IV

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Havia, porém, uma pessoa que não havia mudado. Sebastian.

O amigo, que estava ao seu lado desde o começo, não o julgava. Pelo contrário, ele parecia compreendê-lo e, sempre que precisava, estava disposto a ajudá-lo. Era a única pessoa com quem ainda conseguia se abrir e compartilhar o que sentia. Ele também o apoiava de outras formas. O desaparecimento de Hélio afetara bastante o seu desempenho no trabalho, fazendo com que, em alguns meses, fosse demitido. O amigo, desde então, cobria suas despesas.

Embora fosse grato por ter alguém com quem contar, Benício sentia-se estranho com a situação, não apenas por estar dependendo de outra pessoa, mas também por saber que, por trás de toda aquela atenção e cuidado, havia amor. Não que isso fosse uma descoberta recente: desde o momento em que se conheceram, ainda na adolescência, percebera que o amigo o enxergava de maneira diferente. Tímido, ele nunca havia conseguido colocar o sentimento em palavras.

Por muitos anos, tiveram uma relação muito próxima, uma amizade que, aos olhos de todos aqueles que os conheciam, parecia ser inabalável. Um dia, porém, os caminhos de Benício se cruzaram com os de Hélio. Em pouco tempo, os dois passaram a só ter olhos um para o outro e se tornaram companheiros inseparáveis. Era o início de uma paixão arrebatadora. O namoro, que veio em seguida, resultou em um distanciamento em relação a Sebastian.

Já não tinha tempo para o amigo. Pouco o via e, quando acontecia de encontrá-lo em algum lugar, era quase sempre por acidente. Sabia que aquela forma de se portar era rude, mas tinha sempre alguma justificativa para afastar de si o remorso: o cansaço causado pelo excesso de trabalho, algum compromisso previamente marcado com o Hélio que não poderia adiar...

Sebastian nunca chegou a reclamar. Pelo contrário: sem maiores resistências, parecia se conformar ao diminuto espaço que passava a ocupar na vida dele. Benício, porém, conhecia-o suficientemente bem para saber que o tinha magoado. E agora, que ele reaparecia para apoiá-lo em um momento tão delicado, sentia-se mais envergonhado do que nunca pela forma com que o havia tratado.


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