Uma noite, decidiram assistir a um filme. Sentados no sofá, encolhidos embaixo de um grosso edredom, trocavam impressões e opiniões acerca da história, enquanto na tela da TV eram já exibidos os créditos finais. Do lado de fora da casa, caía uma chuva forte e gelada entremeada com relâmpagos e trovões. Entre goles de vinho e tragos de cigarro, lembravam de filmes que tinham assistido juntos no passado - alguns no cinema, outros na casa de um ou do outro - na época em que moravam com os pais e ainda eram estudantes
Benício recordava-se daquele tempo - em que os problemas que tinha não eram realmente problemas - com saudade e, imaginando que se tivesse a chance de voltar no tempo e viver novamente aquela etapa de sua vida o faria sem pensar duas vezes, decidiu perguntar ao amigo se ele também. Quando virou-se e o encarou, percebeu que Sebastian o observava. O olhar dele tinha um brilho intenso.
Com as bochechas corando, iniciou a pergunta. Desconcertado, atrapalhou-se com as palavras e, gaguejando, não conseguiu concluir. Baixou os olhos, encabulado, e começou a brincar com a taça vazia que tinha nas mãos. Minutos, que pareceram horas, passaram-se em meio a um silêncio entrecortado apenas pelo bater ritmado dos ponteiros do relógio. Sentia no peito os batimentos acelerados.
Sem dizer nada, Sebastian aproximou o rosto devagar e deu um beijo no seu pescoço. Benício voltou-se para ele, surpreso, e o viu se aproximar novamente: os lábios dele estavam a milímetros dos seus. Benício, uma última vez, se perguntou se aquilo era certo e se no dia seguinte haveria arrependimento, mas o desejo, que fazia seu sangue arder sob a pele, varreu para longe qualquer receio quanto ao futuro.