XI

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Artur entrou no gabinete de Júlio todo risonho.   Rodolffo chegou depois.

Cumprimentou todos com um bom dia a lançou um olhar a Juliette que não passou despercebido a Júlio e Ivone.

- Convoquei todos para anunciar as mudanças.
A partir de hoje Artur passa para o departamento internacional.   Vais trabalhar com o Mateus, Director do departamento.   Serás o seu braço direito.  Todas as decisões deverão ter a sua aprovação.

- E as fábricas, tio.  Não posso largar as fábricas assim.

- As fábricas ficam todas com o Rodolffo.

- Não é justo.  Eu é que comecei o trabalho.  Posso resolver ao menos o problema das duas que eu deixei o relatório com o tio antes de viajar?

- Esse assunto já está em andamento.   As reformas já iniciaram.  Por agora és mais útil no departamento internacional.
Por falar nisso, quero saber tudo sobre a feira.  No final desta reunião fica para conversarmos.

Júlio havia descoberto que Artur se apropriou da verba requerida para as obras da fábrica e tinha planos para ficar com a outra também.

Precisava de ser afastado e começaria por colocá-lo sobre as ordens de outro director a quem  já tinha pedido para ficar de olho.

- Rodolffo,  alguma dúvida?

- Não, pai.  Tudo certo.

- Então podem sair todos menos o Artur.

Saiu Rodolffo e as meninas e este aproveitou.

- Ju, podes tomar um café comigo?

- Antes que ela respondesse, Ivone falou.

- Vai, Ju.  Eu seguro as pontas aqui.

Juliette seguiu à frente de Rodolffo e em silêncio entraram no elevador.

- Porque não me atendes o telefone?

- Simples.  Não quero falar contigo.  Só estou indo agora para não ter bate boca lá no escritório.

Entraram na cafetaria e sentaram-se numa mesa afastada.

- Sobre o que ouviste, talvez eu me tenha expressado mal.

- Não.   Entendi muito bem.  Não queres relacionamento nem compromisso.  Não foi isso?

- Foi, mas não nesse sentido.

- Foi no sentido de que eu não passei de mais uma transa para ti.
Se estou arrependida? Não.   Pelo menos a minha primeira  vez foi com quem eu gostava e queria.
Podia ser um sexo casual mas felizmente não foi.
Agora cada um segue a sua vida como quer e pode.  Não nos devemos nada um ao outro.

Vamos manter relações exclusivamente laborais para o bem de todos.

- Eu não queria que fosse assim.  Não,  contigo.  Eu gosto muito de ti.

- Eu sei.  Mas não me amas, não é?  Ninguém é obrigado.
Na minha vida eu quero alguém que me dê tudo e não são bens materiais.   Isso eu consigo com o meu trabalho.

- Ainda podemos ser amigos?

- Colegas de trabalho já é suficiente.  Ainda mais és filho do patrão.
Preciso ir.

- Eu subo contigo.

O tempo que durou o regresso foi em absoluto silêncio.   À saída do elevador cada um seguiu em direcção oposta para a sua sala.

Juliette encarou Ivone de frente e apenas comentou:

- Muita imaturidade para um corpo gostoso.

Ivone concordou com ela.

Rodolffo sentado na sua secretária com as mãos apoiadas na cabeça deixou cair algumas lágrimas.

- Só faço merda.  E tinha que ser com ela?  Ela era a última pessoa que eu queria magoar.

Juliette foi passar o final de semana com Ivone.
Solteira por opção, esperava a aposentadoria para fazer o que mais gosta.  Viajar.

Convidou vários dos seus amigos e amigas para um churrasco afim de proporcionar a Ju um convívio saudável.

Todos gostaram muito dela, especialmente Gustavo.   Alto, bem parecido, torneado pela academia, parecia um Deus grego.

Juliette também teve boa conexão com ele.
Contava piadas e fazia-a rir.  Mas era   gay.  Não que isso fosse problema.   Em Itália,  Juliette tinha bastante convívio com a comunidade LGBT.

Juliette admirou Gustavo ao pormenor e pensou para si.  Que desperdício, este poderia fazer esquecer o outro.

Não o aproveitando de uma maneira ia aproveitar de outra.  Em relação a Rodolffo ela fazia-se de durona mas ainda não tinha jogado a toalha ao chão.  Queria-o mas o mais importante era que ele também a quisesse.

O Domingo terminou.  Juliette agradeceu a Ivone pelo final de semana e Gustavo aproveitou para pedir carona pois o seu carro estava na oficina.

- Vem, a tua casa fica na minha direcção, não tem problema nenhum.

Pelo caminho foram conversando sobre trabalho.
Surpreendentemente Gustavo conhecia Rodolffo.   Um relacionamento antigo com um amigo comum tinha-os posto no caminho um do outro.

- Já nos cruzámos por esses bares da vida.  Há muito que não o vejo.
Eu conheci a ex dele.  A que o traiu.

- Diz que ele ficou muito mal.

- Foi.  Vivia sempre bêbado.

- Nesse aspecto melhorou.  Está mais responsável.

- Tu gostas dele Juzinha?

- Muito.  Mas ele magoou-me.  Hoje só temos contacto profissional.

- Queres provocá-lo?  Eu ajudo.

- Quero.  Queres ir almoçar amanhã comigo?  Aparece lá na empresa.  Eu dou um jeito de não almoçar com a Ivone e vou almoçar contigo.  Às 13 horas.

- Lá estarei, lindo e cheiroso.

Na manhã seguinte, Ivone telefonou a Juliette.   Tinha surgido um imprevisto e não podia ir trabalhar.
O padrinho também não ia pois precisava passar por uns exames médicos.

Óptimo, pensou Juliette.  Caminho livre.

Às 13 horas desceu até ao restaurante onde Gustavo já se encontrava.  Fizeram o pedido e começaram a conversar entre risadas.

Rodolffo prevendo que Ju estaria ali entrou para almoçar e deu de caras com os dois.

- Que é que ela faz com aquele tipo? Pensou.

Como já o conhecia dirigiu-se a eles para o cumprimentar.

- Que surpresa!  Por aqui?
   Como estás,  Ju?

Gustavo levantou-se e estendeu a mão para Rodolffo.

- Prazer em ver-te.  Vim almoçar com a minha Juzinha.  Junta-te a  nós.

- Não quero atrapalhar.  Vou só comer qualquer coisa e regressar ao escritório.   Ju, o meu pai foi ao escritório hoje?

- Não.  Tinha exames médicos para fazer.

- Vou precisar de uns papeis do gabinete dele.  Depois passo lá para pegar.

- Melhor só quando ele estiver.

- É urgente.   Eu ligo para ele.

- Está bem.  Gu, vamos comer senão esfria.

-  Certo Juzinha.  Tchau Rodolffo.   Até qualquer dia.

- Tenham um bom almoço.

Rodolffo não almoçou, simplesmente saiu espumando de raiva.

Juliette e Gustavo olharam um para o outro e desataram a rir.

- Esse macho está caídinho por ti.  Escreve o que te digo.

- Agora para me ter tem que ralar muito e comer muito arroz e feijão.




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