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Três dias se passaram desde que vi o Sturniolo pela última vez e eu ainda continuo dormindo com esse maldito moletom. 

Ele com certeza precisava de uma viagem para lavanderia, mas não quero que o cheiro do garoto saia dele. E Chris ainda não me cobrou para devolvê-lo ao mesmo, então pretendo continuar usando. 

Esses últimos dias tem sido uma loucura total, ainda maior do que dos dias anteriores. Primeiro, consegui finalmente tirar minha habilitação.

Além disso, meus pais adiantaram meu presente de aniversário. O carro da minha mãe, que eu agradeço todos os dias por ela decidir me dar seu antigo Jeep. Agora com seu novo aumento, ela conseguiu comprar um novo e passar o anterior para mim.

Eles concordaram em me dar com o seguinte motivo: seria mais fácil do que pegar um ônibus toda a vez que quisesse vir para casa, em Boston, quando entrar em Yale. 

Falando na faculdade, eles me enviaram um e-mail de confirmação ontem à noite, dizendo que receberam a inscrição e que eu estava na lista de espera. 

Estou tentando me confirmar com a chance de não morar mais em Boston por longos quatro anos, se escolher o curso que eu quero e se eu passar.

Mas como conheço meus pais, provavelmente vou ser obrigada a ficar um ano à mais e fazer direito. Minha mãe fez direito, meu pai também, além dos meus avós, tios e uma grande parte da família.

Eu realmente gostaria de fazer música, adoro cantar e sei tocar um grande conjunto de instrumentos. Quando digo grande quero dizer dois, mais especificamente piano e violão. 

Acho que eu aprendi sozinha a cantar. Não me lembro de ter feito aulas ou algo do tipo, simplesmente comecei e não parei. 

Meus pais me colocaram para fazer algumas aulas de violão nas férias de verão à alguns anos e o resto eu praticamente aprendi sozinha. Além das aulas extras que eu escolhi fazer no ensino médio, a maioria delas relacionadas à música.

Nunca fiz questão em sair contando para todo mundo, então acho que é um lance mais meu. Logan deve ser o único que sabe alguma coisa.

Sempre tive interesse em tocar e cantar, mas nunca fui muito apoiada. Em geral, Logan era meu fã número um, já que meus pais achavam que música não daria em lugar nenhum além de um hobbie idiota.

Então com isso ganhei meu primeiro violão de Logan, assim que fiz quinze anos. Sei que meu irmão o comprou com o dinheiro que ele chamava de Grana Para Sair de Casa, que o mesmo juntava desde quando começou a trabalhar de garçom no café perto da escola.

Lembro de ter o agradecido tanto que Logan teve que me dizer que estava na promoção e por isso o comprou. Mas eu sabia que aquele modelo não era barato, então devo ter feito meu irmão gastar metade da sua reserva de dinheiro comigo.

Tenho até hoje o melhor presente que já recebi, pendurado na parede do meu quarto, logo acima da cama. Estou o encarando agora mesmo, enquanto acabo de me arrumar.

Nick havia me mandado mensagem alguns minutos antes, dizendo exatamente que estava cansado de encarar sua própria cara duplamente e de não ter nada para fazer, então me obrigou a ir até lá para não fazer nada com ele. 

Além de Matt ter me mandado diversas mensagens meia hora atrás me chamando para jogar Mario-Kart com ele, porque segundo o garoto, ele não aceitava a derrota anterior. 

Eu tinha dois convites para a casa dos Sturniolos e realmente havia pensado em dispensar os dois, porque querendo admitir ou não, estou tentando evitar Chris para minha ideia de ser difícil finalmente começar e dar certo.

Mas como seus irmãos haviam feito questão de me chamar, não iria simplesmente dispensá-los. Então respondi aos dois que em meia hora estaria lá. 

Matt questionou sobre como eu iria ir até a casa deles, o que me fez concluir que Logan não contou nada relacionado com a minha carteira. Me olho no espelho da entrada antes de sair, analisando minha roupa. 

Estou vestindo o moletom de Chris pela última vez, já que o mesmo vai ser devolvido hoje, uma regata branca justa por baixo e calça moletom cinza. Além do meu tênis branco novinho da New Balance.

Mas reparo que estou de trança, então as solto. A última vez que me viram eu estava do mesmo jeito, o que me faz deixar meu cabelo solto para os garotos não acharem que eu sou uma largada.

Não vou negar que o caminho até a casa deles foi totalmente esquisito. Primeiro porque meu medo de encostar no volante era maior do que tudo. E segundo, ainda não sei como vou encarar um certo Sturniolo.

Quando coloco um pé dentro da casa, sou recebida por uma montanha de perguntas e exclamações:

- Nem fodendo que você tirou a habilitação? - Nick diz, com um sorriso enorme no rosto.

- Tirei! E passei de primeira na prova.

- Caralho Liz, parabéns!

Matt me recebe com um abraço apertado e um sorriso nos lábios assim como o do irmão.

- Que nada, não ia ter conseguido passar se não fosse por você e suas aulas particulares. 

Ele sorri de volta com a minha fala, enquanto Nick fala com alguém por cima do meu ombro:

- Chris, vem logo aqui. Lizzie tirou a habilitação e veio dirigindo sozinha até aqui. Dá pra acreditar?

Encaro o agora ruivo na minha frente com um olhar mortal. Não que eu tenha contado tudo a Nick e Madi, tirei algumas partes fundamentais da história que eu não estava pronta para compartilhar com eles e arrumar ainda mais desculpas.

Quando o garoto desce as escadas, me encara profundamente, como se me olhasse de cima a baixo. Logo depois, abre um sorriso discreto. E então me lembro que ainda estou usando seu moletom.

Chris se aproxima e passa o braço ao redor dos meus ombros, como se não se importasse com as confissões que fez para mim há alguns dias.

- Caralho. Eu só acredito vendo.

O encaro, com as sobrancelhas arqueadas e então digo:

- Vamos lá, todo mundo no carro. Agora.

Meu tom não deve ter soado nem um pouco doce e calmo, já que Nick e Matt me encaravam como se estivessem com medo de mim.

- Vocês ouviram a mulher aqui. Todo mundo pro carro. Agora.

 O abraçado a mim diz, já saindo pela porta da frente, enquanto esperamos que os outros dois venham bem atrás de nós.

Chris parece não se importar, só continua andando em direção ao carro. Ele olha para trás uma vez antes de começar a falar, tão próximo a minha orelha que conseguia sentir sua respiração quente contra minha pele.

- Ainda usando isso?

- Sério, nem começa Christopher.

- Só queria dizer que pode ficar com ele, Elizabeth. Não seja tão chata, você sabe que eu gosto ainda mais das esquentadinhas como você.

Ele diz e me lança uma piscada, com o rosto bem próximo ao meu. E isso com toda certeza fez minhas pernas cambalearem, como se não respondessem mais os comandos do meu cérebro. 

Quando me dou conta, Matt e Nick haviam passado por nós há um bom tempo e já estavam nos esperando no carro. E também que Chris estava me guiando para a porta do motorista e fico surpresa com a atitude do mesmo segundos depois.

Ele abre a porta para mim, se apoiando na mesma e diz, antes mesmo de fechá-la: 

- As Damas primeiro.

A Dama e o Vagabundo | Chris SturnioloOnde histórias criam vida. Descubra agora