Em um mundo, estavam os humanos, e acima deles ascendiam entidades superiores; aqueles que carregavam a pureza, a bondade e tantos outros bons sentimentos, predominando o amor e a compaixão. O primeiro bebê nasceu de uma luz divina no leste, no topo de Divinel, a montanha sagrada. No templo a céu aberto, ele foi protegido e alimentado pela luz das chamas douradas. Estas, ao amanhecer, se desdobravam como asas esplendorosas, e ao fim de um ciclo, se fechavam, reduzindo sua luz para descansar e proteger o recém-nascido.
A pele do bebê, inicialmente negra e aveludada, resplandecia em tons radiantes, enquanto seus cabelos ondulavam como filamentos de ébano, em contraste perfeito com seus olhos luminosos, semelhantes a pepitas de ouro. Sob as chamas áuricas, estava protegido; no entanto, não era apenas de proteção que precisava. Então, Anuturíon surgiu; era um búfalo tão grande e pesado que poderia afundar uma pequena ilha. Com a boca, carregava um balde com as águas sagradas de renovação do lago Renoviel.
Ao beber da água, o bebê sentia um frescor especial, como se sua existência, ainda tão recente, tivesse ganho um novo tempo, uma nova vida. Todas as suas feridas haviam se curado. E assim, ele beberia, a cada dia, um pouco daquela água, pois Anuturíon jamais falharia em subir a montanha.
No entanto, eventualmente, o bebê teria que fazer as coisas por si mesmo, e percebendo isso, Cawanni também subiu a montanha. Ela era tão grande quanto Anuturíon, mas era ainda mais pesada; uma vaca com a habilidade de voar, e fez isso para chegar ao topo de Divinel. Ela ofereceu seu leite, rico em propriedades místicas; aquele que o bebesse seria o mais forte e o mais resistente, capaz de segurar um mundo inteiro com a palma das mãos.
Então, dia após dia, quando Cawanni chegava, as chamas douradas se moldavam como braços e a ordenhavam, enchendo um balde que duraria somente aquele dia. Cawanni, no entanto, sentia muita dor, mas ao término da ordenha, se despedia com alegria, fazendo uma reverência e voava para se banhar e beber das águas de Renoviel, curando suas feridas.
O tempo foi passando, e o bebê já dava seus primeiros passos, andando pelo templo e brincando com as chamas que caíam sobre ele. No entanto, o balde de leite ele tomava em segundos, e um único balde de água por dia não era o bastante para hidratá-lo. Ele começou a fraquejar e sentir dores intensas, passando a dormir a maior parte do tempo.
Ao perceber o sofrimento do bebê, Yguinhok rugiu. Ele era um leão grandioso, forte e veloz, mas não somente, como também um sábio: o rei da Floresta Vegieel. Ele pegou a maior das folhas de bananeira e selecionou uma diversidade de frutos; com os dentes, amarrou a folha e a carregou cuidadosamente para nada derrubar. Quando finalmente chegou ao topo da montanha, encontrou a criança sonolenta, sem ânimo algum, mas empurrou, com uma das patas dianteiras, uma maçã tão vermelha quanto o sangue, para perto da criança, que olhou intrigada. Sentou-se em forma de lótus e, com receio, agarrou a fruta e deu uma mordida; ele amou o sabor, a textura e a suculência. Ao longo do dia, apreciou cada uma das frutas, e com o leão, aprendeu sobre elas e seus benefícios.
— Deve ter um nome, mas pensaremos nisso depois — rugiu Yguinhok.
O jovem ficou impressionado, pois o mugido de Anuturíon e Cawanni era bem diferente do rugido de Yguinhok e ainda mais daqueles sons estranhos que acabara de emitir. Dia após dia, o leão não só levou frutas, mas também conhecimento, ensinando-o sobre a natureza e sobre as palavras; o conhecimento herdado do mundo dos humanos.
Aos cinco anos, a criança exibia uma boa altura para sua idade e um físico forte. Ostentava cabelos firmes, como uma coroa majestosa de caracóis que dançavam ao vento como chamas negras indomáveis. Além disso, já falava perfeitamente. Não era difícil para ele aprender e reter conhecimento, e ansiava explorar para além do templo. Assim, ao anoitecer, escapou da proteção das chamas douradas, passando por uma brecha entre as asas flamejantes que o cobriam.
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Caminhos Divinos: Crônicas do Panteão Místico
FantasyEm um universo onde as estrelas dançam ao ritmo de divindades antigas, mergulhe nas páginas de "Caminhos Divinos". Descubra os seres sagrados de Divinel, suas origens entrelaçadas com a essência cósmica e o árduo caminho que percorreram para ascende...