THE FEAR

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Me desculpa irmão. Fui covarde.

A necessidade de implorar por perdão queimava a pele, penetrando até os ossos de forma ensurdecedora fazendo o rapaz assustado perder - teoricamente - a capacidade de ouvir e compreender.

Enquanto isso, um mar de perguntas o afogava, sem pena. Seguindo um padrão, os mesmos questionamentos executados pela mesma voz e no mesmo ambiente a mais de cinco horas. Foi possível gravar o tom calmo e irritante do investigador em sua mente, que lhe lembrava vagamente a mesma do seu personagem de desenho favorito, mas ao invés de dizer coisas do tipo "roubaram meus biscoitos" ele preferia perguntar sobre um cadáver desovado na beira de um lago.

Preso em seu estado de transe, Taehyung encarava as mãos ressecadas e os pulsos, presos por uma algema que maltratava a pele. Lambia os lábios, engolia a saliva que se acumulava na boca a cada minuto de tensão, piscava os olhos quando já não aguentava o ardor de mantê-los abertos. Todo esse conjunto agoniante se fundia com a dor latejante do ferimento na parte de trás da cabeça, ainda mal cicatrizado.

Apesar disso, o transe o mantinha distante de todas as dores físicas. Era como sonhar acordado, preso em outra realidade nada agradável, uma realidade agonizante e pegajosa grudada nas paredes do cérebro como uma praga, tornando todas as imagens daquela noite abstratas, porém, impossíveis de esquecer.

Borrões inacabados armazenados em sua memória exibia o corpo sem nenhum rastro de vida, passando por sua fase inicial de decomposição. A pele pálida, dedos inchados com a coloração arroxeada sem a presença das unhas, eram os pontos mais visíveis, porventura, a cabeleira ruiva cobria parte do rosto e as roupas cobria o corpo, dificultando a identificação da causa da morte.

Taehyung estava a poucos metros dele, o estado de choque o deixou paralisado por um bom tempo, sentindo o odor podre da carne decomposta. Apesar da dificuldade em lembrar como encontrou o corpo, o cheiro característico era algo que não conseguiu arrancar de sua memória.

Imagine deparar-se em um canto escuro, sem a certeza de onde pisar. Em locais assim, o olfato e a audição são cruciais para encontrar algum ponto que o cérebro considere seguro. Enquanto você executa esses passos, a amígdala cerebral te deixa em estado de alerta, sua respiração pesada denuncia o medo, entrando em contradição com seus pensamentos que o julgam medroso. A cada passo você se vê mais afundado no escuro. A sensação de perseguição começa a te rondar, alguém está a espreita, pisando nos galhos e folhas secas, denunciando sua presença assustadora. Você olha para os lados, para trás e para o alto, a luz natural da lua já não ajuda mais com o caminho. Você continua, passo por passo, rápidos e ritmados. E então, você ouve um som diferente, algo se chocando contra a água, trazendo junto o cheiro absurdo de podridão.

É possível imaginar a carne se desfazendo por centenas de larvas, cada órgão sendo dilacerado por dentro com a brutalidade faminta. Em um rastro de adrenalina, você se aproxima, o choque lhe atinge, não há presença de sangue, nem de larvas e muito menos carne podre exposta, ainda sim era possível sentir o cheiro, sentir o pavor e o nó na garganta te sufocando sem piedade.

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