Capítulo XIII
Ebellaine estava no gabinete, na presença do seu marido, olhando o projeto da reforma do palácio. Enquanto ele estendia a planta enorme sobre a mesa. A jovem sentada ao redor da mesa observava a empolgação do marido. Os olhos azuis do senhor Jordan brilharam quando ele exclamou com alegria.
-Mudarei tudo!
Porém, Ebellaine interferiu no assunto com ingenuidade.
-A decoração é linda, acho desnecessária essa‒
O esposo a interrompeu, impedindo que ela prosseguisse com sua opinião insignificante. Para o anfitrião, ela apenas estaria gastando as suas cordas vocais, tentando convencê-lo de algo que já estava determinado em sua mente. Ele jamais precisaria do conceito dela para alguma coisa em sua vida.
-Será necessária à reforma deste local. Eu não agüento mais ver todos os dias as mesmas coisas, os mesmos objetos,... Desde pequeno, já estou farto!
A sua voz engrossou no final da frase e em seguida a voz de sua companheira chegou aos seus ouvidos com o timbre oposto.
-Se assim o desejas...
Allen Jordan a encarou com petulância, arqueando uma das sobrancelhas. A intromissão alheia o irritava sempre. E se ela viesse dos lábios de Ebellaine, isso simplesmente triplicava esse sentimento dentro dele.
-A senhora falas como se a sua opinião valesse de alguma coisa para interferir nos meus planos.
Continuou a fitando no rosto e imediatamente a jovem curvou a cabeça. Se sentindo incomodada com aquele olhar hostil.
-Eu jamais me ousaria interferir nos planos do senhor.
Ele quase saltou de alegria em sua cadeira.
- Ótimo! Se não te suporto imparcial, imagina se fosses entrona.
Por fim, a moça ergueu a cabeça e acabou olhando na direção do seu marido. Ele ainda permanecia sério. Os seus lábios estavam rígidos.
-O senhor não gostas mesmo de mim. Por que odeias tanto minha pessoa?
Ele quase sorriu com ironia. Erguendo os braços e olhando ao redor de seu gabinete.
-O fato de ter você ao meu lado, nomeada a minha esposa, já é o bastante para eu obter tal sentimento por ti.
Logo ela rebateu com a sua opinião contrária.
-Por ser nomeado o meu consorte, mesmo contra a minha vontade, ainda assim eu não carrego algum ódio pelo senhor.
Ele acabou rolando os olhos, enquanto olhando para cima. O teto claro do recinto estava ornamentado com desenhos barrocos.
-Só faltava essa! És apaixonada por mim!
A voz de Ebellaine prontamente o afrontou.
-Engano senhor! Eu não tenho tal sentimento por sua pessoa.
O jovem deixou um profundo suspiro de propósito.
-Fico aliviado! Uma dama apaixonada, não sendo correspondida é um contratempo terrível!
Afirmou ele, arqueando as duas sobrancelhas e em seguida embrulhou o projeto sobre a mesa. Os seus dedos enrolaram o papel com impaciência. Ele parecia farto de ver tantos rabiscos em sua frente.
Mas Ebellaine continuou dizendo do outro lado da mesa. O tom de sua voz havia diminuído bastante.
- Apresento tal sentimento por outro... cavalheiro.
Desabafou a jovem, receosa depois de ter feito a confissão. Mas o seu esposo não parecia surpreso. Simplesmente ele relaxou na cadeira, depositou o cotovelo sobre o braço de seu assento e esfregou as costas de sua mão em um dos lados de seu queixo. O seu olhar era frio e indiferente na direção de sua consorte.
-Quem é o infeliz?
-Alguém muito especial.
Respondeu apaixonada.
-O nome?
-Não sei, ele não me disse o seu nome.
-Amas um estranho?
Ele pareceu surpreso agora.
-Sim.
Allen Jordan gargalhou diante de tal declaração. Ele não conseguia controlar o seu deboche diante dessa situação cômica.
-Do que o senhor estás rindo? - Se irritou com tantas gargalhadas burlescas contra ela.
-Essa é a coisa mais imbecil que eu já ouvi em toda minha vida.
Respondeu-a, após ficando sério.
-Tudo porque envolve o amor?
Indagou indignada.
-Está apaixonado torna um ser humano boçal.
-O torna encantador. -Debateu.
Nesse instante ele deu-a uma olhada bisbilhoteira, começando pela região dos seios e terminando na face jovial dela. Nem mesmo o decote suave de seu vestido o atraía.
-Estás apaixonada e eu ainda não te acho encantadora.
Disse ainda a observando com ardor e escarnecimento. Ebellaine conhecia muito bem aquele olhar irônico de seu marido. Ele sabia fazê-lo tão bem.
-O senhor tens muito que aprender sobre sentimentos.
-E serás a senhora a educadora? –Ironizou como sempre, enquanto o seu olhar correu o recinto.
-É perda de tempo. - Ficou brava com ele. - És um grosso! Um ignorante! Um insensível! Que julga mal a coisa mais bela do mundo o 'AMOR'.
Prontamente ele levantou-se e ficou de frente a jovem, que levantara amolada com a falta de bom senso do marido.
-Como ousas me insultar dessa forma?
Ebellaine ficou aterrorizada ao vê-lo tão próximo e tão enorme diante dela. Ela olhou para cima, com os olhos redondos e viu mais de perto o formato do rosto dele.
-Se afastas de mim! És um monstro! - Gritou, pensando que ele fosse machucá-la.
-Estás histérica! Maluca! Doida!
Enfim, ele afastou-se dela e voltou a sentar-se na cadeira ao redor de sua mesa.
Ebellaine girou ao redor e saiu do gabinete às pressas, deixando a porta aberta. No temor, ela havia se esquecido de fechá-la.
Joana veio em seguida, ao ouvir os gritos de sua senhora pelo corredor do palácio.
-O que houveste senhora? Ouvi os gritos! -Questionou quando a avistou, deprimida e apoiada à parede do corredor.
Assim que a criada se aproximou, Ebellaine a abraçou, tremendo dos pés a cabeça. A sensação ruim ainda estava dentro dela.
-Fiquei com medo. - Fechou os olhos sobre o ombro de Joana. -Pensei que o senhor Jordan fosse levantar a mão contra mim.
Porém, Joana replicou com garantia de suas palavras.
-Ele não seria capaz disso, o conheço bem, bater em mulheres não é do seu feitio.
=
VOCÊ ESTÁ LENDO
Casamento arranjado: Parte II (Degustação)
RomanceSEGUNDA PARTE DISPONÍVEL À VENDA NA AMAZON. Parte II Século XIX A maioria dos casamentos, na alta sociedade, eram arranjados, com o intuito de beneficiar ambas as famílias. Não colocando em conta as vítimas dessa imposta união. Os escolhidos eram o...