Segundo dia da lua de mel

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   Confesso que o dia de ontem foi bem estimulante. Minha impressão inicial sobre a princesa foi que ela é uma menina mimada e embora eu não esteja errado, devo admitir que ela é um pouco mais que isso. Ao que parece nem toda mimada é necessariamente nojenta. Eu já deveria ter notado as pequenas coisas que aprendi sobre ela. Uma princesa mimada e nojenta não iria perder tempo e desgastar suas unhas brincando com terra, mas Emily afirmou mais de uma vez que gosta de praticar jardinagem, durante a semana que passou em meu castelo ela havia comentado em certo momento que era a principal responsável por cultivar as flores que cresciam no pequeno jardim de sua varanda. Princesas mimadas também não arriscariam ficar fora de uma dieta saudável e nutritiva, elas jamais trocariam maçã ou suco de laranja por café e com certeza não se importariam em ser banhadas, secadas e vestidas por criadas. Afinal, para que fazer algo sozinho se outros podem fazer por você? Emily é de fato diferente nesses aspectos.
   Que bom que me casei com alguém que apesar de mimada e alienada, não é nojenta.
   Devo admitir que o passeio no campo foi agradável e que gostei de apreciar vinhos e jogar com ela. Por incrível que pareça foi uma atividade divertida e uma conversa estimulante.
   Um novo dia se inicia e acredito que ela levantou mais cedo como um tipo de vingança por ontem, mas não importa. Me arrumei, tomei café da manhã e comecei a procurá-la. Não foi difícil encontrá-la. Sua voz melodiosa guiou meus ouvidos até o ateliê em que ela está pintando, vestida com algo mais simples que ontem e com um avental azul claro, pintando uma paisagem em aquarela enquanto cantarola uma melodia que eu facilmente confundiria com um cântico sagrado de um anjo.
   Ela é de fato uma alienada que viveu num mundo de fantasia durante toda a vida e nada sabe sobre a realidade, mas sou obrigado a admitir que nesse estado de concentração, ela parece uma figura divina.

– Sequer me esperou para começar?

   Ela pareceu despertar de um transe quando ouviu minhas palavras, sua feição serena logo mudou para a clássica do dia a dia.

– Agora estamos quites.

   Eu sabia que estava se vingando. Que mulher infantil.

– Eu não reconheço essa paisagem.

– São as montanhas gêmeas do império Diamante, elas são lindas. No meio tem uma cachoeira e as flores são tão únicas, tenho algumas mudas que Sekani me trouxe durante a última visita que fez.

   Contraí um músculo assim que escutei o nome do herdeiro do império Diamante, sei bem que aquele homem planeja se casar com Emily após o imperador e seus conselheiros me tirarem da jogada, mas eu não deixarei isso acontecer. Essa mulher pode até não passar de uma ferramenta para eu chegar ao topo, mas ainda é minha propriedade e eu jamais abro mão daquilo que me pertence.

– É uma pintura muito bela, de fato, mas que tal pintar outra coisa?

– Uma paisagem de Peridot?

– Estava pensando em algo mais humano.

   Eu me ponho atrás de uma tela branca e tiro minha espada da bainha, fazendo uma pose qualquer que vi em algum quadro. Imagino que apesar de sua lerdeza ela entenderá a indireta.

– Está de brincadeira, não é?

– Não sabe pintar nada que não seja uma paisagem? Então devo dizer que suas aulas foram bem precárias.

– Mas é claro que eu sei pintar pessoas!

– Então não terá problemas em colorir com exatidão cada traço de meu belo corpo.

EMILY E LIAN: A PRINCESA PRISIONEIRA E O IMPERADOR DO CAOSOnde histórias criam vida. Descubra agora