III

26 2 7
                                    

Preocupado, Benício dedicou as horas seguintes a entrar em contato com todas as pessoas que, acreditava, poderiam saber onde ele se encontrava. Essas ligações entraram pela madrugada. Quando o dia amanheceu, já perdera a conta de quantos telefonemas havia realizado. Continuava, porém, sem nenhuma informação concreta acerca do seu paradeiro.

Movido pela suspeita de que ele tivesse sofrido um acidente, peregrinou por todas as clínicas e hospitais da região. Descobriu, depois de horas de busca, que não havia registro de que ele tivesse dado entrada como paciente ou que se encontrasse internado em nenhuma daquelas instituições. Com um receio que crescia a cada minuto sem respostas, decidiu procurar as autoridades e comunicar o desaparecimento.

Dias se passaram.

Em permanente estado de tensão, Benício suava frio sempre que o telefone tocava, pois tinha consciência de que, embora a ligação pudesse trazer boas notícias, poderia também confirmar o maior dos seus temores. Essas chamadas, que eram numerosas, não costumavam trazer, no entanto, nenhum esclarecimento. Em geral, eram somente pessoas próximas - ou desconhecidos curiosos - em busca de atualizações.

Também recebia muitas mensagens com relatos de avistamento. Essas mensagens se tornaram particularmente numerosas depois que a notícia do desaparecimento saíra no telejornal e, a partir disso, disseminara-se nas redes. Todos os relatos eram repassados para as autoridades, mas a maioria, após a apuração, mostrava-se inconsistente e não colaborava efetivamente para a elucidação do caso.

Naquele momento, sua maior suspeita era que o namorado tivesse sido sequestrado. Esperava, com ansiedade, pelo momento em que os indivíduos que estivessem por trás daquilo entrariam em contato com um pedido de resgate. O sequestro também constituía a principal linha de investigação da polícia.

Semanas se passaram.

Descobriu-se que, no mesmo dia do desaparecimento, as contas bancárias em que o casal guardava suas economias haviam sido inteiramente esvaziadas. Esses saques, que não eram do conhecimento de Benício, segundo o que se apurou, tinham sido realizados em caixas eletrônicos de uma loja de conveniência de um posto de gasolina que ficava fora da cidade. Sem demora, imagens foram requeridas pelas autoridades, na tentativa de identificar o responsável. Essa medida restou frustrada pois as câmeras de segurança do estabelecimento se encontravam quebradas na ocasião.

Nas redes sociais, onde o caso continuava suscitando interesse e alimentando discussões, muitas teorias eram criadas. Uma delas, surgida e popularizada após a mais recente descoberta, era a de que não se tratava de um desaparecimento, e sim de uma fuga: Hélio teria ido embora após aplicar um golpe financeiro bem sucedido no namorado.

Benício, quando se deparava com postagens com esse teor, perguntava-se, profundamente irritado, como aquelas pessoas, que sequer conheciam seu companheiro, conseguiam fazer acusações tão graves. Os boatos, no entanto, intensificaram-se após o delegado encarregado, em entrevista para a televisão, admitir que o estelionato, embora ainda não confirmado, era uma das hipóteses com que os investigadores trabalhavam.

Meses se passaram.

Benício percebia que o interesse pelo caso diminuía. Quase todos os que, em um primeiro momento, haviam lhe prestado apoio pareciam agora distantes e indiferentes. Tinha consciência de que, na origem disso, estavam os rumores. Familiares, não poucas vezes, tentavam convencê-lo a aceitar que tinha sido ludibriado. Os amigos, sem cerimônia, diziam que precisava esquecer o companheiro. Esses apelos, que o deixavam furioso, fizeram com que se afastasse de muitas pessoas que até então respeitava e admirava.


SEBASTIANOnde histórias criam vida. Descubra agora