CHUVA DE ESTRELAS

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Em Floryan, os campos floridos estendiam-se como um mar de flores, exalando fragrâncias celestiais. As pétalas delicadas desdobravam-se em uma paleta de tons imortais, onde o dourado radiante das dálias solaris se misturava suavemente com os azuis etéreos das maravilhas lunares, acompanhando os passos suaves das divindades do dia e da noite. Os caminhos de mármore branco serpenteavam entre as flores, guiando os visitantes, a flor da idade, através deste paraíso situado entre seus domínios no leste e oeste.

A cada passo, pareciam flutuar ao ritmo de uma melodia encantadora, enquanto as brisas carregavam consigo canções de pássaros que pairavam entre as flores. Os deuses faziam ali um refúgio sagrado.

Durante o entardecer, deitaram-se em meio às flores, admirando a dança das nuvens em meio às cores crepusculares. Lentamente, os tons alaranjados transformavam-se em sombras etéreas. Naquela noite, Lúmina, com um movimento gracioso do braço, comandava as chamas prateadas no céu, moldando a lua crescente como obra de arte mística, enquanto Solaro, ao seu lado, estava absorto pela sua beleza, e como seus olhos cintilavam lindamente sob a luz do luar. Contudo, a deusa da lua parecia buscar no céu algo além de seu próprio esplendor.

— Algo está faltando. Você não acha? — ela declarou, suspirando, mantendo os olhos fixos no firmamento.

— O que quer dizer? — perguntou Solaro.

— O céu noturno é tão escuro e sem vida.

Incrédulo com tais palavras, Solaro levantou-se, ficando entre ela e a luz do luar. — Mas sua chama prateada ilumina todo o nosso mundo durante a noite, e ao mundo dos humanos — ele pontuou com firmeza. — Você é a Rainha da Noite que nos acaricia com sua beleza, e sem ti os homens temeriam a escuridão absoluta.

— Mas somente minhas chamas? — ela questionou, também levantando-se. — Não parece certo. Já faz algum tempo desde que nos fundimos com as aves sagradas. O que fizemos desde então? — tomando as mãos de Solaro com carinho, ela o encarou enquanto lágrimas enchiam seus olhos. — O terceiro de nós foi banido há algum tempo. Não deveríamos fazer algo a respeito?

— Zutur foi banido por matar um animal! — Solaro respondeu duramente. — Ele teve o que mereceu, afinal, os animais são nossos amigos. Todo esse mundo nos acolheu e nos deu tudo o que precisamos.

— Tem razão — ela disse tristemente, abaixando a cabeça.

Solaro gentilmente segurou seu queixo e a fez olhar novamente em seus olhos. — Vamos apenas aproveitar o aqui, nós dois — disse ele. — Logo você terá que subir aos céus com suas chamas, e eu terei que voltar ao meu templo para descansar.

— Eu sei... — concordou Lúmina. — No entanto, eu...

Antes que ela pudesse completar suas palavras, Solaro passou suas mãos calorosas no rosto da deusa, aproximou-se e tocou seus lábios nos dela. Enquanto entrelaçavam um beijo apaixonado, as flores no campo flutuavam com o frescor da brisa noturna ao redor deles. Junto delas, dançavam chamas douradas e prateadas. Suas vestimentas foram jogadas no chão, os cabelos de Lúmina soltos ao vento, e pássaros cantaram em seus domínios enquanto os animais festejaram. A natureza parecia estar em festa quando ambos caíram ao chão.

O solo sacudiu. Seguiu tremendo enquanto eles rolaram sobre as flores até caírem no rio, espirrando água para todos os lados. Afundaram, entregando-se ao amor, e então abriram suas asas e subiram aos céus, espalhando gotículas por todo o campo ao redor. O dia e a noite dançavam juntos em círculos, formando um tornado, mas este cessou em seu êxtase de amor quando ambos gemeram apaixonadamente.

Sangue escorreu de Lúmina, e o tempo parecia parar para Solaro. Ele a tomou em seus braços e a levou até sua luz crescente. Lá, Lúmina repousou, mas seu amante não poderia permanecer com ela e voltou depressa para o leste, esperando que sua amada estivesse bem durante o amanhecer.

Ao despertar de Solaro, durante sua alvorada, o deus sol, guiado pela sua ansiedade, voou depressa em direção ao oeste, até sua amada. Lúmina estava deitada sobre folhas à beira de Aquarian; encontrava-se mais radiante e bela do que jamais esteve.

— Tem um poder magnífico crescendo em mim — a deusa lunar declarou com as mãos sobre a barriga. — Não sei o que é ao certo, mas sei que é bom.

Tomado por uma felicidade incontrolável, Solaro a beijou na testa e sorriu para ela, embora também não soubesse o que estava por vir, e regressou para seu templo, repleto de alegria. Contudo, voltou depressa ao anoitecer, até sua querida. Ele estava montado em seu mentor, o grande Leão Yguinhok, rei de Vegieel. Juntos admiravam como a Loba Guhiaza cuidava de Lúmina quando algo mágico aconteceu.

A divindade da noite subiu aos céus, como em muitas noites o fez, porém, dessa vez, saiu de seu ventre uma chuva de estrelas douradas e prateadas, em uma dança graciosa, permanecendo nas asas da noite, e todos naquele mundo e no mundo abaixo deles admiravam aquela noite especial.

Tempos depois, as estrelas cresceram um pouco, tomando forma semi-humana, com orelhas levemente pontudas e asas, que desdobravam-se como folhas mágicas, dançando ao vento. Os dourados, em maioria, eram como meninos, e as prateadas, em maioria, como meninas. E em um belo e iluminado anoitecer cheio de estrelas, Lúmina, ao seu amado declarou:

— Nossas crianças serão chamadas de fadas. Elas levarão magia e esperança; carregarão consigo a bondade e a pureza de nosso mundo para onde forem.

E então, tomando sua mão, Solaro disse:

— Elas serão nossas intermediárias com o mundo dos humanos. Talvez agora possamos cuidar melhor daqueles que estão abaixo de nós.

E assim foi profetizado, naquele belo anoitecer, durante o nascimento das Fadas de Divinel.

Caminhos Divinos: Crônicas do Panteão MísticoOnde histórias criam vida. Descubra agora