saudade púrpura.

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Era amor desde o primeiro instante.

Quando Taehyung me observou com aquele par de olhos curiosos e enigmáticos, já existia uma pequena faísca de amor. Quando nossos encontros se tornaram recorrentes, e eu já não conseguia mais encontrar um espaço na minha rotina onde eu não o visse junto, tinha amor crescendo e queimando toda a percepção dolorosa e cinzenta que eu tinha da vida.

Quando íamos à praia, seja numa noite silenciosa ou numa tarde quente, eu mergulhava no amor da mesma maneira que mergulhava no mar. Quando Taehyung dançava pelo meu apartamento, ou entrava em seu personagem e passava a interpretar com vigor e paixão pela arte, o amor que eu sentia era quase impossível de guardar.

Nas nossas horas juntos, agarrados em lençóis, suados, cobertos de prazer, e com as mãos entrelaçadas, o amor existia em cada suspiro, em cada toque. Era amor quando Taehyung me beijava como se eu pudesse ser o mundo inteiro dele da mesma forma que ele era o meu, e me fazia acreditar que poderíamos seguir um ao lado do outro mesmo com tantas turbulências. Quando os bilhetes, remédios e melancolia surgiram, num choro silencioso durante uma madrugada qualquer, num abraço apertado, num olhar distante, meu amor tornou-se desesperado, porque eu queria de qualquer maneira arrancar as angústias que tornavam-o tão vulnerável.

Taehyung era amor. Era liberdade e muita, muita confiança, mas também era amor. Quando me levava numa cafeteria com aroma de lar ㅡ porque na verdade qualquer lugar em que eu estivesse com ele, já era meu lar ㅡ, era completamente amor. Ao me apresentar as músicas e peças que gostava, ele era amor quase palpável. Era afeto, mas também malícia. Agitação, mas também sossego. E eu o amava de todas as formas, em cada segundo, cada amanhecer e anoitecer que passávamos juntos, cada disco tocado, cada cigarro aceso, cada maquiagem feita, cada pequena parte de toda a arte que ele era.

Amava-o mesmo que o amor fosse um jogo complexo, onde eu não seria capaz de controlar os resultados. Porque foi dessa maneira que eu me senti quando, num ímpeto, decidi despejar para fora aquele sentimento tão fulminante.

Mesmo quando o silêncio, o olhar vazio e a respiração pesada foram as únicas respostas de Taehyung, eu continuei amando-o.

Ainda que meu coração estivesse estilhaçado no peito, com cada pedacinho dele perfurando meu âmago, eu não deixei de amar Taehyung. Não deixei de amá-lo enquanto a dor se espalhava por todo o meu ser, quando seus passos ecoaram quase como gritos, e eu fui deixado no meio da sala, sozinho, ainda existia amor dentro de mim e eu sabia que jamais conseguiria arrancá-lo com minhas mãos fracas.

Taehyung havia ido embora. Me encarou por alguns minutos, abriu e fechou a boca repetidas vezes, e depois, um pouco cambaleante, passou pela porta sem olhar para trás. Seu aroma ainda estava por toda parte, assim como seus resquícios que poderiam passar despercebidos por qualquer outra pessoa, mas eu notei tudo, desde a estante desorganizada até aquele único tênis do par ali esquecido.

Taehyung saiu usando apenas umas meias minhas, e de repente tudo o que tinha ali eram as roupas molhadas dele e a certeza de que fiz aquilo no momento certo. Se não fosse naquela hora, eu nunca mais conseguiria falar, e permaneceria com os sentimentos entalados na garganta, prendendo-me o ar.

Talvez eu tenha ficado quase uma hora estático, não me lembro com clareza, mas fui acordado do transe agoniante quando a chuva ficou mais forte, e as gotas passaram a deslizar violentas pelas janelas. Pensei em Taehyung durante cada minuto. Pensei que eu poderia ir atrás dele, já que sabia onde morava, mas também pensei que pioraria as coisas daquela maneira, então apenas desisti da ideia e, agindo no automático, como se não fosse eu a controlar meu próprio corpo, entrei no chuveiro e tomei um banho quente, desejando profundamente que as memórias daquela noite desaparecessem para dentro do ralo.

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⏰ Última atualização: Oct 03 ⏰

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Memória Azul; taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora