Capítulo 1: O avesso da monotonia!

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3970 palavras.

    O som do alarme se fez presente em meu quarto, me trazendo de volta à realidade de insatisfação constante que se tornou meu cotidiano, logo enfatiza-se a culpa que sinto por permitir que as coisas chegassem a esse ponto. A discussão precipitada com Lise, minha irmã, na ceia de Natal da noite anterior, logo me atingiu como o tiro certeiro de um pistoleiro profissional infalível.

    Reflito sobre o rótulo de irresponsável que sei que carrego, ciente de que por muito tempo permiti que outros assumissem o controle das minhas responsabilidades. No entanto, não posso atribuir toda a culpa a mim mesmo; acomodei-me em um modo de vida que me foi oferecido, sem exigir ou implorar para que cuidassem das minhas responsabilidades por mim. Agora isso não importa mais. Consegui um emprego próximo, na casa de uma prima, e sinto que é o primeiro passo para conquistar o amadurecimento profissional e intelectual que me foi lançado na cara ontem. Posso não estar à beira de um grande avanço em uma carreira profissional específica, afinal trabalharei como babá, mas digamos que é um começo?

    Não estou fazendo isso por birra; estou fazendo porque Anna está certa. Por muito tempo, fechei os olhos para os fatos mais importantes da vida adulta, transformando-me no "bebezão inconsequente" que ela mencionou. Apesar de, na hora, ter demonstrado bastante aborrecimento com suas verdades e me deslocado para o bar mais próximo, não a odeio. Eu a amo, e só agora, após todos os efeitos do álcool terem se dissipado e minha mente clareado, percebo que ela não fez nada que já não viesse fazendo há muito tempo: me transmitiu lições valiosas, mas a diferença é que, desta vez, eu ouvi.

    Por muito tempo eu fechei os olhos para questões que eu sabia que deveriam ter tido uma certa atenção de minha parte. Vivi dependendo de meus pais, mesmo já não estando mais na mesma casa que eles, e, de certo modo, relaxei nessa comodidade "temporária" fornecida por eles. 20 anos e ainda vivo como se tivesse 16, até mesmo alimentando-se graças a um namorado ou, como declarado, meu pai. Que vida miserável. Por pensar nisso, faz quase uma semana que não tenho notícias do Henry. Venho mandando mensagens de texto e ligando, mas não houve nenhum sinal dele. Passarei em seu apartamento hoje ao sair do trabalho.

    Sigo para o banheiro para fazer minha higiene matinal, me alimento e me preparo para o meu novo trabalho. Ao sair em direção ao segundo quarteirão do meu prédio, percebi que esqueci meu celular em casa. Deve estar jogado pela cama ou na escrivaninha, quem sabe. Torço para que nenhuma mensagem importante me seja enviada e entro na casa da minha prima, encontrando-a terminando de se arrumar para sair rumo ao seu trabalho.

    Admiro muito as duas, ela e sua irmã! São mulheres fortes que, desde jovens, lutam pelo que querem e, após terem suas filhas, batalharam para criá-las sem depender de ninguém. Elas representam boa parte do que eu almejo ser. Além disso, estiveram ao meu lado em um momento crucial da minha vida. Quando me tornei uma pessoa horrível da qual não me orgulho, elas estiveram lá para me lembrar que estava seguindo pelo caminho errado. Colocaram-me nos eixos, como diz meu pai. Amo-as como se fossem minhas segundas mães. Eu não seria capaz de expressar isso em palavras, mas elas sabem disso.

— Cuide da minha filha direito, hein! — Kate dispara já saindo, afirmando estar atrasada.

    Enquanto eles dormiam tranquilos, aproveitei para tomar uma xícara de café forte e realmente acordar de minha ressaca. Depois que organizei a casa e acordei Sarah para tomar café também, sentei-me ao seu lado no sofá xeretando a vida dos influencers no Instagram.

    A mais velha, de 19 anos, Regina, saiu alguns minutos depois que cheguei. Ela se esforça bastante para ser uma esgrimista de renome. E dado o que já vi, ela está indo bem. Sinto falta de quando éramos próximos, a idade e o tempo foram nos afastando gradativamente. Ou não, nunca entendi o porquê de ela subitamente ter se afastado. Tratamo-nos como dois estranhos. A mais nova de 4 anos, à qual fui contratado para cuidar, Sarah, não me deu muito trabalho. Porém arrumar a casa deu.

A Alvorada dos EsquecidosOnde histórias criam vida. Descubra agora