Capítulo 4 - O Jardim das Revelações

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O silêncio que pairava entre nós era quase palpável, um manto denso que tornava cada respiração mais difícil de suportar. A atmosfera carregada de tensão parecia ter raízes profundas, e eu me apressei a terminar meu café, como se a rapidez pudesse me libertar dessa prisão invisível.

— Com licença, irei me retirar da mesa — anunciei, levantando-me da cadeira com uma sensação de alívio iminente. Comecei a me afastar, mas minha mãe, com um gesto imperioso, interrompeu meu escape.

— Espere um momento — disse ela, com uma voz que carregava uma determinação inabalável. — Gustav irá acompanhá-la até o jardim para que possam... conversar. Ponham a conversa em dia.

Aquelas palavras foram acompanhadas por um sinal para que Gustav se levantasse. Ele obedeceu prontamente, levantando-se com uma expressão que tentava equilibrar a educação com um toque de nervosismo. Aproximou-se de mim, seu olhar pedindo permissão enquanto estendia a mão para a minha.

— Posso segurar sua mão? — Sua voz era suave, quase cautelosa.

Olhei para minha mãe, que nos observava com uma expectativa sutil, e depois voltei a encarar Gustav.

— Claro — respondi, minha voz vacilante.

A mão dele era quente e áspera, e eu não tinha certeza se o suor que senti era dele ou meu. O toque era inesperadamente reconfortante, e eu percebi que, apesar das minhas reservas, a sensação não era tão ruim quanto eu imaginara.

Guiando-o até a porta que dava para o jardim, percebi que Gustav observava com curiosidade os objetos ao longo do caminho: pinturas, vasos rústicos e uma coleção de estatuetas de madeira de cerejeira, cuidadosamente expostas em uma cristaleira. Minha mãe tinha um orgulho imenso de sua coleção, um símbolo de status e ostentação.

Abrindo a porta de vidro, revelamos o jardim exuberante do lado de fora. O sol brilhava em um céu quase sem nuvens, e o perfume das flores — rosas, brancas e amarelas — preenchia o ar. Nenhuma flor vermelha, pois minha mãe insistia em cortá-las para manter a estética do jardim.

— Então... — Gustav começou, apertando minha mão um pouco mais firme, tirando-me de meus pensamentos. — Onde você estava ontem?

— Como? — Perguntei, confusa, arqueando as sobrancelhas.

— Ontem. Você mencionou que iria colher frutas silvestres no bosque, mas sua cesta estava vazia.

Eu me lembrei então da cena embaraçosa com o lobo — ou melhor, o garoto — e percebi que não havia colhido muitas frutas. Meu cérebro corria para encontrar uma desculpa convincente.

— Bom, eu acabei me perdendo enquanto procurava pelas frutas e, no final, não encontrei nenhuma — disse, tentando esconder um riso nervoso.

— Entendo, só achei estranho. Pensava que você conhecia a floresta como a palma da sua mão — ele me olhou com um olhar penetrante.

Sua observação fez o ambiente ao nosso redor parecer ainda mais íntimo, e eu me perguntei como ele sabia tanto sobre mim. Minha mente se encheu de desconfiança: talvez ele fosse realmente perspicaz, ou talvez alguém da casa tivesse informado a ele. Minha mãe não era conhecida por manter segredos.

— Você gostou da capa que eu lhe dei? Gostaria de vê-la usada mais vezes — ele disse, o sorriso em seus lábios aparentando sinceridade.

— Eu gostei — menti, — mas acho que ela seria mais apropriada para ocasiões especiais.

— E isso não é uma ocasião especial? — Seu tom era de um misto de expectativa e desilusão.

— Não é que não seja especial — comecei, tentando encontrar as palavras certas —, mas pensei que não era para "esse" momento. Entende?

Observei seu rosto enquanto ele processava minhas palavras. Seus olhos verdes brilhavam como as folhas frescas na primavera, e o sorriso que surgia em seus lábios era suave e quase encantador.

— Entendo, é que me esforcei muito para fazê-la. Queria vê-la usando-a.

Ele soltou minha mão e segurou a outra, entrelaçando nossos dedos. Aproximou-se ainda mais, e eu senti um turbilhão no estômago. Havia uma tensão no ar, e eu me perguntei se ele realmente estava prestes a me beijar.

— Sabe que sempre pode contar comigo, certo? Seremos noivos em breve, e não quero que me odeie. Eu realmente me apaixonei por você, mais do que imagina — seu olhar estava cheio de uma intensidade que me deixou sem palavras.

O brilho em seus olhos era cativante, e, embora eu não correspondesse aos seus sentimentos da mesma forma, algo estava mudando dentro de mim. Meu coração acelerava, como nas páginas dos romances que costumava ler antes de dormir.

— Não é que eu te odeie. É só que... não estou pronta para me casar. Preciso de mais tempo. Foi tudo tão inesperado. E nós nem nos conhecemos direito — minha voz tremia ao expressar minhas preocupações.

— Teremos muito tempo para nos conhecermos melhor. Até lá, você poderá me dizer o que realmente sente. Não quero que se sinta pressionada com o casamento arranjado. Sei que sua mãe deve estar te perturbando — ele disse, com uma compreensão que parecia sincera.

— É, você não está errado — murmurei, olhando para o chão.

Sua mão direita se soltou da minha e ergueu meu queixo, trazendo meu rosto mais perto do seu. O calor de seu toque me fez sentir um frenesi inesperado. Ele realmente estava prestes a me beijar?

— Sabia que sua expressão agora é extremamente adorável? — Seus olhos estavam fixos nos meus, e eu podia sentir o ritmo acelerado do meu coração.

— Hm?!...

De repente, uma voz familiar soou ao fundo, e sem pensar, empurrei Gustav para longe, interrompendo o momento que estava prestes a se concretizar.

— Ally!! Tenho algo para te contar! Onde você está?

Olhei para trás e vi Catherine se aproximando, acenando para chamar minha atenção.

— Estou atrapalhando? — Catherine perguntou, sua expressão um pouco envergonhada.

— Claro que não — Gustav respondeu, sua voz carregada de um tom sarcástico e um leve desalento.

— Sendo assim, vou roubar minha amiga de você. Se me der licença.

Catherine segurou meu pulso e me puxou, afastando-nos de Gustav e nos levando para um canto mais reservado do jardim.

Eu tinha muito a agradecer a Catherine por me salvar daquele momento constrangedor. Mal podia acreditar que estava tão perto de um beijo que eu não estava preparada para dar.

— Você me salvou — disse eu, com um suspiro de alívio. — Vou te dever uma.

Catherine sorriu, compreendendo perfeitamente a situação.

— Não se preocupe com isso. Vamos aproveitar o jardim e deixar esse momento para depois.

Enquanto caminhávamos para longe de Gustav, eu não conseguia deixar de pensar no que acabara de acontecer. A experiência havia sido um misto de desconforto e confusão, mas também de uma emoção inesperada. O que o futuro nos reservava ainda era incerto, mas uma coisa era certa: eu estava prestes a enfrentar desafios e decisões que definiriam o rumo da minha vida.

《•••》

NOTAS DA AUTORA

E ai, cambada! Como estão? Espero que bem. Cá está mais um capítulo fresquinho, direto do forno para vocês. Desculpe a demora para postar, minha cabeça estava uma bagunça, e precisava de um tempo para refletir... mas espero que gostem! Aceito qualquer crítica construtiva para o melhoramento da história.

Até o próximo capítulo.

☆ O que Catherine quer falar para Ally? 🤔

☆ Gustav realmente ia beijar sua companheira? 😳

Saberemos isso e muito mais. Bye Bye 💐💥.

Chapeuzinho Vermelho e um Lobo não tão MAUOnde histórias criam vida. Descubra agora