o apocalipse e perceber que, no fim das contas, a morte ainda é a única certeza que se pode ter.

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Espero que tenham gostado. Está é minha primeira história de terror, então dêem um desconto. Embora que o foco não seja o horror presente na obra, mas sim a resiliência e o amadurecimento de Daniel, diante de situações inimagináveis que testarão não apenas sua força e suas habilidades, mas também seu psicológico, sua coragem e seu limite.

Não esqueçam-se de votar e comentar muito, hein? Ajuda muito na visibilidade da estória.

Até o próximo capítulo, lovers!

A Alvorada dos EsquecidosOnde histórias criam vida. Descubra agora