Forasteiros na cidade grande são os únicos dispostos a revelar os segredos enterrados por aqueles em quem não se pode confiar.
Taehyung era o forasteiro, empurrado para o emaranhado de fios contendo segredos daquela maldita noite de dezembro de 1984...
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O cutelo milimetricamente afiado ceifava com brutalidade a carne morta. De primeira, invadia as camadas extensas da pele até chegar nos músculos e por fim, partia os ossos. O som estridente da lâmina afiada contra cada parte úmida era o único presente na casa.
Ele usou a parte seca do antebraço para secar o suor acumulado na testa, enquanto a outra mão agarrava com firmeza a pele que cobria as coxas, retirada quase por completo. A princípio, Jungkook achou uma tarefa impossível de se realizar, não havia nenhuma experiência em separar as partes de uma galinha inteira.
As cinco da manhã, com o livro de receitas ao lado, ele planejava como iria cozinhar tudo, dês da pele elástica dos pés até a carne macia do pescoço.
Após separar as coxas e pôr em uma bacia, ele precisou de cautela para separar o peito do osso para depois cortar em cubos, nunca pensou que separar a carne dos ossos fosse tão difícil.
— Puta merda... — A voz rouca, subitamente grave, ecoou da entrada do cômodo. Jimin olhava para seu companheiro de república como olharia para qualquer um que encontrasse esquartejando um frango as cinco da manhã. Sobrancelhas franzidas, lábios tortos e olhar acusador, caracterizava a confusão de Jimin diante da cena embaraçosa.
Jeon não possuía dote nenhum para a culinária, isso era um fato. Contudo, ele não deixava se levar pelo óbvio, afinal, a prática leva a perfeição. Continuou separando partes do frango como se Jimin não estivesse não mesmo ambiente.
Por sua vez, Jimin também não deu a mínima para o silêncio da parte de Jeon, era o normal. Não conversavam nada além do necessário, como pedir a chave que dividiam ou perguntar sobre o clima. Não que a estranheza da convivência entre eles fosse algo pessoal, apenas tinham controvérsias a respeito de muitas coisas, deixando claro que seria melhor cada um viver no seu canto, fazer sua própria comida e organizar suas próprias coisas, e o principal de todos, evitar barulho.
Jimin atravessou a cozinha em passos preguiçosos, até chegar no pequeno rádio que ficava em uma das prateleiras expostas, ao ligar, ficou satisfeito que o noticiário ainda passava. A voz de locutor do jornalista logo preencheu todo o cômodo, abafando até o ceifar do cutelo contra o frango. Ainda sonolento, ele abriu a geladeira, agarrou a caixa de leite solitária na primeira prateleira, despejando o líquido branco em uma xícara que continha chocolate em pó, por fim, tomou o primeiro gole da bebida gelada com satisfação.
Escorado no balcão de frente para Jeon, ele ouvia atentamente as notícias enquanto observava o desleixo do colega ao temperar as partes já separadas do animal.
"Diante da revolta eminente da população, o oficial de polícia de Los Angeles, Jim Martin, assegurou que não é o encerramento do caso e sim o encerramento das buscas, deixando claro que ainda estavam apitos a qualquer informação que poderia ajudar no caso, como denuncias de civis que possam ter avistado jovem universitário Allan nos últimos trinta dias."
