borboleta celeste.

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Enquanto delicadas gotas de chuva deslizavam pelas ruas do bairro, Taehyung tornava meus olhos tão vibrantes quanto os dele.

Havíamos voltado há alguns minutos da praia, um pouco antes da chuva chegar. Taehyung ainda quis ficar mais um pouco no mar, mas eu consegui arrastá-lo até meu apartamento, entre alguns beijos e resmungos por parte dele. O aroma da água salgada ainda impregnava seu corpo, em pé diante de mim, pincelando o dedo tingido de sombra azul em minhas pálpebras.

ㅡ Jeongguk, se você continuar abrindo os olhos, não vou conseguir terminar a maquiagem ㅡ o hálito refrescante de menta colidiu suavemente contra meu rosto. Eu mordi um sorriso ousado e toquei seus quadris.

ㅡ Não consigo parar de te olhar.

Eu gostava da timidez cobrindo a feição de Taehyung, quando eu o elogiava inesperadamente, então o via tentar prender o sorriso envergonhado. Quando sua camada de confiança se dissolvia, eu percebia quem ele era verdadeiramente, a pessoa que morava por trás de tantas cores e liberdade. Nesses momentos, eu tinha a sensação de que poderíamos nos aproximar mais, romper uma barreira. A barreira que fazia Taehyung ir embora antes do dia amanhecer, após passar a noite comigo. A barreira que impedia que ele me contasse sobre seus bilhetes, sobre sua angústia, sobre as faíscas de tristeza em seu olhar.

Taehyung era real, ali, no meu toque, maquiando meu rosto, cantando baixinho as músicas que gostava, beijando-me com ternura. Eu queria que ele fosse real comigo. Que passasse mais horas deitado em minha cama, que compartilhasse comigo a agonia de seus sentimentos, que me beijasse como se fosse ficar, que não agisse como se pudesse deslizar nos meus dedos a qualquer segundo, inesperado, sem nenhuma despedida. Era uma realidade inalcançável. Taehyung era uma borboleta em voo livre, incapaz de ser aprisionado pela paixão que crescia gradativamente como uma chama dentro de mim.

ㅡ Jeongguk, não seja bobo ㅡ ele sussurrou. Eu não pude segurar o encanto nas expressões quando ele apertou suavemente meu queixo e se encaixou mais entre minhas pernas, observando-me de cima enquanto eu continuava sentado na cama, sendo agraciado pelo som das gotas batendo contra o vidro da janela, e a visão de Taehyung tão perto, vulnerável, doce.

ㅡ Não estou sendo bobo ㅡ selei rapidamente uma de suas mãos e fechei os olhos outra vez, deixando que ele finalizasse a maquiagem com sombra e glitter.

Quando olhei para o espelho do banheiro, Taehyung sorriu atrás de mim, encostado no batente da porta, certamente orgulhoso do que havia feito em meu rosto. Nos olhos, uma sombra azul forte, na têmpora, o prateado do glitter cintilava intensamente, e um pouco acima da sobrancelha, pedrinhas brilhantes coladas sem um padrão definido. Eu nunca estive daquela forma, e de um jeito surpreendente, achei incrível.

Antes de Taehyung aparecer, eu sequer havia visto outro homem usando maquiagem. Cresci numa cidade litorânea pacata, sem o charme pitoresco de outras regiões, apenas moradores de rostos carrancudos e visões tradicionais da vida. Lá, não havia teatros, cafeterias, bares agitados e, principalmente, alguém como Taehyung. Num certo momento da minha vida, cansei de toda aquela mansidão e me envolvi nas ruas tumultuadas de Nova York, junto a um melhor amigo falante e o desejo de mudar algo em mim que eu sequer sabia o que era, no meio do frenesi urbano.

Foi uma insanidade. Aceitei o emprego na loja de conveniência, fui morar num apartamento de paredes mofadas que exalavam a decadência, com pinturas desgastadas e luzes fracas que criavam sombras melancólicas. Hoseok permaneceu positivo o tempo todo, enquanto eu fui me afundando mais na rotina cansativa e sobrevivia com comidas baratas e ouvindo minha coleção de discos que juntava desde a adolescência. Então conheci Taehyung, e talvez essa tenha sido a coisa mais extraordinária da minha existência.

Memória Azul; taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora