Capítulo 7

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MORGANA GARCÍA

Confesso que deis do meu aproximamento com os meninos invejei a relação deles. Era incrível como duas pessoas poderiam se importar tanto. Era invejável ver como os dois poderiam fazer o possível e o impossível um pelo outro. Mas poderia repensar esse sentimento de inveja quando vi toda aquela dor que Kai transmitia. Passei boa parte da minha vida não me importando com quem ficaria e com quem iria embora,todos poderiam ir se quissesem. E vê-lo sofrer tanto daquele jeito pela partida de Alan,me fez querer nunca ter uma relação igual a deles.

Era legal ter alguém que se importasse,mas não valeria a pena se ela fosse embora em um dia qualquer,como se nunca tivesse se importado. Amar demais causa muita dor,machuca o suficiente para criar cicatrizes. Confesso que sou hipócrita quando digo que as pessoas precisam se permitir,sendo que eu não sigo meu próprio conselho. Acredito nesse pensamento,mas não quero mais cicatrizes por enquanto.

—Me explica isso direito,ele simplesmente foi embora?assim sem mais nem menos?—pergunto confusa.

—Ele teve seus motivos.—Fala me deixando ainda mais confusa. Kai parecia não querer falar sobre isso,de certa forma eu até entendia seu lado. Talvez seja algo pessoal,ele pode sentir que está traindo o melhor amigo contando seus assuntos pessoais.

—Vocês brigaram?—tento arrancar pelo menos uma informação vendo o garoto balançar a cabeça em sinal de negação.

—Não,na verdade,sim.—se enrola com suas próprias palavras—Mas não foi por conta disso.

Definitivamente era um assunto pessoal.

—Me desculpe.—solta depois de um breve momento de silêncio.

—Como?—pergunto confusa vendo seu rosto aos poucos voltando ao normal. Antes estava vermelho e coberto de lágrimas,agora sua pele branca e seca voltou a ser presente.

—Não posso e nem quero falar sobre isso. Acho que peguei a mania daquele idiota de guardar meus sentimentos para mim.—Bufa triste pegando seu celular no bolso da calça que usava.-Sabe,ele não foi embora,não definitivo.

Confessa não querendo deixar realmente tudo para si.

—Você sabe quando ele volta?ou pelo menos tem uma ideia?

—Não faço a mínima ideia,aquele garoto é imprevisível. Pode voltar amanhã,em um mês,um ano. Não sei. Queria pelo menos saber se ele está bem,eu sei que não,mas eu queria que ao menos uma vez ele admitisse isso. Colocasse para fora. Quando alguma coisa de ruim acontece,ele foge,se fecha. Entendo seu medo,mas queria que ele percebesse o quanto seu egoísmo também pode me afetar.—desabafa com raiva ainda olhando para seu celular que permanecia com a tela fechada.

Fico me perguntando o que teria acontecido de tão grave para ele ir embora assim,sem dar explicações,sem se importar até mesmo com Kai. Não o conhecia por completo,mas vê-lo fazendo isso com o melhor amigo me surpreendeu.

—Eu tenho certeza que ele só precisa de um tempo sozinho,todos nós precisamos não é?não acho que ele não confie menos em você por não falar. É questão de criação,você deve saber muito bem disso já que conhece ele muito melhor que eu.—ele concorda ainda com seu olhar fixo no celular. Acho que ainda tinha esperanças que o amigo mandasse uma mensagem informando sobre seu paradeiro.

Passamos cinco minutos em puro silêncio. Kai ainda continuava com sua atenção presa no celular,não falava nada,não expressava nada. Mas eu não queria deixá-lo só,informar que tenho aula agora e simplesmente ir embora,não queria isso. Ele precisava de companhia agora,não para desabafar,e sim para sentir que não estava sozinho.

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