vício neon.

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ㅡ Às vezes, o palco fica silencioso demais, e aí minha mente começa a gritar.

Taehyung estava mais melancólico. Era início de noite, e feixes de luz colorida e vibrante dançavam no dourado em sua pele como pinceladas de uma arte cósmica, criando uma imagem cheia de tons e vivacidade. A inexpressividade em seu rosto servia de tela para os raios luminosos, causando uma sinfonia entre cores e brilho. Os olhos mais escuros, baixos, borrados com lápis de olho preto e encarando as cores neon piscando acima de nós.

A camada de confiança que o cobria havia derretido um pouco, revelando uma angústia fria e cinzenta como uma nuvem pesada. Foi a primeira vez que o vi daquela maneira, mas Taehyung era bom em empurrar de volta para o fundo do âmago seus sentimentos ruins, então tudo o que eu tinha eram vislumbres de seus medos.

Taehyung quem tinha tido a ideia de sair do teatro. Após um de seus longos ensaios, ele me puxou pelo pulso como se tivéssemos algo programado, e me levou até aquele bar, numa ruela estreita onde a placa neon do lugar iluminava mais do que os postes de luz amarela. Eu estava com um nó na garganta, coberto de receios ao avançar mais aquele passo, de sair do aconchego do camarim de Taehyung e ir até o bar escondido em meio à agitação da cidade. Ainda assim, eu fui.

ㅡ Por isso gosto de vir aqui às vezes, 'pra me ocupar com música e bebida barata.

Ao atravessar a porta, fui recebido por uma atmosfera misteriosa criada pela iluminação suave. Era um ambiente reservado, onde as mesas redondas e poltronas estofadas eram dispostas de forma estratégica, e as paredes revestidas por um papel escuro e elegante. Atrás de um balcão grande de madeira polida, um barman de cabelo longo e olhar atento servia coqueteis artesanais, movendo-se com habilidade de um lado ao outro, carregando no ombro um pano de prato e no rosto um sorriso gentil.

Um lugar tranquilo, onde a seleção de jazz suave criava a trilha sonora perfeita para conversas íntimas e descontraídas. Ali, pude encontrar um pouco da essência de Taehyung assim como encontrei no camarim. Tinha resquícios de sua alma na música que era tocada, nas bebidas coloridas sendo servidas, e nas luzes azul claro e lilás que rodopiavam o bar e passavam por seu rosto.

ㅡ Vou te mostrar as melhores bebidas daqui, Jeongguk ㅡ ele me olhou por cima do ombro, com uma sedução que encobriu a aflição antes traçada em meio a sua maquiagem. Ainda hoje, posso sentir a queimação dos dedos de Taehyung em minha mão, quando ele me segurou e me puxou até o balcão grande, sentando-se numa dessas cadeiras altas e giratórias, e apoiando os cotovelos na superfície. Fiz o mesmo, no automático, tentando assimilar tantas informações chocando-se em minha mente.

Taehyung gostava de flertar. Erguia o canto dos lábios num sorriso provocativo, arrastava a voz rouca em mais lentidão que o comum e levantava as sobrancelhas castanhas. Foi isso que fez com o barman, enquanto pedia nossas bebidas. Eu quis que ele fizesse o mesmo comigo, que murmurasse próximo de mim assim como havia feito com aquele homem, então após ele fazer os pedidos, eu coloquei minha mão sobre sua perna e trouxe sua atenção. Seus olhos flamejantes estavam em mim e eu tive que me conter desesperadamente para não beijá-lo ali mesmo, até que meus lábios ficassem dormentes.

ㅡ O que você pediu? ㅡ perguntei, num quase sussurro, tentando não soar estúpido. Taehyung curvou um pouco a cabeça, piscou os cílios longos e começou a brincar com o lóbulo da minha orelha, sabendo que eu poderia me desmanchar em seu toque a qualquer instante.

ㅡ Relaxa, Jeon Jeongguk. Você vai gostar.

Uma doçura suave acariciou minha língua no primeiro gole da bebida, por onde um aroma intrigante se desprendia. A textura era aveludada, enquanto os cubos de gelo derretiam lentamente no líquido rosa intenso. Taehyung observava com atenção minha reação ao beber, ao que segurava seu próprio copo preenchido por uma bebida verde, e um canudo que brincava em seus lábios. Mais tarde, ele me contou que sempre pedia um canudo ao frequentar bares. Era uma mania.

Memória Azul; taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora