melancolia prateada.

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Taehyung era o meio-termo entre a serenidade e a tempestade. Imprevisível como os medicamentos que encontrei na penteadeira do seu camarim.

Do lado de fora do teatro, o sol brilhava nas ruas extensas, num clima que estava sempre oscilando. Já do lado de dentro, parecia que uma nuvem de chuva me perseguia, junto ao ar gélido absorvendo todos os meus sentidos. Uma enorme rachadura abriu-se abaixo dos meus pés quando notei dois frascos transparentes marcados com o nome de Taehyung, que poderiam facilmente passar despercebidos naqueles traços de maquiagem e aura de perfumes.

A preocupação travou meu corpo, fez o sangue parar de correr e os pensamentos enroscaram-se um nos outros, desordenados, sem destino. Os remédios estavam sobre a penteadeira como se fossem mais uma extensão de tudo o que Taehyung usava para se preparar para os ensaios da peça. Aqueles pequenos comprimidos revelaram a fragilidade interior dele, e o pedestal que o coloquei como uma figura inabalável de repente desmoronou, revelando a vulnerabilidade que fugia dos meus olhares. Foi uma mistura de emoções tão complexa que eu fui incapaz de reagir.

Eu já tinha a quase certeza de que eram anti-depressivos. Já havia escutado sobre esses remédios antes e foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça ao encontrar as pílulas. Mas eu queria que Taehyung me falasse, queria me olhasse nos olhos e me contasse algo verdadeiro no meio dos tantos assuntos que conversávamos. Era uma pequena faísca de esperança recém-acesa, mesmo no fundo eu sabendo que ele iria desviar daquilo, talvez me ignorar, falar sobre qualquer outra coisa que ia para muito longe dos remédios.

Ele não sabia que eu estava no camarim, esperando-o. A loja de conveniência não ia ser aberta naquele dia, e quase que instantaneamente, eu decidi vê-lo. Queria estar perto de Taehyung outra vez, tocá-lo parte por parte sempre como se fosse a primeira vez. Mas quando ele apareceu no camarim, sua reação foi diferente das minhas expectativas.

Os fios úmidos do cabelo loiro escorriam sutilmente pela testa, por onde se formou um vinco assim que seus olhos pousaram em mim. Eu vi confusão, raiva e tensão se formarem vagarosamente em cada fragmento de sua feição. Não era o Taehyung vibrante e sorridente que eu estava acostumado a ver. Os sentimentos que ele tentava a todo custo ocultar haviam abruptamente surgido, e as cortinas daquele teatro de repente se fecharam, revelando uma pequena parte de quem ele era.

ㅡ O que você 'tá fazendo aqui, Jeongguk? ㅡ foram as primeiras palavras que saíram de Taehyung. Não teve sorrisos, carícias ou aproximação calorosa. Tudo o que recebi foi a fúria que ele exalava.

ㅡ O quê? ㅡ eu ri soprado, bastante desorientado. ㅡ Eu vim te ver, Taehyung.

ㅡ Não deveria estar trabalhando?

ㅡ Taehyung, por que-

ㅡ Você tem meu número, Jeongguk, poderia ligar antes de vir 'pra cá ㅡ exasperado, ele veio até mim em passos que poderiam ser capazes de perfurar o chão, soando alto no lugar abafado. Taehyung estava com as mãos trêmulas, e eu percebi quando ele tirou os remédios da penteadeira, acabando por derrubar algumas maquiagens acidentalmente.

ㅡ Nunca liguei antes. Achei que você não iria se importar ㅡ tentei alcançá-lo com as mãos, mas ele se esquivou do meu toque como se eu pudesse queimá-lo, tão rápido que me deixou desnorteado.

ㅡ Deveria ter feito dessa vez.

ㅡ O que 'tá acontecendo, Taehyung? ㅡ me esforcei para chegar perto novamente, enquanto ele abria um dos frascos e, como se não fosse nada, engoliu dois comprimidos de uma só vez, sem sequer beber água. Eu observei aquilo atordoado, não sabendo lidar com a indiferença de Taehyung enquanto ele guardava os remédios dentro de uma bolsa qualquer.

Memória Azul; taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora