Capítulo 2: Cada um em seu quadrado!

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4204 palavras.

    O alarme persistiu por cerca de dois toques, e eu já sabia que estava atrasado, mas parecia que cada célula do meu corpo se recusava a reagir. No terceiro toque, decidi finalmente me levantar e me arrumar para o trabalho. Antes de sair, ouvi meu celular tocar, lembrando-me de levar o aparelho dessa vez. O nome de Celine, minha irmã, piscava na tela. Só então me dei conta de que já se passaram cerca de um mês desde a última vez em que nos falamos. Ela tem andado ocupada e eu... bem, eu sou só eu


— Oi — atendi após trancar a porta do apartamento.


— Esqueceu os pobres, rico? — suspirei cansadamente por sua brincadeira. — Hein, tem falado com a mãe? Estou tentando falar com ela desde ontem.


— Não... — saí do prédio e acenei para o porteiro do turno matutino, que vinha atravessando a rua. — Nem com o Breno. Bem, mandei mensagem para ele na véspera de natal perguntando como iam as coisas por lá e ele sequer me respondeu. Mas não é de se admirar, você não viu no noticiário?


— O que têm no noticiário? — ergui as sobrancelhas surpreso, lembrando em seguida que Celine não é do tipo que assiste noticiários.


— Está mais do que na hora de trocar os seriados e novelas que não agregam em nada na sua vida por algo mais útil, como, no mínimo, o noticiário, não é!? — olha só! Até parece que sou eu falando. Ouvi-a estalar a língua e soltar um "Ah, tô fora". — Parece que estão tendo problemas em se comunicar com a capital. Aparentemente a rede de sinal foi cortada lá, as torres devem estar em manutenção, não sei.


— Nossa! Será que o Breno e a mãe estão bem? Fora que estou precisando falar com ela há um tempão.


— Como eu poderia saber? Você é quem fala com mais frequência com ela. Além disso, o problema é na comunicação, não com os moradores.


— Certo. Está na rua cedo assim? Estou ouvindo barulhos de carro. — perguntou após alguns segundos, enquanto eu atravessava a rua.


— Sim, sim. Estou indo para o trabalho. Inclusive, tenho que desligar, tchau!?


    Não esperei sua resposta e desliguei enquanto entrava pelo portão da casa. Sei exatamente o que ela viria a falar, caso eu esperasse para ouvir; "Até que enfim, hein". Kate, olhava o relógio e terminava de tomar café. Ela estava um pouco pálida. Ao me ver, suspira aliviada. Confessou que estava com medo de eu me atrasar e, em decorrência disso, ela se atrasar também.


— Tive uma noite cheia ontem. Mas não irá se repetir, não se preocupe. — afirmei e ela concordou com a cabeça. Antes de seu motorista chegar tivemos tempo suficiente para conversarmos um pouco sobre como funcionam as coisas em seu trabalho e falamos sobre meu primeiro dia ali.


— Falou com a Regina? — Kate perguntou em dado momento, quando ficamos sem assunto.


— Você sabe que ela não vai com minha cara. — respondi com um tom de descaso. Já passei da fase de se importar com o que os outros fazem ou deixam de fazer em relação a mim.

A Alvorada dos EsquecidosOnde histórias criam vida. Descubra agora