A viagem de Ju tinha corrido muito bem. Ela desenvencilhou-se extraordinariamente com as demandas em curso.
Depois daquela noite nunca mais falou com Rodolffo. Era mais uma característica dele. Se as coisas não corriam de feição, fechava-se numa concha.
Três meses depois a relação dos dois não havia progredido. Pelo contrário. Continuavam a conversar apenas sobre questões de trabalho.
Gustavo continuou a fazer parte da vida da Ju. Jantaram e saíram algumas vezes e nada mais que isso.
Só Rodolffo via além.Ju chegou ao escritório para uma reunião de emergência que Júlio tinha convocado.
Estavam na sala grande o que já de si mostrava que o assunto era sério.
Júlio, Rodolffo, Artur, Mateus e os demais directores além de Ivone e Juliette, estavam todos presentes.
Júlio tomou a palavra.
Hoje vamos resolver assuntos do interesse de todos.
1 - Esta empresa tem como accionistas: eu com 51% das acções, Rodolffo que recebeu da mãe 47% e Artur com 2%.
2 - Eu como accionista maioritário tenho até à data tomado as decisões, até porque só recentemente o Rodolffo entrou a sério no trabalho.
Houve um tempo em que pensei que o meu substituto poderia ser o Artur visto Rodolffo não se interessar muito pela empresa.
Quando eu criei as duas àreas das fábricas para que os dois gerissem, era simplesmente para determinar quem tinha mais capacidade.
A àrea do Rodolffo ao fim de seis meses duplicava a produção enquanto a do Artur estagnou e houve fábricas que reduziram a produção simplesmente porque não havia equipamento.
Hoje, todas elas estão a laborar no seu máximo e o melhor de tudo, com funcionários satisfeitos.
Artur, balneários e refeitórios dignos são o mínimo que se pode dar a quem nos dá o seu melhor.
Equipamentos que funcionem são fundamentais.O Rodolffo detectou logo na primeira visita essas anomalias e resolveu, já tu demoraste para fazer a visita e por ti estava tudo bem apesar de sabermos das reclamações que te foram expostas.
Apresentaste um orçamento para uma das fábricas com uma verba altíssima. No entanto nenhum real desse valor foi investido ali.
- Tio, eu posso ...
- Deixa-me terminar. Depois todos terão a palavra.
Mandei-te para Portugal simplesmente porque queria ver porque as tuas fábricas não produziam mas também não tinham necessidades, segundo tu.
O relatório que me trouxeste da feira não tinha conteúdo e eu até duvido que tenhas lá estado. Outro representante forneceu um relatório completamente diferente.
Eu vou aposentar-me e Rodolffo tomará o meu lugar em breve mas antes disso acontecer vou proceder à algumas remodelações.
Saibam os outros departamentos que estamos satisfeitos com o vosso desempenho.
Agora cada um pode dar o seu depoimento. Artur contigo eu falo a sós no final.
Mateus - Por mim eu não tenho nada a dizer. Se o chefe está satisfeito é porque estamos no bom caminho. A única reclamação é que gostava de não ter Artur no meu departamento. É um mau exemplo para os outros e vale-se de ser seu sobrinho.
Os outros directores concordaram com Mateus.
- Está terminada a reunião. Fiquem Rodolffo, Artur e as meninas. O resto pode sair. Obrigado por tudo.
Agora, Artur podes falar.
- Tio, nas fábricas eu ainda estava a ver o que estava mal. Eu até deixei os 2 relatórios antes de ir para Portugal. Confesso que demorei tempo demais mas eu ia fazer.
- Ias era extorquir-me. Para onde foi o dinheiro que era para a fábrica? Não mintas que eu vasculhei toda a tua vida.
Não tem perdão. Tratei-te sempre como um filho e a tua paga foi contratares um bandido para sabotar o carro que podia ter causado a morte de Rodolffo.
Sim. Sabemos tudo. O teu capanga está preso e confessou tudo.
- O Rodolffo intrometeu-se nos meus planos. Era para isto ser tudo meu. Porque é que ele não ficou lá mergulhado na cachaça?
Porque é que ele tem tudo e eu nada. Até a Juliette se encantou por ele e me desprezou. Eu te odeio. Devias ter morrido naquele carro.
- Miserável, eu acabo contigo - gritou Rodolffo que foi segurado pelo pai.
- Deixa filho. O dele está guardado.
Júlio pediu a Ivone a pasta que ela segurava e disse para Artur.
- Tens duas hipóteses. Venderes-me os teus 2% de acções ao preço justo do mercado, e olha que é muito dinheiro, e deixares o País. Tens aqui bilhete de avião para a Argentina. De lá vai para onde quiseres, ou;
Ficares e ir preso por apropriação indevida de valores e tentativa de homicídio.
Viram dois policiais na entrada? Ou te levam para o aeroporto ou para a prisão. Escolhe. E nem vou querer o dinheiro que roubaste. Considera como uma compensação pelos anos que realmente estiveste dedicado.
Porque eu reconheço que no início eras exemplar. A ganância destruiu-te.- Eu vou embora do País.
- Assina a venda das acções. O dinheiro vai imediatamente para a tua conta. Fome não passarás. Só faço isto por seres meu sobrinho. Se fosse outro, tomava-lhe as acções e metia-o na prisão.
Os policiais vão acompanhar-te a casa e ao aeroporto. Se tentares regressar serás preso na hora.
- Vamos. Eu acompanho-te até aos policiais.
Depois de Artur ser levado pela polícia, Júlio regressou à sala.
Agora vamos a questões só nossas.
- Ivone, há cerca de 30 anos que trabalhas comigo. Como compensação as acções do Artur ficarão para ti.
- Rodolffo, tu ficas com os meus 51%, eu fico com 27%, Juliette com 10% e a mãe com 10%.
Eu não quero a mãe fora da empresa apesar dela não ligar.- Eu concordo com tudo. Pensei que tu ias ficar com a maioria.
- Não. Tu tens decisões para tomar, precisas da maioria.
- Está bem. Estou satisfeito com as minhas sócias.
Ivone estava lavada em lágrimas. Aquelas acções iam proporcionar-lhe uma velhice descansada.
- Primeira medida do accionista maioritário.
- É obrigatória a presença de todos os accionistas pelo menos uma vez no mês para um almoço a 5.
Que fique em acta.Todos riram e concordaram.
- E para começar, eu vou raptar esta accionista para almoçar e ter uma conversa de pé de orelha.
- O quê? Mas não eram os 5?
- Hoje não. - Rodolffo segurou a mão de Juliette, pegou na bolsa dela e saíram.
Júlio e Ivone olharam um para o outro e sorriram.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Soltem os fogos
FanfictionAs responsabilidades e compromissos para nós destinados levam-nos por vezes a atitudes das quais acabamos por não nos orgulhar. A história de um filhinho de papai milionário que precisou levar algumas lambadas para aprender o sentido da vida.