VI Sala 3 †

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Entrei na sala três sentindo as náuseas da anterior, confusa com tudo aquilo. Eu só pensava em ir pra casa, em acabar com aquilo tudo.

Era ainda pior depois de ler o que havia na caderneta, era confuso demais pra mim, meu ceticismo não poderia superar aqueles desafios por muito tempo.

Respirei fundo e prossegui. A sala três era um amontoado de caixas de madeira, como se fosse um labirinto, eu nem podia ver as paredes e o chão era coberto por um musgo verde, era iluminada por luzes de velas que ficavam presas nas caixas e era muito mais frio ali do que no resto da casa.

O silêncio era absoluto, como se nem eu mesma estivesse ali.

Peguei a lista de objetos para conferir o que enfrentaria agora:

◆Candelabro;
◆Vela vermelha;
◆Vela amarela;
◆Vela preta;
◆Caixa de fósforos;
◆Mapa da sala;
◆Martelo;
◆Chave;
◆maçaneta;
◆Sino;

As coisas ficavam mais difíceis com o passar das salas e eu estava descobrindo isso do pior jeito possível.

Comecei a caminhar por entre as caixas, os sons dos meus passos soavam estrondosos, apesar do chão ser revestido de musgo.

Sentia a todo momento que estava sendo observada por algo, mas quando buscava encontrar alguém eu via apenas as caixas vazias, o silêncio era inacreditavel.

Enquanto caminhava fui, aos poucos, encontrando os objetos da lista pelos cantos, empilhados junto com caixas quebradas e folhas secas.

Já tinha quase tudo, faltavam apenas a maçaneta e a chave.

Seria complicado levar tudo aquilo nas mãos até o fim da sala, ainda mais tendo que consultar o mapa, então pensei em pegar uma das caixas menores para levar as coisas, assim poderia ser mais fácil.

Procurei por uma que não estivesse tão alta, para que pudesse alcançar com facilidade. Havia uma entre as outras maiores, fui até ela e, quando estiquei o braço para alcançar, eu vi um tipo de tentáculo sair de dentro de uma das caixas maiores e tentar pegar meu braço.

Meu coração acelerou e passei a respirar ofegante quado recuei, deixando cair tudo no chão.

Fiquei parada por alguns segundos até voltar à realidade, minhas mãos estavam suando e tremendo. O que era aquilo?

Depois de um tempo eu recolhi os objetos e consultei o mapa para me encontrar, mas, quando derrubei tudo, ele acabou sendo totalmente danificado pelo musgo úmido que cobria o chão.

Havia perdido a maior ajuda que tinha pra sair dali. O pior era o fato de ter visto aquela coisa sair da caixa, sabia que tinha que prosseguir mesmo sem o mapa.

Arrumei tudo da melhor maneira que consegui e continuei caminhando para encontrar os outros objetos e sair dali. Pensava a todo momento se haveria outras caixas com criaturas assim pela sala, mas já sabia a resposta.

Caminhei olhando atentamente para todos os lados, quando ouvi algo batendo contra as caixas. Olhei assustada e vi braços deformados, que pareciam ser feitos de sombras, saindo das caixas e, em alguns destes, eu podia ver o "corpo" logo atrás, a cabeça, com buracos que pareciam infinitos no lugar dos olhos, eu me sentia cada vez mais fraca quando observava seus corpos arrastando no musgo do chão, como se sugassem minha energia para se alimentar.

Recuei, corri e tentei encontrar outro caminho para seguir, fugir daquelas coisas, mas por onde eu passava eu via mais e mais deles saindo daquelas caixas, alguns pequenos, outros grandes e outros que mudavam de forma.

Por onde eu fosse, sempre acabava ficando sem saida, encontrava pilhas e pilhas de caixas me impedindo de prosseguir.

Precisava pensar rapido, muito rapido.

Claridade! Se eram mesmo feitos de sombras poderiam ser espantados pela luz, como na primeira sala.

Busquei por um lugar que tivesse mais tempo para acender as velas no candelabro, mas parecia que eles se multiplicavam, se aproximavam, puxavam meu tornozelo para tentar me fazer cair, eram gelados e pareciam atravessar meu corpo, me fazendo sentir cada vez mais fraca.

Depois de muito correr, tive cerca de quinze segundos para acender as velas, mas não consegui acender todas. Havia espaço para oito, mas eu acendi apenas três, não sabia se seria suficiente, mas era a única alternativa que eu tinha.

Segurei a base do candelabro com as mãos tremulas e estendi em direção às criaturas que vinham em minha direção e, para minha terrível surpresa, não havia adiantado em nada, elas continuavam se aproximando cada vez mais rapido.

Em súbito desespero, deixei cair o candelabro no chão, as velas rolaram em direções diferentes, e quando o fogo se aproximou de uma delas, esta se afastou grunhindo um som ensurdecedor, deixando as outras em alerta e inquietas. Calor!

Por isso ali era tão frio, aquelas criaturas não sobreviviam sob presença de calor.

Como não teria fogo para afastar todas elas, pensei rapido em uma solução, que não sabia se funcionaria. Chutei uma das velas de encontro com uma pilha de caixas isoladas, iniciando um pequeno incêndio, que fez todos se afastarem rapidamente.

Minhas pernas falharam, tremeram fortemente e eu cai de joelhos. Fechei os olhos sem saber se havia acabado mesmo. Queria acabar com tudo aquilo, não valia a pena, mas não havia como, eu tinha que prosseguir.

Fechei os olhos um segundo e chorei, outra vez. Abaixei a cabeça e senti um peso desvair da minha volta, senti tudo mais leve, o ar parecia tão acolhedor, como se... Estivesse em casa de novo.

Mas, quando abri os olhos, ainda estava ali. As caixas ainda queimando, eu ainda estava presa, porém segura, mas era melhor sair dali antes que se apagassem.

Me levantei e, quando olhei para o lado, eu vi uma abertura em meio ao labirinto, formando um corredor que ia direto para uma porta com o número 4.

Peguei os objetos que pude encontrar em meio ao caos e caminhei até ela, carregando comigo um pedaço de madeira acessa, por precaução. Quando estava no meio do caminho o corredor começou a ficar diferente. O ar estava rarefeito, um cheiro de carne podre inundava o ar e senti meu corpo amolecer, minha mente estava apagando.

Tudo escureceu durante alguns segundos que pareceram milenios. Quando finalmente consegui retomar minha visão, estava no chão, as paredes do corredor estavam se fechando. Tentei me levantar para alcançar a porta, mas percebi que estava acorrentada, não conseguia sequer me mover.

Isso não tá acontecendo comigo!

Quando vi que as paredes iriam se colidir eu fechei os olhos com força e, de repente, tudo ficou em silêncio.

Abri os olhos devagar, as mãos, de repente livres, tapavam meu rosto, uma claridade imensa machucou subitamente meus olhos. A sala agora era pequena e estava totalmente vazia, o chão era coberto por um piso de madeira lustrada e haviam janelas por todas as paredes, com exeção daquela onde estava a porta com o número 4, esta era coberta por espelhos de cima a a baixo.

O que? Como isso é possível?

Eu não sabia mais de nada, não entendia nada.

Levantei sem entender o que se passava, caminhei até a porta e vi que a gaveta não estava ali, ao invés disso havia uma caixa decorada, como se fosse um presente. Dentro dela estavam todos os objetos da lista, inclusive o mapa.

Não sabia o que estava acontecendo, estava assustada, sem saber qual atitude tomar, mas só sei que queria sair logo dali.

Abri a porta sem certeza se seria melhor que esta e fui para a próxima sala.

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