Artur entrou no gabinete de Júlio todo risonho. Rodolffo chegou depois.
Cumprimentou todos com um bom dia a lançou um olhar a Juliette que não passou despercebido a Júlio e Ivone.
- Convoquei todos para anunciar as mudanças.
A partir de hoje Artur passa para o departamento internacional. Vais trabalhar com o Mateus, Director do departamento. Serás o seu braço direito. Todas as decisões deverão ter a sua aprovação.- E as fábricas, tio. Não posso largar as fábricas assim.
- As fábricas ficam todas com o Rodolffo.
- Não é justo. Eu é que comecei o trabalho. Posso resolver ao menos o problema das duas que eu deixei o relatório com o tio antes de viajar?
- Esse assunto já está em andamento. As reformas já iniciaram. Por agora és mais útil no departamento internacional.
Por falar nisso, quero saber tudo sobre a feira. No final desta reunião fica para conversarmos.Júlio havia descoberto que Artur se apropriou da verba requerida para as obras da fábrica e tinha planos para ficar com a outra também.
Precisava de ser afastado e começaria por colocá-lo sobre as ordens de outro director a quem já tinha pedido para ficar de olho.
- Rodolffo, alguma dúvida?
- Não, pai. Tudo certo.
- Então podem sair todos menos o Artur.
Saiu Rodolffo e as meninas e este aproveitou.
- Ju, podes tomar um café comigo?
- Antes que ela respondesse, Ivone falou.
- Vai, Ju. Eu seguro as pontas aqui.
Juliette seguiu à frente de Rodolffo e em silêncio entraram no elevador.
- Porque não me atendes o telefone?
- Simples. Não quero falar contigo. Só estou indo agora para não ter bate boca lá no escritório.
Entraram na cafetaria e sentaram-se numa mesa afastada.
- Sobre o que ouviste, talvez eu me tenha expressado mal.
- Não. Entendi muito bem. Não queres relacionamento nem compromisso. Não foi isso?
- Foi, mas não nesse sentido.
- Foi no sentido de que eu não passei de mais uma transa para ti.
Se estou arrependida? Não. Pelo menos a minha primeira vez foi com quem eu gostava e queria.
Podia ser um sexo casual mas felizmente não foi.
Agora cada um segue a sua vida como quer e pode. Não nos devemos nada um ao outro.Vamos manter relações exclusivamente laborais para o bem de todos.
- Eu não queria que fosse assim. Não, contigo. Eu gosto muito de ti.
- Eu sei. Mas não me amas, não é? Ninguém é obrigado.
Na minha vida eu quero alguém que me dê tudo e não são bens materiais. Isso eu consigo com o meu trabalho.- Ainda podemos ser amigos?
- Colegas de trabalho já é suficiente. Ainda mais és filho do patrão.
Preciso ir.- Eu subo contigo.
O tempo que durou o regresso foi em absoluto silêncio. À saída do elevador cada um seguiu em direcção oposta para a sua sala.
Juliette encarou Ivone de frente e apenas comentou:
- Muita imaturidade para um corpo gostoso.
Ivone concordou com ela.
Rodolffo sentado na sua secretária com as mãos apoiadas na cabeça deixou cair algumas lágrimas.
- Só faço merda. E tinha que ser com ela? Ela era a última pessoa que eu queria magoar.
Juliette foi passar o final de semana com Ivone.
Solteira por opção, esperava a aposentadoria para fazer o que mais gosta. Viajar.Convidou vários dos seus amigos e amigas para um churrasco afim de proporcionar a Ju um convívio saudável.
Todos gostaram muito dela, especialmente Gustavo. Alto, bem parecido, torneado pela academia, parecia um Deus grego.
Juliette também teve boa conexão com ele.
Contava piadas e fazia-a rir. Mas era gay. Não que isso fosse problema. Em Itália, Juliette tinha bastante convívio com a comunidade LGBT.Juliette admirou Gustavo ao pormenor e pensou para si. Que desperdício, este poderia fazer esquecer o outro.
Não o aproveitando de uma maneira ia aproveitar de outra. Em relação a Rodolffo ela fazia-se de durona mas ainda não tinha jogado a toalha ao chão. Queria-o mas o mais importante era que ele também a quisesse.
O Domingo terminou. Juliette agradeceu a Ivone pelo final de semana e Gustavo aproveitou para pedir carona pois o seu carro estava na oficina.
- Vem, a tua casa fica na minha direcção, não tem problema nenhum.
Pelo caminho foram conversando sobre trabalho.
Surpreendentemente Gustavo conhecia Rodolffo. Um relacionamento antigo com um amigo comum tinha-os posto no caminho um do outro.- Já nos cruzámos por esses bares da vida. Há muito que não o vejo.
Eu conheci a ex dele. A que o traiu.- Diz que ele ficou muito mal.
- Foi. Vivia sempre bêbado.
- Nesse aspecto melhorou. Está mais responsável.
- Tu gostas dele Juzinha?
- Muito. Mas ele magoou-me. Hoje só temos contacto profissional.
- Queres provocá-lo? Eu ajudo.
- Quero. Queres ir almoçar amanhã comigo? Aparece lá na empresa. Eu dou um jeito de não almoçar com a Ivone e vou almoçar contigo. Às 13 horas.
- Lá estarei, lindo e cheiroso.
Na manhã seguinte, Ivone telefonou a Juliette. Tinha surgido um imprevisto e não podia ir trabalhar.
O padrinho também não ia pois precisava passar por uns exames médicos.Óptimo, pensou Juliette. Caminho livre.
Às 13 horas desceu até ao restaurante onde Gustavo já se encontrava. Fizeram o pedido e começaram a conversar entre risadas.
Rodolffo prevendo que Ju estaria ali entrou para almoçar e deu de caras com os dois.
- Que é que ela faz com aquele tipo? Pensou.
Como já o conhecia dirigiu-se a eles para o cumprimentar.
- Que surpresa! Por aqui?
Como estás, Ju?Gustavo levantou-se e estendeu a mão para Rodolffo.
- Prazer em ver-te. Vim almoçar com a minha Juzinha. Junta-te a nós.
- Não quero atrapalhar. Vou só comer qualquer coisa e regressar ao escritório. Ju, o meu pai foi ao escritório hoje?
- Não. Tinha exames médicos para fazer.
- Vou precisar de uns papeis do gabinete dele. Depois passo lá para pegar.
- Melhor só quando ele estiver.
- É urgente. Eu ligo para ele.
- Está bem. Gu, vamos comer senão esfria.
- Certo Juzinha. Tchau Rodolffo. Até qualquer dia.
- Tenham um bom almoço.
Rodolffo não almoçou, simplesmente saiu espumando de raiva.
Juliette e Gustavo olharam um para o outro e desataram a rir.
- Esse macho está caídinho por ti. Escreve o que te digo.
- Agora para me ter tem que ralar muito e comer muito arroz e feijão.
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Soltem os fogos
FanfictionAs responsabilidades e compromissos para nós destinados levam-nos por vezes a atitudes das quais acabamos por não nos orgulhar. A história de um filhinho de papai milionário que precisou levar algumas lambadas para aprender o sentido da vida.