VIII Sala 4 - parte II †

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Ocasionalmente temos pesadelos em que acabamos paralisados pelo medo e não conseguimos fazer nada, mesmo sabendo que nossas vidas dependem disso. Dessa vez não era um pesadelo, apesar de ser pior que um.

Eu nem sequer conseguia controlar minha respiração, muito menos meu corpo. Mesmo que tentasse, não podia mover um músculo; eu sentia cada vez mais a necessidade de correr dali, mas estava paralizada pelo medo.

Quando finalmente consegui me virar e correr, mesmo que de forma meio estranha, meu "pai" já estava a cerca de dois metros de mim. Eu tentava correr o mais rápido que podia, mas os escombros da explosão dificultavam muito a passagem e eu sentia a presença daquele homem cada vez mais perto.

Quando consegui passar pela área onde os escombros estavam eu olhei brevemente para trás enquanto corria e vi que ele ainda estava se aproximando rapidamente e, quando olhei de volta para a frente, eu vi que várias armadilhas surgiram por todo o corredor, pelas paredes, no chão, vindos do teto, não haveria como passar por todas elas.

Eu parei bruscamente quando uma imensa placa de ferro com espinhos cravados desceu subitamente do teto ficando a apenas alguns centímetros do meu corpo. Eu olhei para trás e não sabia o que seria pior, eu estaria morta em segundos se não me arriscasse, mas possivelmente aconteceria o mesmo se tentasse passar. Preferi prosseguir, mesmo que a chance de conseguir fosse quase nula. Passei por cima da placa e corri em frente, mas quando corri novamente os vasos de planta passaram a explodir, como aconteceu com a janela, lançando fragmentos de vidro em todas as direções, podia sentir o sangue escorrendo dos cortes que se abriam no meu rosto, mas isso não me faria parar.

Eu ouvia vozes falando meu nome, gritos indefinidos, não conseguia raciocinar direito.

Enquanto corria eu sentia as caimbras nas minhas pernas, eu mal conseguia continuar. Eu passei a não sentir mais onde pisava, olhei para trás por um breve segundo e não vi mais o homem que me perseguia. Um alívio momentaneo surgiu, mas quando me virei ele estava lá, parado a alguns metros de mim, mas não como antes, estava como meu pai era realmente, estava com seus óculos e sua camiseta listrada, segurava nas mãos uma boneca, que me parecia familiar, e com a outra segurava a mão de uma garotinha, muito parecida comigo quando tinha seis anos. Na verdade era... Idêntica a mim.

Ela segurava uma arma com um laço cor de rosa amarrado, podia ver que estava triste pelo seu olhar, estava usando o meu vestido preferido de quando era criança e não usava sapatos.

O "meu pai" soltou a mão da garotinha, talvéz eu, não sabia mais o que achar, e tirou da parte das costas da boneca uma pequena caixa de munição e uma faca, entregou a munição a garota, que recarregou a arma.

Eu sentia meu rosto queimando, não tinha idéia do que fazer, eu não conseguia pensar em nada, só fiquei ali, parada.

O homem segurava a faca firmemente nas duas mãos, pude ver que começava a chorar. A garota jogou a arma para mim, mas não consegui pegar, pois meu corpo não respondeu ao impulso, então ela caiu nos meus pés, algo me dizia que era melhor pega-la. A garotinha tinha um semblante que misturava medo e tristeza, enquanto que o homem passou a chorar descontroladamente, mas era como se os movimentos do seu corpo não equivalessem as suas emoções. Ele ergueu a faca e, antes que eu pudesse fazer algo, atingiu as costas da garota. Isso refletiu em mim, eu senti o que ela sentia, o que me fez cair de joelhos nos cacos de vidro do chão.

Era como se ele fosse controlado por algo maior, não sei o que poderia ser, mas era a mesma coisa que estava fazendo aquilo comigo. Eu não sentia sangue nem ferimentos no meu corpo, mas sentia a dor de uma facada, eu precisava fazer alguma coisa para parar aquele homem, para ajudar a mim mesma e também a eles.

Peguei a arma e apontei para ele segurando com os dois braços. mas minhas mãos tremiam de tal forma que mal conseguia segura-la, muito menos mirar corretamente. Antes mesmo que eu pudesse arriscar um tiro ele acertou o braço da garota e mais uma vez foi refletido em mim. Tentei manter o braço que me restava o mais firme que pude e atirei, acertando de raspão a perna dele, eu vi o semblante de dor em seu rosto, mas seu corpo permanecia se movimentando da mesma maneira.

Tentei atirar novamente, mas errei terrivelmente, acertei em um dos quadros da parede. Ele olhou para onde eu tinha atirado e depois olhou fixamente em meus olhos, ergueu seu braço mais uma vez para atingir a garota novamente, mas desta vez eu tive tempo de atirar. Nesta tentativa eu acertei seu pescoço, o que o fez cambalear para trás, mas quase que imediatamente, mas quase que no mesmo instante ele voltou para golpear a garota novamente, mas foi impedido por um tremor repentino, que fez com que perdesse o equilibrio e caisse.

O tremor era resultado do movimento das paredes, como naqueles filmes de aventura, elas começaram a se fechar. O homem estava agora imóvel, não sei se estava morto, e a garota agora estava de pé, olhando pra mim.

Não faria idéia do que faria agora, como iria parar as paredes, o que faria com a garota? Não havia tempo para chegar ao fim da sala, nem mesmo possibilidade, os destroços quase impediam a passagem por completo.

A garota ergueu o braço, apontando pra mim como em brincadeiras de polícia e ladrão, e seus movimentos se repetiram no meu corpo fazendo com que eu erguesse a mão que segurava a arma, da forma como achei que estivesse acontecendo com aquele homem. Durante exatos cinco segundos o tempo simplesmente... Parou. Nesse meio tempo eu não tive reação alguma, só pude observar a garotinha sussurrando a expressão "puf" e movendo a mão como se estivesse atirando, fazendo com que a arma disparasse acertando em cheio a cabeça da garota, ela caiu de costas e eu também, eu senti tudo ficando distante, minha visão escureceu e eu perdi a noção da realidade.

(...)

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