Capítulo 5: Bem-Vindo Apocalipse!!!

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3882 palavras.

    Cinco dias se passaram desde que o aparente fim do mundo começou. Meu tornozelo estava se recuperando bem, graças ao soldado. Em seu segundo dia conosco, ele se aproximou de mim e pegou meu pé o colocando sobre seu colo, após um tempo massageando-o ele desceu lá embaixo e retornou minutos depois com gelo, água, o kit de primeiros socorros que fica na dispensa, analgésicos e comida, eu sequer tive a sapiência de pensar nos analgésicos. Estavam aqui o tempo inteiro enquanto eu me permitia apenas sentir dor e reclamar para o universo o quão injusto era com todos nós. Desde então ele vem cuidando do meu tornozelo, ao passo que cuida de sua própria ferida em seu joelho, que descobrimos se tratar de um corte não tão profundo.

    Volto meu olhar para o homem em minha frente, ele acaba de enrolar a atadura que prende o pequeno pedaço de madeira em meu pé e traz seus olhos para os meus. Nos encaramos por alguns segundos, do mesmo modo de sempre: tento entendê-lo ele tenta falar com o brilho de seus olhos verdes esmeralda e no fim eu quebro o contato visual. Ouço-o se levantar e se afastar até a janela. Sarah, Beatrice e Ryan dormiam no lado oposto de onde estávamos no sótão. Já passa da meia noite e, pela primeira vez desde o primeiro dia, me levanto e sigo até onde o homem está, na maldita janela que nos dá visão privilegiada para o caos que reina eternamente lá fora. Um alívio me toma ao constatar que já posso pisar no chão sem sentir tanta dor.

    O homem me encara surpreso por um segundo, para depois abrir espaço entre ele e a janela. Me posiciono ao seu lado e ao ver o estado em que as ruas se encontrão, parte de mim não se surpreende, mas ainda assim isso só dá forças às minhas preocupações. As ruas estão bem mais preenchidas pelos mortos-vivos do que quando os vi inicialmente. Não pude deixar de notar que não são os mesmos, naquele dia mais da metade eram os soldados e agora não vejo nem mesmo um de uniforme. Isso significa que estão andando e se espalhando pela cidade.

— Sabe, eu me sinto mal por não saber seu nome... — ele me estudava com um sorriso pequeno se formando em seus lábios. — Vou chamá-lo de Erik.

    Ele exibiu um sorriso largo, evidentemente se divertindo com aquilo. Sorri para ele também. Meu olhar encontra os andantes sem vida que não paravam de andar nas ruas.

— Você esteve lá — Afirmo e sinto seu olhar pesar sobre mim. O fato de estarmos a centímetros de distância um do outro empaca minha coragem de encará-lo. Respiro fundo, por fim olhando para ele. — Sabe como matá-los?

    Ele confirma com um meneio de cabeça, os olhos atentos aos meus. Observo-o fazer o gesto de uma arma com a mão esquerda, ele a leva até minha testa, bem no centro, e simula um tiro. Um arrepio varre meu ser, fazendo-me desviar o olhar para as ruas novamente. Estreito os olhos para as ruas, fingindo ver algo muito intrigante, para fazê-lo tirar os olhos de mim.

    Porém, de fato algo me chama a atenção. É um dos mortos, para ser exato: uma menininha. Penso em Sarah, em Hadassa, minha sobrinha. Aquilo pesa em meu coração, fazendo um nó se formar em minha garganta. Talvez tivesse uns 8 anos de idade, estava de pijama rosa com diversas flores pequenas. Em seu pescoço uma ferida profunda com aspecto pútrido. O sangue escuro sujava toda sua roupa e parte dos cabelos loiros.

    Erik pareceu seguir meu olhar, pois a viu também e quando olhei para ele, percebeu as lágrimas que se formavam em meus olhos. Ele agarra minhas mãos, puxando-me para longe da janela. Ele aponta para mim e depois para o colchão improvisado, formado por um emaranhado de cobertas, onde os outros três dormiam. Nego com a cabeça e ele suspira, puxando-me para mais próximo dos que dormiam e repete o ato de apontar para mim, depois para o colchão. Abaixo a cabeça e me inclino sobre as cobertas, ele acompanha meus movimentos até que esteja deitado e enrolado. Só então vira as costas para mim e retorna até a janela. Essa é a terceira noite que fará guarda enquanto dormimos. De início eu não acatei a ideia pois mal o conhecíamos, mas depois vi que era seu gesto de retribuição por termos lhe aceitado conosco. Portanto, não questionei mais.

A Alvorada dos EsquecidosOnde histórias criam vida. Descubra agora