Capítulo 4: Bem-vinda a tribulação.

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Minhas pernas doíam, meu coração batia tão rápido que me dificultava a respirar. Corri sentindo a presença daquilo atrás de mim. Era como nos pesadelos, só que mais desesperador por ser real. Empurrei uma porta de madeira, vendo que tava para uma escadaria que descia em formato de caracol. Segurei a sai do vestido que olhando pra ele agora, estava sujo de sangue. O barulho dos saltos ecoava em enquanto eu descia apressadamente pelos degraus.

Quando cheguei no fim da escada, quase caindo no último degrau, comecei a correr novamente. Eu estava perto. Não conseguia mais ouvir os gritos nem rosnados, o que me deixa mais agoniada por não saber o que estava acontecendo. Eu estava quase lá, já podia ver a passagem. Suspiro aliviada, mas que logo se tornou um grito.

Meu corpo é jogado contra a parede a minha esquerda. Minha cabeça bate com força na parede fazendo minha visão sumir por alguns segundos. Sinto uma dor horrível na canela que me faz soltar um grito agoniante. Meu corpo começa a ser arrastado pelo corredor, levando minha cabeça em direção aos meus pés vendo um daqueles malditos lobos com a sua boca enorme cravada na minha canela.

O sangue que saia da minha perna manchava o corredor na medida que o meu corpo ia sendo puxado. Olho para os lados despertada a procura de alguma coisa que me tiraria daquela situação. E pra minha má sorte, não tinha nada. O lobo aperta mais os seus dentes contra a minha perna, o sangue não só manchava o piso como também toda a minha perna. As lágrimas desciam sem parar borrando minha visão. Meus gritos ecoava nas paredes de pedra.

Gritei até ficar rouca. Gritei pelos guardas, pelos meus pais, pelo meu irmão, até mesmo pelos deuses. Desejava que O Criador ouvisse minhas súplicas. E ainda sim, ninguém apareceu. O medo me esmagava, me torturava e me fazia temer minha morte.

Cerro os dentes chutando com a pouca força que me restava, a cabeça do lobo. Finalmente ele solta a minha canela. Mordo meus lábios tentando conter o grito. O lobo vira sua cabeça cheia de sangue em minha direção, ele vem mais para perto tão lentamente que meu coração só faltou sair pela boca. Era como se tudo estivesse em câmera lenta.

A sua face sangrenta me olhava com aqueles grandes olhos vermelhos. A sua aproximação lenta me fazia temer pelo pior, e a pouca iluminação que tinha no local fazia aquela cena parecer muito mais aterrorizante do que já é. E quando eu pensei que estaria tudo perdido, ele parou. Ele parou olhando para alguma coisa no corredor e depois recuou. O barulho de passos fez os pelos do meu corpo arrepiarem.

Minha visão começou a escurecer. E a única coisa que eu consegui ver antes de tudo apagar foi aquele maldito lobo sair correndo para longe. Sinto braços passarem ao redor do meu corpo me erguendo para cima. A dor na minha perna era forte e insuportável.

— Está tudo bem agora, princesa.- uma voz calma e rouca murmura perto do meu ouvido.— Você está a salvo.

[...]

—  Você sempre foi o meu favorito.- murmuro sentindo minha cabeça pesar.— Mas não conta pra ninguém.

— Alita?- sua voz não passava de um sussurro.

Passo meus dedos pela sua bochecha enxugando as lágrimas que não paravam de descer.

— Tá tudo bem...- meus olhos ficaram pesados.— Promete cuidar deles pra mim?

Ele balança sua cabeça me apertando mais contra o seu corpo. Afundo meu rosto no seu peito me permitindo chorar. E ele fica ali, me segurando nos seus braços e sussurrando que vai ficar tudo bem. E aos poucos minha consciência vai apagando, como a minha vida e todos os momentos que eu passei com as pessoas que eu amo, minha família. O som do coração dele é a última coisa que eu ouso. E diferente do meu, o dele batia.

Nascida do Caos - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora