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     Já era o sexto dia em que estava sozinha na minha nova casa. Depois de vários anos tentando encontrar a minha liberdade, enfim eu podia respirar aliviada e ficar feliz por deixar para tráz tudo aquilo que me fazia mal. Amigos, família e um relacionamento naufragado ficaram em um passado que eu faria questão de nunca trazer à tona.

     Minha nova casa não era daquelas que todos sonham em ter, mas as paredes brancas descascadas que me observavam quando eu cheguei ali deram lugar a agradaveis tons de lilás e vinho, coordenados com a decoração leve, que me fazia sentir em um paraíso de paz.
Tudo ia bem até então, eu tinha uma boa casa, estava fazendo novos amigos, e já aguardava para ingressar no meu novo trabalho.

     Em meio ao meu novo circulo de amizades, eu, particularmente criei um carinho muito especial por uma garota chamada Ivana, que devia ser uns 2 anos mais nova que eu. Ela foi a única pessoa que me fez sentir a vontade comigo mesma em 23 anos de vida, e isso me fez considerar muito a sua amizade e presença.

     Segunda-feira pela manhã eu peguei o metrô rumo ao centro para comprar os mantimentos necessários para passar o mês, e enquanto me direcionava ao supermercado eu vi algo que me chamou bastante a atenção: era um anúncio colado em um poste, em frente a uma pequena agência de viajens, no papel colado grandes letras, levemente borradas pela humidade, diziam que um grupo oferecia recompensas de grandes quantias para quem conseguisse realizar o desafio de encontrar o final da Casa Sem Fim.

      Não vi muito sentido, nem me senti atraída por aquilo. Pareciam aqueles desafios que crianças desocupadas faziam para provar sua coragem frágil umas as outras.

     Mesmo assim, memorizei onde estava o folheto, e continuei meu caminho normalmente.

     Por algum motivo aquilo tinha me chamado muito a atenção, apesar de parecer estúpido, e pensei naquele desafio o tempo todo quando quando estava no mercado. Estava distraída demais para perceber que a movimentação estava muito mais alta que o normal, e foi nesse meio tempo de distração, enquanto passava pela seção de frios, que alguém passou correndo por mim de uma maneira que só um fugitivo igualaria, e aquilo me fez voltar ao mundo real em um súbito desvio de atenção dos meus pensamentos para as minhas mãos, que seguravam o carrinho com força, devido ao susto.

     Aquela pessoa, aparentemente um garoto de uns 15 anos, estava com uma camiseta branca suja de terra e com folhas secas de árvore grudadas no cabelo, e segurava um maço pequeno de folhas de papel em suas mãos, como se sua vida dependesse daquele objeto.

     Parei por um segundo e ergui os pés para tentar ver através da multidão, mas ele aparentemente havia sumido. Com os olhos semisserrados eu olhei para os lados, podia sentir minha expressão de confusão estampada em meu rosto.

      Olhando ao redor, não entendia porque, mas aparentemente todos permaneciam como se não tivessem visto aquilo, como se fosse um truque do meu psicológico, mas eu tinha absoluta certeza que não havia sido ilusão minha.

     Sem idéia do que pensar, resolvi ignorar, pensei comigo mesma que deveria ser normal por ali, afinal a cidade era muito grande, diferente de onde eu morava, e certamente esse tipo de coisa era comúm.

     Pensava comigo no quanto seria difícil me acostumar aos novos meios em que viveria, mas tinha certeza de que tudo passaria em alguns dias.

     Na saída do supermercado eu passei meu endereço para que pudessem entregar, já que eu ainda estava sem nenhum tipo de transporte particular e haviam muitas sacolas para carregar, e fui para casa.

     Era outono, e o vento já era bastante forte, o frio já se fazia presente. Sem estar preparada para esse tipo de clima, afundei as mãos nos bolsos do meu casaco fino, e me apressei para chegar ao metrô.

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