Capítulo 01

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Capitulo 01

O cheiro de grama molhada é tão bom quanto cheiro de pão fresco e quentinho de manhã. Apesar do meu corpo está dolorido, devido a noite mal dormida continuo minha caminhada até o vilarejo. Preciso comprar algumas peles e um pouco de carne seca para preparação do inverno. Logo começará a nevar e se não correr o mercado logo estará lotado e os estoques acabando.
O burburinho que ouço é que o Lorde Octavius logo estará na vila para coletar os tributos, e vai vir com um pequeno exército.

- Ei Nyx!

Paro e vejo o Isaías vindo até mim, passando por alguns moradores e vendedores, sim fiz bem vir mais cedo.

- Bom dia Isaías - o comprimento.

- Você anda sumida, não compareceu ao baile de inverno?

Será que não compareci porque ninguém se dignou a me chamar?

- Eu estou ajudando minha mãe, ela está com uma encomenda grande de um bálsamo cicatrizante - repondo.

- Ee.. sobre isso que também queria conversar com você sabe...

- Sim? - olho para ele enfim parando de andar e uma nuvem de poeira sobe.

- Olha nem sei como começar a falar disso - ele passa a mão calejada por seus fios curtos e pretos do cabelo, admito que sentia uma pequena queda por ele, bem ele tinha uma estrutura média e um porte forte já que era filho mais velho do ferreiro - Mas está se espalhando que sua mãe não é só uma simples curandeira...

- Huh? - Olho em volta reparando que algumas pessoas estão olhando e outras desviando fazendo um sinal religioso.

- Nyx, não eu, mas as pessoas estão falando que ela é uma bruxa.

- Isaías isso é... ultrajante.

- Você é minha amiga, e vamos ser sinceros aqui! - ele diz e pega no meu braço me tirando da estrada e paramos sob uma árvore - Sua mãe chegou na vila com você ainda pequena, eu lembro e desde que crescemos ela não mudou nada! E alguns dizem que é magia... e.

- E o que? Se é meu amigo mesmo porque dá ouvidos? Isso é insanidade, sabe? Ela só tem uma ótima pele! - falo rápido demais meus ouvidos zumbindo.

Isaías olha pra mim com pesar e angústia, sei que quer me manter informada e preparada para encarar o mercado e as pessoas, ele é um bom amigo - Não queria te aborrecer, só achei que deveria saber...

- Não preciso da sua pena Isaías! - ele se encolhe com meu ataque - Se essas pessoas supersticiosas isso é problema delas, minha mãe não tem nada haver, e ficarei feliz de dizer a ela que não estenda ajuda a mais ninguém daqui!

Saio antes que ele veja minhas lágrimas se formando, como as pessoas podem ser tão malvadas? Ou estúpidas?

°°°

Logo após chegar do mercado sem nada, minha mãe não fez perguntas. Só me convidou para irmos até o bosque pegar alguns cogumelos e tomilho. Estamos em um silêncio confortável e absorvendo os sons da natureza, o quebra mar, o vento e um sapo ao longe.

- Vai me dizer o que aconteceu no mercado ou vou ficar curiosa?

Levanto os olhos para ela, está sentada na grama comendo uma maçã, a posição descontraída a deixava mais jovem. E isso é realmente bizarro - Nada, que seja uma grande besteira - arranco o tomilho com mais força e o jogo na cesta.

- Quer falar sobre isso?

- O Isaías disse que as pessoas te acham uma bruxa! - digo com o coração apertado. Com medo de como ela vai reagir.

O que eu não esperava era uma gargalhada - Esses, não essas pessoas são tão... - ela não termina pois continua a dar risada.

- O que é tão engraçado assim? Eles podem fazer coisas horríveis! Ainda mais com aquele homem vindo pra aldeia.

- Quem filha? - pergunta se controlando um pouco.

- Lorde Octavius.

- Homem arrogante sim, mas ele só vem com seu rebanho para poder levar mais comida, dessa gente não lidar com alucinações do pequeno vilarejo.

Fico em silêncio, se ela não está preocupada não vou ficar atormentando ela. Mas ela me olha com tanto amor e começa a cantar, uma canção de ninar em uma língua que desconheço. Mas uma vez perguntei qual era a tradução da música e ela me disse que era sobre senhores da natureza e que enviava seus melhores sonhadores para o fosso. Para que o guardião os levasse para seu destino.
Um arrepio subiu pela minha coluna, a um buraco no meio desse mesmo bosque que dizem que lá é a boca do inferno, alguns jogam flores e oferenda para que o mau não venha para cima.

- Venha minha pequena chama, vamos pra casa.

Nós retornamos, mas parece que a canção continua em nossas costas, como se a floresta cantasse também.

°°°

"Isaías estava parado ao lado de fora do celeiro ouvindo o que os seus amigos e vizinhos estavam falando e sentiu o jantar querendo sair e se sentiu mais enjoado quando o Lorde Octavius se sentou e sorriu para todos"

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