LÁGRIMAS DE ADEUS

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Em tempos de aflição, Solaro ansiava por um caminho singular para se reunir rapidamente à sua amada, Lúmina. Então, com um suspiro carregado de magia, ele encantou as nuvens, soprando sobre elas a essência do seu poder. Obedientes ao encantamento, elas começaram a se transformar, dançando ao ritmo mágico do deus sol. Aos poucos, tomaram forma, esculpindo-se em uma única ponte sólida de mármore celestial. Essa metamorfose mística estendeu-se majestosamente desde o seu templo no cume da montanha sagrada até a nascente cristalina de Aquarian.

Num dia de encontro no meio daquela ponte, suspensa acima dos campos perfumados de Floryan, sua união não se destinava ao amor. Naquela ocasião, uma mensagem chegou até eles, sussurrada pelo vento. Inicialmente, pensaram que fosse obra dos elfos celestiais, mas logo perceberam que estavam equivocados. Foi a primeira vez que receberam notícias daquela que havia caído no sul. Voando majestosamente, ela surgiu, dispersando as nuvens com um bater de asas imponente, ostentando uma presença respeitosa. Seus filhos seguiram-na, desdobrando suas asas em um equilíbrio sublime de força e beleza. A justiceira empunhava a espada e a balança do julgamento, com uma expressão impassível, difícil de notar pela máscara de bronze que circundava seus olhos; havia apenas mistério em seu olhar. Dois dos seus acompanhantes carregavam cada um uma jarra de metal.

Solaro e Lúmina fizeram uma reverência graciosa e, em sequência, se apresentaram.

— Sou Solaro, o senhor do dia!

— Lúmina, a dama da noite!

— Conheço vocês, sei onde estamos, para onde vamos, e até mesmo de onde viemos! Vocês são os progenitores das fadas e despertaram os elfos! Estou aqui para presenteá-los com um pouco do conhecimento da fonte do eterno!

Ambos acenaram, aceitando o presente, e se curvaram em gratidão a Yunai. Em seguida, os Hyunir despejaram sobre eles o conteúdo das jarras. Banhados pelo próprio cosmos, Solaro e Lúmina presenciaram visões de três continentes. Eles sentiram amor, compaixão, esperança e felicidade, tudo o que havia de bom ascendendo para as terras sagradas na abóbada celeste.

Quatro estrelas cadentes surgiram; no entanto, uma delas carregava a inveja e cobiça. Não deveria ascender, mas sua inveja lhe deu determinação para subir junto das demais, e assim o fez. Puderam ver Zutur enchendo-se de orgulho e dominando o Caos, o mundo para onde são enviados os sentimentos negativos, o berço dos corrompidos. Uma escada de ossos se erguia, e Zutur subiria por ela, ultrapassando o mundo dos homens, retornando à sua terra natal: Divinel.

— Ele trará o Caos até nós — alertou Yunai. — Mas não podemos impedi-lo de entrar, pois, nesse mundo ao norte, ainda há quem o espera, e na passagem por onde um dia foi sugado, ele poderá regressar.

Solaro cerrou os punhos com determinação. — Minhas chamas serão o bastante para bani-lo novamente! — declarou o deus com convicção.

— Não! — exaltou Lúmina, balançando a cabeça. Com os olhos marejados e mãos trêmulas, pegou nas mãos de seu amado. — Meu querido Solaro, lembre-se que não podemos usar violência. Foi isso que levou Zutur a ser banido.

— Está errada — enunciou Yunai. — Ao menos parcialmente, pois podemos nos defender. O que não podemos, no entanto, é matar... não aqui. Esse é o tabu!

Os três grandes elfos então chegaram pela ponte, confirmando seus alertas de outrora.

— Os animais terrestres estão cada vez mais agitados — declarou Natur, seus olhos voltados para a floresta de Vegieel. — É como se uma tempestade de ódio se aproximasse.

— O mesmo com os voadores — proferiu Sagrar, apontando em direção ao templo de Solaro, onde bandos de aves distintas se aglomeravam. — Eles se reúnem agora no santuário do deus sol em busca da proteção das chamas douradas.

— Assim como nas águas — anunciou Aquar. — Os marinhos se aglomeram onde a luz de Lúmina brilha mais forte, nas nascentes de Aquarian.

Solaro parou, observando as espadas nas mãos dos Hyunir. Voltando-se para Yunai, levantou um questionamento:

— Como pensam em lutar sem derramar sangue?

— Haverá sim derramamento de sangue! — respondeu a deusa justiceira.

Lúmina olhou intrigada, e os elfos abaixaram suas cabeças.

— Mas não aqui — prosseguiu a divindade alada. — Devemos descer até o mundo dos humanos e protegê-los, pois lá Zutur irá libertar seus corrompidos.

Solaro e Lúmina se olharam, sabiam que era o certo a se fazer. Tornaram-se então os guardiões supremos de Divinel.

— Ficaremos para proteger os animais! — exclamou Sagrar.

Aquar, no entanto, suspirou pensativa — Quando os corrompidos forem soltos na terra dos mortais, eles irão se misturar entre eles, corrompê-los, até mesmo procriar — ponderou. — Assim que Zutur retornar para o Caos, nós, temporariamente, devemos partir para o reino humano.

— Está certa, plantaremos lá nossas sementes — consentiu Natur em prontidão. — Os elfos terão lugar entre os mortais, transmitindo nossa sabedoria e compartilhando nossa força. Mas não seremos os únicos.

As fadas se aproximaram; algumas delas derramavam lágrimas, fazendo surgir abaixo da ponte de mármore celestial um esplêndido arco-íris.

— Não! Seu lugar é aqui com seus pais! — brigou Lúmina com firmeza. — Se vocês se afastarem de nós, as chamas provenientes de nosso poder irão se extinguir, então perderão a luminescência que as protege.

Solaro rangeu os dentes em raiva; ele também não tinha a intenção de permitir a ida de seus filhos.

— Eu os proíbo! — declarou duramente.

Yunai, no entanto, detentora de uma sabedoria superior, intercedeu em nome das fadas.

— Elas nasceram nesse mundo destinadas a outro — ponderou a divindade do equilíbrio. — Algumas ficarão aqui, brilhando como belas estrelas, enquanto velam por aqueles que virão no futuro. Outras devem descer imediatamente ao mundo dos humanos, tornando-se mortais junto a eles, mas ocultando-se da sua presença. Como protetores da mãe terra, velarão pela natureza usando o poder dos elementos. Não mais brilharão como ouro ou prata, mas como o arco-íris de cores que suas lágrimas acabaram de formar. Serão seres lindos e amados pelo meio ambiente e por aqueles que os conhecerem.

A despedida foi angustiante e dolorosa. No topo da nascente, Lúmina passou noites chorando. No entanto, de seu pranto nasceu uma metamorfose extraordinária nas águas. Surgiam seres únicos, entoando canções melodiosas, uma fusão harmoniosa entre a beleza humana e a graça dos seres marinhos. As sereias, com seus corpos esguios e graciosos, ostentavam longas caudas de peixe que ondulavam em cores exuberantes, refletindo a luz do luar em padrões cintilantes, enquanto seus longos cabelos ondulavam como algas dançantes.

Os tritões, por sua vez, exibiam uma combinação majestosa de força e elegância. Suas caudas grossas eram complementadas por torsos atléticos, enquanto seus olhos cristalinos ocultavam grande mistério. Escamas brilhantes adornavam seus corpos em padrões singulares, refletindo os matizes enigmáticas das profundezas do oceano. A correnteza da água parecia dançar ao redor deles, criando um espetáculo de movimento e beleza.

Assim, um triste adeus resultou no nascimento dos Aquarianos de Divinel.

Caminhos Divinos: Crônicas do Panteão MísticoOnde histórias criam vida. Descubra agora