O tempo passa devagar.
O garoto ainda estava sentando ao meu lado. O observo com curiosidade não deixando de olhar para suas mãos sujas de sangue. Mas será que era isso mesmo ? Será que não é tinta vermelha ou algo do tipo ?
Encosto minhas costas na cadeira e inclino meu olhar para o teto imitando o garoto. Lembrei de como ele estava transtornado quando chegamos no posto, estava batendo a cabeça contra a parede.Deveria perguntar a ele o que aconteceu.
Me ajeito na cadeira, e me viro para o menino, os seus olhos marejados miram os meus. Abro minha boca pronto para falar, mas sou interrompido pelo velho doutor, que finalmente saiu da sala.
Ele parece se assustar ao me ver, por um instante poderia jurar que via seu corpo estremessendo.
- Olá jovens, estão esperando notícias do garoto que chegou ainda agora ?
Fizemos que sim com a cabeça.
- Certo, a situação dele é instavel. Apesar do corte na cabeça ele está bem, fiz aquele mesmo procedimento nele - disse apontando para mim- até agora ele não acordou.
- E quando ele acorda?!- indagou o menino dando um pulo da cadeira.
O médico deu de ombros e começou a andar até outra sala, logo voltou-se a nós e nos disse que poderíamos ver o rapaz.
Como tudo naquele posto era desorganizado, qualquer um poderia ir ver o paciente, a menos que ele não tenha parado ali por uma tentativa de assassinato fracassada.Suspirei, buscando me acalmar.
Andamos pelo corredor até o quarto onde estava o Rapaz. O menino já não se incomodava com a minha presença, ou talvez sim, mas disfarçava.
Sobre passos curtos e lentos olhava atentamente para aquele corredor, não me recordo de ser tão assustador assim.
Suas paredes que deveriam ser brancas, estão acinzentadas pela sujeira, havia alguns riscos nelas além de casas de marimbono. O chão estava com seus azulejos encardidos.
Era um corredor estreito e mal iluminado e toda aquela atmosfera parecia ser de algum filme de terror. As paredes o teto o chão. Parecia que a qualquer momento iria sair de lá uma monstruosidade e nos puxar para dentro.
- Acho que o corredor quer matar a gente - acabei falando alto, o menino se virou com os olhos arregalados e eu me senti idiota por ter dito isso a ele, era óbvio que estava com medo.
- m-matar? - dizia com a voz trêmula.
" Vamos idiota, diga outra coisa estúpida na frente de uma criança "
- esqueça o que eu disse - falei abrindo um sorriso amarelo.
Voltamos a andar até chegarmos na sala. O menino apressou-se indo até a cama onde o rapaz estava deitado. Eu por outro lado mantive a distância.
Naquele momento não sabia o que fazer. Se ele não acordasse teria que interrogar o garoto ? Eu nem tinha certeza se o garoto sabia de algo, se estava no momento em que o rapaz se machucou. Iria mesmo questioná-lo?
Se bem que as manchas de sangue em suas mãos estavam bem suspeitas e isso estava me incomodando.
Suspirei lentamente. Minha cabeça estava extremamente cansada.
O menino voltou sua atenção para mim, e assim, como se estivesse lendo minha mente perguntou
- O quê vai fazer agora moço ?
- O que vou fazer ? Bem eu não sei.
Virou seu rosto para o lado e não me disse nada. Ainda que eu estivesse comovido pela situação do garoto, e respeitasse a dor dele eu não podia mais ficar calado.
- O que é isso nas suas mãos? - disse quase em um susurro.
Ao ouvi minha pergunta seu corpo estremeceu. Ele ficou pálido e não parecia conseguir responder. Mas eu precisava de uma resposta.Seus olhos castanhos me seguiam ao passo que me aproximava. Peguei suas mãos e olhei mais perto , ele as puxou de volta rapidamente.
Mas as vi um pouco melhor, agora tenho certeza que era sangue.
Ele olhou bem no fundo dos meus olhos esperando que eu dissesse alguma coisa. Mas não disse nada. Apenas me afastei e sentei em uma cadeira perto da cama. Deixei que ele tirasse suas próprias conclusões sobre o que eu havia pensado ao olhar as suas mãos ensanguentadas.
Pode parecer que estou fazendo uma tortura piscicologica com o garoto. E pode ser que seja isso mesmo, mas não saio daqui sem que me dê uma resposta.
O menino franziu o senho. Seus olhos chorosos me analizavam emquanto os meus simplesmente miravam o rapaz deitado. Estava quase cedendo, iria jogar tudo por ar e dizer que ele não precisava falar nada. Mas ele foi mais rápido.
- Nos estávamos só brincando.
Olhei para ele arqueado uma sobrancelha.
Ele continuou
- Na verdade eu estava brincando. Com meu cachorro. Lá na mata perto da casa que era do seu Valdemar. Ele tava lá atrás conversando com alguém.
Cheguei mais perto dele e perguntei o que tinha acontecido.
- Ouvi som de tiro. Ele me pediu pra correr. E corri. Acabei me machucando.
Ele falava cada frase pausadamente.
- Atiraram em você?!
- Não. Tinha muito mato na frente quando eu tava correndo, cortei minhas mãos em alguns tentando tirá-los da minha frente.
- Entendi. Mas me diga, você viu o que aconteceu com seu amigo ?
Fez que não com a cabeça - quando dei conta, ele já tava no chão _ ao terminar a frase seus olhos se encheram de lágrimas.
Analisei as informações do garoto ali mesmo. Ele falou em tiros, mas esse rapaz não foi baleado, e, pelo que parece ele não tem nenhum outro machucado fatal, tirando esse da cabeça. Isso é estranho, se a intenção era matá-lo, era mais facil da um tiro na cabeça , do que um golpe.
E se não quisessem matá-lo? Bem que outro motivo teriam para fazer tal coisa ?
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Rubra (Revisando)
Mystery / Thrillerem uma cidade do interior um rapaz é encontrado desmaiado..ao acordar descobre que está sem memória..e tenta a recuperar . com ajuda do seu novo amigo Lucas ele vai desvendado os mistérios que assombram seu passado. *** Capa sujeita a mudança.