XIV

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Segunda-feira de manhã Juliette viajou a trabalho.  Antes teve uma reunião com Júlio.

- Promete que se vires algo de anormal te afastas imediatamente? Não quero que te aconteça algo como ao Rodolffo.

- E já chegaram a alguma conclusão?

- Temos quase a certeza que foi a mando de Artur.  Aquele cara que foi visto com ele esteve na oficina pouco antes de entregarem o carro ao Rodolffo.   Só ainda não conseguimos localizá-lo.

- Eu posso levar um amigo comigo?

Juliette sabia que se pedisse a Gustavo ele estaria disposto já que a vida dele era ociosa.

- Quem é esse amigo?

- Um suposto paquera.  Amigo da Ivone.  Mas não temos nada, padrinho.  Ele é gay.

- O Rodolffo conhece?

- Sim.  E morre de ciúmes.

- Entendi a ideia.  Vocês jovens são um caso à parte.  Dá-lhe logo outra chance.  O homem vive lá pelos cantos a suspirar.

- Mas atitude de homem não tem.  Deixe ele sofrer um pouco.
Eu amo-o mas quero que ele esteja certo do que sente por mim.  Sou paciente, espero o que for preciso ou não.
Talvez eu me canse mas não vou embarcar numa relação em que só um lado está 100% na relação.

- Está bem.  Leva o teu amigo.  Fico mais descansado e na hora do almoço vou cutucar a onça com vara curta.

- Padriiiinho!!!  Apesar de tudo ele é seu filho.

- Que eu amo muito, mas não deixa de ser besta.
E a Elisa, veio consigo?

- Sim.  Espero que se dê bem.

- Vou sair agora e passo na cafetaria para ver como está.

- Boa viagem filha.  Qualquer coisa, liga.

- Adeus, padrinho.

Juliette saiu e foi até à cafetaria.

- Bom dia meninas.  Bom dia Elisa,  como está a ser o primeiro dia?

- Bem.  Não é o trabalho que eu sonhava mas fazer o quê?

- Tem paciência.   Todo o trabalho é digno.  Quem sabe arranjas um melhor.

- Eu quero é arranjar um otário rico para não trabalhar.  Não vim da Argentina para trabalhar numa cafetaria.  Tu é que tens sorte. O meu tio e primo babam por ti.

- O que não impede de eu querer e gostar de trabalhar para não depender de homem nenhum.  Nunca deixaria de trabalhar por mais rico que fosse o meu parceiro.
Adeus, já vou.  Tenho um avião para apanhar.

Juliette partiu com Gustavo para o aeroporto e pelo caminho desbloqueou o número do Rodolffo.

Júlio chegou para almoçar.

- Que paz reina por aqui.

- Não é, meu pai?  Graças a Deus aquela tagarela arranjou uma ocupação.

- Ada, mas ela vai ficar aqui para sempre?  Está na hora de arranjar um lugar para morar.  Eu até posso arcar com a despesa do aluguel mas por favor, livra-nos deste pesadelo.

- É realmente ela é cansativa.  Até eu já não a suporto.   Sempre a intrometer-se em tudo.

- E Juliette pai, viajou?

- Sim.  Agora de manhã.

- Não podias, pai. Ela vai estar em perigo.

- Que perigo?  E depois vai estar acompanhada.   Não há-de acontecer  nada com a minha guerreira.

- Como acompanhada?  Quem foi com ela?

- Um tal de Gustavo que ela diz ser amigo.  Ela é que pediu autorização para ele ir também.

Rodolffo estava com um copo de àgua na mão que foi imediatamente arremessado para o chão.

- Vagabundo.  Eu mato aquela bicha afrontosa.

- Bicha, que bicha?

- O Gustavo.  Eu conheci-o como sendo gay e agora com a Ju intitula-se bi.

- Quem diria.  Mas olha que eu vi-o chegar para buscar ela e pareceu-me um homem super elegante e másculo.

- Até já vai lá buscá-la?  Quão avançado vai o caso deles?

- Rodolffo,  eu não te entendo.  Não foste tu que causaste isto tudo?  Querias que ela fosse para freira?

- Pai, empresta-me o teu celular.
Vou ligar para ela.

- Ainda não devem ter aterrado.  E o teu?

- Ela bloqueou o meu número.

- Toma.  Manda mensagem.

Rodolffo estava furioso.  Escreveu uma mensagem no celular do pai.

- Aproveita bem a lua mel
  Estou com o coração partido mas cuida-te

Enviou a mensagem e depois apagou-a.

Já era noite quando Juliette no hotel leu a mensagem.  Sorriu e mostrou a Gustavo.

- Esse homem vai ter um colapso.

Já Rodolffo no seu quarto não conseguia dormir.  Passou os olhos pelo celular quando viu que Juliette o tinha desbloqueado.

- Oi.  Obrigado por me desbloqueares.  Está tudo bem?

- Sim. E aí?

- Não.   Tinhas que viajar com ele?

- Porque não?  É meu parceiro.

Amor, vem tomar banho! - ouviu-se ao longe.

- Até amanhã Rodolffo.  Preciso ir.

- Não  faças isso comigo, por favor!

- Fazer o quê?

- Eu te amo.  Fui um idiota mas eu te amo.

- Preciso ir, de verdade.  Tchau.

A ligação terminou,  Rodolffo deitou a cabeça na almofada e pela primeira vez chorou como um menino.
Relembrou tudo o que fez com ela naquela semana intensa e que agora ela faria com outro.

Após muito chorar, finalmente adormeceu.

Na manhã seguinte, acordou a tempo de tomar café com o pai.

- Que cara é essa filho?  Tens olhos de ter chorado.

- E chorei.  Ontem falei com a Ju.

- E então?

- Deixa pra lá.  Vou contigo para o escritório.   Prometo não fazer muito esforço mas ficar aqui vai deixar-me doido.

- Está bem, mas ficas comigo no meu gabinete.  Assim posso vigiar-te.
Podemos discutir umas alterações que eu quero fazer.

- Mas a Ju não te tinha bloqueado?

- Sim, mas ontem desbloqueou-me.  Antes não o tivesse feito.

- Vamos.  Espero por ti no carro.
E l i s a!

- Estou aqui, tio.  Estava a lavar os dentes.

- Vamos embora.  O dever espera-nos.




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