VIII

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- Juliette, veja com o RH se há alguma vaga na empresa.  Não precisa ser cargo de responsabilidade pois a pessoa em questão não possui habilitações.   No máximo pode ser recepcionista.

- Concerteza padrinho.

- A tia Ada inventou de dar guarida a uma sobrinha argentina e agora eu que me vire.

- E qual a idade dela, só para eu ver nas vagas que houver?

- Ah,  sei lá!  Talvez da tua idade.  É tão chata que nem perguntei.  Ainda bem que eu tinha o Rodolffo ontem lá em casa para jantar.  Oh mulher tagarela.

Juliette soltou um sorriso amarelo que não passou despercebido a Júlio.

- Não te preocupes que ela não é pareo para ti.

- O quê padrinho?

- Nada,  Ju.  Vai lá ver o que te pedi e liga ao Artur e ao Rodolffo que eu quero falar com os dois.

Ela assim fez.  Depois dos telefonemas foi indagar com o RH sobre as vagas existentes.

Artur  e Rodolffo chegaram ao mesmo tempo ao gabinete de Júlio.

- Sentem-se que temos um assunto importante para resolver.
Como está a laboração das nossas fábricas.

- Da minha parte estou satisfeito, diz Rodolffo.

- Da minha também,  Artur falou.  Precisei fazer mudanças mas tudo corre bem.

- Óptimo.   Então é o seguinte.  Como sabem aproxima-se a feira Internacional.  Este ano é em Portugal onde a àrea da confecção está enraizada.   Eu não me sinto com disposição para ir  então vou mandar um de vocês.

- Pai, eu neste momento não queria ir.  Tenho um projecto em execução e não me convém largar.

- Bom.  Eu tenho tudo muito bem estruturado, tio.  Quinze dias longe das fábricas é como se estivesse aqui na sede, então disponibolizo-me para ir representar a empresa.

- Não há problema para tu se for o Artur,  não é Rodolffo?

- Não pai.  Confesso que me sabiam bem umas férias mas agora  não dá mesmo.

- Eu não vou de férias.  É trabalho.

- Então está resolvido.  Artur, prepara tudo.  Partes na próxima segunda feira. Podes ir.

Rodolffo, tu fica porque temos um assunto lá de casa para resolver.

Juliette já tinha regressado.   Artur saiu com um sorriso de orelha a orelha.  Rodolffo foi fechar a porta e piscou-lhe o olho.

- Não deixes ninguém incomodar-nos.

- Caminho livre Rodolffo.   O Artur afastado quinze dias e tu vais fazer a ronda pelas fábricas dele em especial nesta para a qual ele pediu uma verba para investir.

- E depois quando ele voltar? 

- Eu resolvo depois.  Para já o objectivo é ver o que ele anda a tramar.

- Está semana eu ainda preciso viajar para acompanhar duas das minhas fábricas.  As outras já estão a laborar 100%.

- Desculpa sobrecarregar-te. 

- Não faz mal.  Vou arranjar uma secretária particular, kkk.

- Olha, já me esquecia.  A tua mãe pediu-me para arranjar uma vaga aqui para a Luísa.

- Ah, meu pai!  Por amor da santa. Quem vai tolerar aquela mulher?

- Nem me atrevo a contrariá-la.   Já pedi à Ju para ver isso.

- Eu nem vou dar a minha opinião.  Desde que ela fique longe de mim.
Já vou pai.

Rodolffo saiu, passou pela secretaria da Ju e deu-lhe um beijo no rosto.
Jantar hoje? Sussurrou.

- Rodolffo!  Estás no trabalho.

- Sim?  Na tua ou na minha?

- Na minha, murmurou ela.

Rodolffo soltou mais um beijo no ar e saiu.

Do seu gabinete, através da janela de vidro, Júlio assistiu à cena e sorriu.

Deixou que ela recuperasse do momento e chamou.

- Juliette vem cá.
Fizeste o que eu pedi?

- Sim.  Só tem vaga na cafetaria e dentro de um mês na recepção pois a recepcionista actual vai de licença de maternidade.

- Na cafetaria está óptimo.  Muito melhor que o anterior trabalho dela.

- E qual era?

- Deixa pra lá.  Juliette, qual a tua disponibilidade para viajar?

- Como viajar?  Para onde?

- É um assunto que eu estou a pensar ainda.  Depois falamos melhor sobre.

Artur que nesse preciso momento vinha a entrar ouviu esta parte da conversa.
- Será que ele quer mandá-la comigo? Ah, Juliette se for isso, tu vais comer na minha mão.

- Tio!  Eu tinha-me esquecido de trazer um relatório de custos para duas das outras fábricas.  Os directores só agora me enviaram.

- Deixa aí Artur.   Eu vou analisar e quando regressares de Portugal vemos isso.

- Obrigado tio.  Já vou.

Às 20 horas Rodolffo chegou a casa de Ju com um buquê de gerberas e uma caixa de bombons.

- Flores para a mais linda flor.

- Bajulador.  De certeza dizes isso à todas.  Até à prima.

- Deus me defenderai.  Essa mulher é um saco.

Rodolffo abraçou Juliette e deu-lhe um selinho demorado.

- Estou a pensar saltar o jantar e passar logo à sobremesa.   Que tal?

- Não tem sobremesa.  Não fiz.

- E este bombomzinho aqui, diz abraçando-a por trás e beijando-lhe o pescoço sentindo o corpo dela ficar arrepiado.

- Deixa de inxerimento.  Vamos comer.

- Diz que não tens vontade?  Somos adultos Ju.  Solteiros, desimpedidos, o que nos impede?

- Para ti é fácil e normal.  Para mim não.

- Porquê?  Também te magoaram no passado?  Traumas?

- Não.  Prometes não rir?

- Porquê?  Qual a graça?

- Não  tem graça, mas, eu nunca ...

- Tu nunca quê?

Rodolffo olhou demoradamente para  Juliette que estava com o olhar no chão com vergonha.
Não é possível.  Ela é virgem? pensou e não teve coragem de perguntar mais nada.

- Vamos jantar.   Afinal foi para isso que eu vim.

O ar ficou um pouco pesado mas dois copos de vinho depois e a tensão já tinha aliviado.

Conversaram sobre muitas coisas sem abordar o tema principal.

Rodolffo despediu-se com um beijo mais intenso que o habitual e foi embora.

Soltem os fogosOnde histórias criam vida. Descubra agora