Prólogo

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Era uma noite escura e tempestuosa em Lunar, um reino envolvido em densas névoas e mistérios. Era um inverno de guerra pelos reinos. Pessoas se escondendo, ficando juntos com suas famílias, acendendo a lareira e velas para se aquecerem, e rezando para que aquela destruição acabasse logo. O castelo do rei Arwan estava em alvoroço, pois a rainha estava prestes a dar à luz. Na sala de parto, as luzes vacilantes das velas iluminavam a face preocupada dos membros da família e conselheiros reais, enquanto o som da chuva batendo nas janelas ecoava por todo o cômodo.

Finalmente, num grito doloroso e triunfante, o choro de um bebê ecoou pela sala. A alegria e alívio encheram o ar, mas logo foram substituídos por uma sensação de inquietação. Os olhares dos presentes se voltaram para o pequeno bebê recém-nascido no colo da parteira.

O rei Arwan, um homem de farta dourada e uma barba grisalha, aproximou-se com cuidado da parteira, cujas mãos tremiam enquanto segurava a criança. Seus olhos encontraram os da sua pequena filha e uma sombra de preocupação se espalhou pelo seu olhar.

— Ela é perfeita.-sussurrou a rainha, com seus olhos marejados de felicidade.

—Tem o seus olhos.- murmurou o rei segurando a pequena mãozinha de sua filha.— Seja bem vinda a família Crosswell, minha pequena.

Enquanto o casal Real admirava o pequeno rosto rosado, uma energia estranha parecia emanar pelo quarto. O ar ao redor começou a ficar pesado, opressivo e uma névoa escura começou a se formar no meio do quarto, como se a própria maldição que atormenta tanto o sobrenome de uma das pessoas daquele quarto estivesse diante de todos.

— O que está acontecendo?- murmurou o rei enquanto a névoa se adensava. Os guardas que ali estavam presentes, tiravam suas espadas da bainha ficando atentos da possível ameaça em suas frente.

A parteira, com a voz trêmula, pronunciou palavras de proteção e começou a abanar o bebê em uma tentativa desesperada de a fazer para de chorar. Mas o mal estava impregnado nas veias da criança, tão profundamente enraizado quanto as raízes antigas da rainha.

Uma silhueta se formava entre aquela névoa preta no meio do quarto. Um homem magro, com uma pele tão branca quanto a neve que caia lá fora, com roupas que mal cabiam nele, uma capa em sua volta e os olhos tão negros quanto uma noite sem estrelas.

—Quem é você?- o rei pergunta se colocando de frente da parteira.— O que faz aqui?

A pessoa, ou o ser que ele fosse, ignora as perguntas do rei olhando para cada rosto naquele quarto até parar na face inquieta do bebê nos braços da parteira.

— Olha só quem temos aqui.- sua boca se curvou em um sorriso.— A tão esperada, Alita Crosswell.

— Como sabe o nome dela?- um dos conselheiros reais murmurou do outro lado da sala se encolhendo quando o homem o lançou um olhar descrente.

— Eu sei de muita coisa meu caro.

— Eu só vou perguntar uma vez.- a voz rigida do rei suou pelo quarto.— Quem é você? E o que faz no meu castelo?

— Por agora vou responder só uma das suas perguntas majestade, espero que não se importe.- o homem deu um passo a frente mais logo parou.

A névoa escura que rodavam o homem encapuzado se transformou em um neblina clara e fria.

— Uma criança nascer nessas circunstâncias é um pouco complicado, não acham? Sabe, guerras, pessoas passando fome e um frio de matar lá fora.- o bebê que antes aconchegado nos braços da parteira, agora estavam nos braços finos e gelados daquele homem encapuzado.

A parteira assustada soltou um grito de medo e pavor. Os guardas que antes estávamos a espreita só esperando uma ordem do rei, tavam um passos a frente apontando suas espadas afiadas para o homem em sua frente. A rainha ainda na cama respirava atordoada com a situação, no fundo ela saiba o que estava por vir.

— Pobre garotinha.- murmurou o homem passando seus dedos gelados na face da pequena.— Mal acabaras de nascer e já é tão... amaldiçoada.

— Por favor! Não faça isso, eu te imploro.- a rainha implorou, lágrimas manchando sua visão.

Rei apreensivo e confuso com tudo aquilo, passou seu braço ao redor da cintura de suas esposa.

—É tarde demais para implorar Celine - a feição do homem que antes tinha um sorriso de divertimento no rosto, agora tinha uma expressão fechada.— Está na hora deu entregar o presente do meu mestre para o novo membro da família Crosswell.

O homem começou a murmurar palavras desconhecidas aos que ali estavam. Os conselheiros, os guardas e até mesmo a parteira tentavam mexer seus corpos, mais não obtiveram sucesso. Seus corpos não os obedeciam, as respirações estavam irregulares e tudo o que eles podiam fazer, era olhar.

— Eu te amaldiçoou, Alita Crosswell.- ele praguejou.— Criança nascida de uma caída e possuidora de uma das magias mais puras. Com habilidades extraordinárias, com magia em seu sangue, terá o poder de ser a salvação ou a destruição. Você será dominada pelo seu maior medo. A morte aos poucos de consumirá, mais não antes do seu destino cumprir. Cercada por sangue, medo, dor, morte e destruição. Amar será sua ruína e aqueles que você ama queimaram diante de ti, no fogo sagrado.

A sua voz fria era uma das únicas coisas que se ouvia além do choro estridente da rainha.

— Pagara os pecados que não possuí, e enfrentará a fúria de uma vingança que não carrega a culpa. Mas não se preocupe criança, a safira da vida será sua esperança. Tome cuidado princesa, até a morte te seguirá, e com só um arranham daquilo que todos temem, de humanidade, nada te restará.

Assim que o homem termina te falar o bebê magicamente está de volta aos braços da parteira. Um meio sorriso se formou na face daquele ser sem remorso.

— Você fez uma escolha errada, vossa majestade.- o homem aos poucos ia desaparecendo.— Agora sua filha pagará o preço.

A névoa finalmente se dissipou. A pequena parecia completamente alheia ao caos que a cercava, entretanto, uma marca estranha e misteriosa havia aparecido em sua pele macia. Uma tatuagem parecida com runas, cujo significado nenhum deles ousava compreender, marcava seu ombro.

— Uma maldição?- sussurrou a rainha, com sua voz trêmula.

A notícia da amaldiçoada criança e o homem mistério logo se espalhou rapidamente pelos corredores do castelo, sussurrada em segredo nos ouvidos dos guardas e dos serviçais.

Enquanto isso, na floresta mais sombrios, um sussurro sinistro atravessou as árvores e se espalhou pelos ventos. As forças sombrias e raivosas há muito tempo adormecidas, só a espera de seu mestre, começaram a se agitar. A maldição da princesa despertara algo maligno e poderoso, algo que estava à espreita há anos, esperando por seu momento de vingança para ressurgir das cinzas e fazer de tudo um caos.

E assim, naquela noite, a princesa amaldiçoada nasceu. E sua jornada estava apenas começando. O desconhecido iria abraçá-la e moldá-la para um destino desconhecido, onde poderia ser a salvação ou a ruína de todos. O futuro dos reinos estava nas mãos de uma garota amaldiçoada, cujo o poder e destino a transformariam em uma lenda.

Continua...

Nascida do Caos - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora