KARLENA - Feitas Uma Para A Outra

Capítulo 53

KARA

Dois dias. Dois dias e nenhuma palavra dela. Consegui ficar com raiva por dez minutos e então uma sensação avassaladora de pavor se apoderou de mim. Eu perdi ela e o bebê. Mas por que? Passei pela casa dela tantas vezes que meu carro poderia percorrer sozinho a viagem de 24 quilômetros, mas ela não está em lugar nenhum.

Ao sair do elevador, olho para o celular pela décima vez em dois minutos e nada mudou. Ela ainda não respondeu às minhas mensagens. Alex. Certamente, elas já ouviram falar dela.

Eu disco o número dela. "Olá?"

"Ela está aí?"

"Quem está aqui?"

"Não seja uma idiota. Lena está na sua casa?"

"Não." Ela está mentindo? Ela não diz mais nada. Ela me contaria se ela estivesse lá? Não. Provavelmente não. Ela é casada com a melhor amiga dela, mas porra, Alex é minha melhor amiga, ela não só não me contou a armação que meu pai armou para Lena e eu como também ainda chegou muitas vezes a me criticar por isso.

Deus onde está a Lena? Será que ela está bem? Como está o nosso bebê? Tudo para conseguir um emprego. Quem diabos se importa com um emprego? Sem as pessoas que amo, nada disso faz diferença. "Diga a ela que preciso falar com ela."

"Se eu a vir, direi a ela."

"Estou falando sério, Alex. Eu preciso falar com ela. Algumas coisas precisam ser ditas."

"Tudo bem", ela suspira. "Eu vou contar a ela."

Merda. Ela está lá. Meu coração bate em dobro. "Coloque ela no telefone."

"Não."

"Eu não me importo com os pais dela, se é disso que se trata. Nunca me importei com quem eles eram. E nem meus pais. Meu pai a investigou no dia em que a contratei eu sei que foi errado, mas já está feito. Ninguém se importa com eles."

"Você ama ela?"

"Claro. Por que outro motivo eu a teria mudado para minha casa? Se ela fosse apenas uma doadora de óvulos e uma portadora gestacional, eu teria jogado um cheque para ela e deixado por isso mesmo."

"E o contrato?"

"Eu ia dizer a ela que poderíamos queimar juntas ou emoldurar. De qualquer maneira, não significa nada. Eu quero ela e o bebê."

"Certo. Vou tentar contatá-la, mas não posso fazer nenhuma promessa." Talvez ela não a tenha visto, mas Sam sabe onde ela está. Isso é uma garantia.

Não há mais nada a fazer. Elas dirão a ela para entrar em contato comigo ou não. "Obrigada."

Abro a porta do meu escritório e fico na soleira. Uma pequena parte de mim esperava que ela estivesse sentada atrás da mesa e sorrindo como se nada tivesse acontecido.

Assim como minha casa – o escritório está mortalmente silencioso, como se nada de bom tivesse acontecido lá dentro.

Como ela vai pagar pela comida? Sem emprego, ela não terá seguro saúde. E se ela perder o bebê? As lágrimas que não posso derramar ficam presas na minha garganta. Desesperadamente, eu as reprimo. Se eu não as segurar, isso se tornará cada vez mais real.

Eu me abaixo em sua cadeira para me sentir perto dela por um segundo. É estúpido, mas não consigo lutar contra o desejo. Sinto falta do cheiro do perfume dela. A curva de sua bochecha sob minha mão. Seu corpo ao lado do meu. Enfio a mão no bolso e retiro a caixa preta que levei comigo para a casa dos meus pais.

Ela teria dito sim? Abro a parte superior e olho para o anel de diamante com lapidação almofadada de 8 quilates. Ele brilha sob as luzes como se não tivesse ideia de que nunca iria enfeitar sua mão. Fecho-a e abro a gaveta. Dentro há um caderno com a caligrafia dela nas páginas. Eu o pego e folheio as folhas.

Querida menina,

Agarro o papel com as mãos trêmulas. Mesmo que as palavras não sejam para mim, não consigo parar de lê-las. Cada uma delas é uma adaga no meu coração.

Nunca esperei me apaixonar por você ou querer conhecê-la. Com o tempo, espero que você possa me perdoar por isso.

Parecia tão simples. Meus pais não eram bons modelos e eu achava que me faltava aquele gene – aquele em que você se conecta instantaneamente com seu filho. Então, quando minha amiga, sua mãe, quis ter um filho, me ofereci para ajudar.

Sua mãe é uma grande mulher e trabalhou duro para conquistar seu lugar nos negócios da família e precisava de você para garantir que ela não perdesse seu lugar na empresa que ela deu toda a sua vida. Mas o que aconteceu me surpreendeu. No instante em que soube que você existia, me apaixonei por você. Eu queria você com todo meu coração.

Mas eu fiz uma promessa. Uma promessa de ir embora quando você nascesse. Deixar você nos braços da sua outra mãe e nunca mais olhar para trás.

Então, ela disse que queria que eu fosse sua barriga de aluguel porque sabia que eu sempre estaria por perto. Eu sabia que isso não seria possível desde o primeiro dia, então pedi dinheiro suficiente para pagar a minha casa. Dessa forma, eu poderia desaparecer depois que você nascesse. Não consegui te conhecer e logo fui embora.

Pisco as lágrimas para ler a linha seguinte, mas cada uma é mais dolorosa do que a anterior.

Não posso entrar e sair da sua vida. Descendo as escadas da casa da sua mãe, vendo você nos braços dela. Seus olhos brilhantes me observando partir.

Conforme você envelhece, suas lágrimas de raiva virão em seguida. Seu rosto colado em seu peito enquanto eu vou embora aparentemente sem nenhuma preocupação no mundo. Não posso olhar para você uma vez e fazer isso. Muito menos todas as semanas. Uma vez por mês. Ou uma vez por ano. Já sinto um buraco escuro no fundo do meu peito que dói por você até não conseguir viver.

Não me arrependo de ser sua outra mãe. Eu nunca vou me arrepender disso. Mas desejo de todo o coração que as coisas fossem diferentes. Que eu pudesse ver seu rosto sorridente todos os dias. Seus olhos brilharam quando você ouvir minha voz. Ver todas as suas conquistas. A primeira vez que você se senta, engatinha, anda – tudo, desde a primeira decepção até o primeiro filho. Para observar sua alegria sem nenhuma tristeza em sua vida.

Querida, eu sempre amarei você. Você é meu coração e minha alma. Eu gostaria de ter visto você crescer.

Amor, mamãe.

No momento em que li a última palavra, nunca me odiei tanto. Eu era egoísta e indiferente. Eu não mereço nenhuma delas. Mesmo que ela me amasse, eu nunca a mereceria. Eu era uma doadora de esperma e nada mais.