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Estava me sentindo tão feliz em ter a Valentina por perto novamente, em poder tocá-la e ser tocada, em poder acordar e vê-la dormir calmamente ao meu lado. Realmente a felicidade está nesses pequenos momentos, e confesso que admirá-la dormir se tornou umas das coisas mais valiosas. Aproveito esse tempo para  fazer um mapa mental com todas as suas pintinhas, cada detalhe do seu rosto, analisar a sua respiração serena, tudo nela é delicado e perfeito o que torna inevitável não dizer que estou perdidamente apaixonada por essa mulher. 

Não irei  acordá-la, ela precisa descansar depois de toda a carga emocional que recebeu, mas é impossível não pensar sobre, afinal o que é verdade nessa história? O que a Larissa disse não sai da minha cabeça,  a Valentina foi  capaz de tirar a vida do próprio pai? Isso não faz o menor sentido, as poucas vezes que ela se refere ao pai é com tanto carinho, quase sempre com a voz embargada e de forma tão saudosa e é impossível acreditar nessa possibilidade, mas ao mesmo tempo ela não negou. O que me faz questionar se ela foi realmente capaz, será?
Não, tem como. Não consigo nem cogitar essa possibilidade, a curiosidade está me matando, por mais que eu queira muito, não tem como continuarmos juntas sem conversarmos, sem nos conhecermos, sem nos entendermos, sem saber o que nos aflige e nos atormenta. Eu nunca consegui abertura para falarmos sobre passado, até porque sempre que estávamos juntas não sobrava muito tempo para conversarmos.

-É Valen, temos  sintonia, conexão e zero diálogo! Como faremos esse relacionamento funcionar?  - falei de forma quase inaudível.

Não tenho nem ideia de como vou abordar esse assunto, e o medo de trazê-lo à tona e o meu castelo de cartas desabar? O medo é muito grande. Que medo! Desde quando eu me tornei tão covarde? A curiosidade que me consome desde que nos conhecemos virou uma necessidade, agora é uma questão de cuidado, preciso entender o que aconteceu para poder estar aqui, como prometi.

Decidi aproveitar o momento e abandonei toda essa loucura por hora,  deixei minhas teorias e devaneios em stand bye para poder aproveitar cada segundo precioso ao lado dela, assistido a beleza em tê-la ali, leve. Depois de um longo período contemplando toda aquela perfeição diante dos meus olhos, não resisti e corri meus dedos suavemente por toda extensão do seu corpo nu, esparramado em meio aos lençóis, já nem lembrava mais o que era me sentir em paz ao lado de alguém e Valentina sempre me proporcionou essa sensação sem nem ao menos se esforçar. Será que ela sabe o bem que me faz?

-  Eu amo isso!  - Ela disse com uma voz, grave e sonolenta - Senti falta de acordar ao seu lado.

- Será? - Disse aproximando meu rosto do seu e a beijando suavemente - Cogitei que nunca mais aconteceria de volta. Mas saiba que eu amo mais!

- Lu ... - Ela disse com um pesar na voz e se acomodou escorada à cabeceira da cama. - Sabe quando dizem que encontramos a pessoa certa na hora errada?

- Hummm - Não sabia o que dizer,  não acredito que ela vai vir com esse papinho pra cima de mim - Só falta você continuar dizendo que o problema sou eu e não você, que isso foi um erro.

Ela gargalhou e me puxou para si, me abraçou fortemente

- Virou mãe Diná agora?  - Riu com tanta leveza - Querendo adivinhar o que eu vou dizer - encheu meu pescoço de beijos

- Entregou a idade Valen - Ri da comparação boba dela - Mas sendo sincera, realmente não sei o que esperar.

- Lu, eu não sei se estou pronta para estar em um relacionamento - Me virei bruscamente para ela que congelou ao constatar me olhar - Calma! Porém,  quero muito tentar. Quanto mais eu fujo de você mais eu tenho vontade de ter assim em meus braços, mas não bravinha - Fui de 0 a 100 muito rápido, meu sorriso já falava por mim, ela sabe que já sou dela, basta ela querer.

Entre ruidos e suspiros Onde histórias criam vida. Descubra agora