O Gosto Vermelho

O Pedido

Lilith ergueu sua cabeça do ombro de Dragomir, sentindo os braços fortes dele se afrouxarem ao redor de seu corpo, as mãos geladas subirem até estarem em suas bochechas, limpando suas lágrimas quentes que escorriam de seus olhos. Dragomir tinha uma expressão única em sua face, uma expressão que Lilith jamais viu. 

Ele a olhava com tanto carinho, algo que era totalmente estranho para ela. Ninguém além de sua família tinha a olhado daquela forma, e mesmo assim, Dragomir ainda a olha de forma diferente que suas irmãs e mãe. Era como se fosse algo mais profundo, uma admiração diferente vinda daquelas orbes cinzas como as nuvens de uma tempestade, um carinho mais intenso, algo mais forte que Lilith não conseguia entender o motivo dele a olhar assim. E não entendia como ela poderia estar tão intrigada na criatura em sua frente. 

A besta pensava em como alguém poderia ficar tão bela enquanto chorava, como alguém tão linda e perfeita como Lilith podia ter passado por tanta atrocidade. Aqueles olhos negros como carvão o olhando de forma tão profunda e bela, ele podia ver o brilho amarelado das velas queimando refletindo nos olhos da mulher, podia ver os cílios dela segurando suas lágrimas tão pesadas, carregadas de tristeza e ódio. Dragomir se perdia enquanto admirava Lilith, sua pele tão clara como a luz da lua, com pequenas pintas beijadas por anjos dos céus, seus cabelos tão escuros e compridos, com ondas delicadas, muito diferente das dele, que eram mais intensas e rebeldes. Ele podia ouvir o coração dela batendo tão forte em seu peito, mandando o sangue vermelho e delicioso por todo seu corpo, dando vida aos lábios grossos e perfeitos de Lilith. Seus olhos cinzas imediatamente fugiram de seus lábios, seu próprio coração de pedra batendo de forma tortuosa em seu peito, forçando que ele se afastasse por completo, fugisse daquela sensação tão horrenda e ao mesmo tempo... Agradável. 

- Você deve estar cansada e com fome... Eu vou... Eu vou lhe preparar um banho e enquanto isso, faço algo para você comer... - Dragomir falou andando para longe de Lilith, seus olhos passando por um microssegundo no quadro de seu amado na parede, só fazendo aquela dor em seu peito ficar ainda maior. 

Lilith viu Dragomir sumir de sua frente em um piscar de olhos, deixando para trás, apenas uma brisa gelada, que moveu seus cabelos caídos em seu corpo. A mulher saiu de cima da mesa, andando com seus pés descalços na madeira fria que cobria todo o chão do castelo, perseguindo Dragomir pela sua casa, o encontrando no andar acima, dentro de uma sala com cheiro extremamente agradável, um aroma delicado e delicioso, lembrava vagamente de flores recém abertas na primavera. O homem estava acendendo uma lareira grande que havia ali, antes de empurrar uma grande banheira metálica para perto do fogo. Lilith não fazia ideia o que ele fazia, mas ver ele usar sua força daquela forma somente a deixou ainda mais intrigada. Claro, ele disse que era forte antes, mas ele empurrou o metal acobreado e pesado com apenas um empurrão de seus dedos em sua borda, o que a deixou com boca aberta. 

Aquele novo cômodo tinha não somente as paredes de pedra, mas seu chão também, candelabros iluminavam a sala, refletindo na banheira de cobre cheia de água se esquentando no fogo. Lilith via prateleiras com o que lhe lembrava o sabão que ela e suas irmãs faziam para vender na vila, mas os dele pareciam ser ainda mais cheirosos. Havia alguns livros espalhados pelo lugar, como se ele gostasse de relaxar naquele ambiente. 

- O que é tudo isso? - ela questionou olhando ao redor, vendo Dragomir a olhar com uma expressão incrédula. 

- Uma sala de banho... - Dragomir respondeu com um pequeno sorriso. Ele sabia que provavelmente Lilith jamais teria visto uma daquele jeito, afinal, somente monarcas tinham uma sala própria para banhos, as vezes sequer monarcas tinham uma, mesmo assim, ele achou cômico sua pergunta. - Onde eu tomo banho... Tenho uma fonte de água perto daqui, que trás água até aqui... - ele explicou andando até a torneira que pingava no solo de pedra da sala de banho. - Aqui eu tenho alguns sabonetes que você pode gostar... Esse aqui eu trouxe de uma viagem à China... É feito de pérolas e coco... - Dragomir andou até a prateleira, pegando uma barra de sabão branco e entregando para a mulher, que o olhou totalmente surpresa, só fazendo o sorriso dele crescer mais em seu peito.  - Como você tomava banho em sua casa? - ele perguntou curioso.