1. Vinte e cinco dias e um sexólogo.

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West Village, Manhattan, NY.

— Acho que o seu café ainda não fez efeito.

— Acho que nem mesmo fará.

A minha atenção cresce para a silhueta do meu pai sentada na cadeira à minha frente. Os braços estão cruzados, mas um sorriso gentil e de canto estampa seus lábios. Eu quase sigo o seu padrão, mas o jornal na tela do meu MacBook é o que me ocupa agora.

A xícara de café está sobre a mesa, junto com alguns croissants, chás e todo o complemento do café-da-manhã. E meu pai, Park Joonho, está correto: ele não fez efeito. Respiro fundo, deslizando o indicador pela tela do MacBook, rolando-a para verificar as últimas notícias sobre a Bolsa de Valores, pois estava conciliando o senhor Park em algumas atividades de sua empresa, mesmo que o nosso âmbito profissional seja oposto.

Ele comanda uma rede de empresas de automóveis luxuosos enquanto eu me escondo atrás da tela de um computador em um quarto isolado e sem contato com o mundo exterior. Eu sou um escritor.

Apesar das diferenças no estilo de vida, meu pai e eu nos entendemos muito bem no ramo da liderança e economia. Bem, acredito que meus diplomas em Administração de Empresas e Ciências Econômicas sirvam de algo.

— Você estará disponível amanhã? Recebi uma papelada vinda do Japão, gostaria da sua ajuda a respeito de alguns tópicos. — Ele diz.

Faço uma pausa na leitura e ajeito o óculos de grau em meus olhos, não costumava usá-lo e relembro o motivo. Escorrega bastante para o meu nariz.

— Eu tenho um compromisso marcado pelos próximos vinte e cinco dias. Talvez menos. — Digo, desviando a atenção do computador para meu pai, que subitamente demonstra interesse no que falo. Limpo a garganta quando respiro fundo e iço a palma direita, exibindo o meu anelar a ele. — Assuntos pendentes.

Ele ri, provavelmente imaginando algo inverdadeiro, mas deixo que pense por momento.

— Imaginei que o término não fosse concreto. — Murmura, bebendo um gole de seu chá de maçã. Faço uma careta, pois até mesmo o cheiro da bebida embrulha o meu estômago. Sou um grande inimigo de chá. — Há quanto tempo estão juntos? Quatro anos?

— Três. Dois anos de namoro e um de noivado. E, sim, não é concreto, mas de qualquer modo, é um término. Nós não reatamos. — Afirmo o que devo estar afirmando para mim mesmo desde o rompimento do meu noivado.

Eu tenho o pensamento concretizado de que as coisas são exatamente como são, sem algo ultradimensional no meio que possa interferir, porém, devo confessar que o motivo do meu término com Evelyn Rivera não foi muito bem resolvido, mais para mim do que para ela, que apesar de enxergar questões abertas em nosso relacionamento, não parece tão esperançosa com um retorno. Sequer posso culpá-la por me sentir frustrado com a visão que possui de mim, pois agi covardemente e não soube me abrir sobre o que realmente corre por minha cabeça. Eu sou adulto e deveria saber como me portar, entendo os meus sentimentos e sou bom em escrevê-los, e todos os livros que lancei e atingiram o máximo público é a prova concreta de que sou bom no que escrevo. Mas é exatamente esse o ponto, sou bom em escrever, não em falar.

Até mesmo pensar sobre a situação lamentável me faz sentir miserável, o que explica eu ser duro e direto quanto às menções a um relacionamento que chegou ao fim há um mês e dois dias.

— Não vejo razões para mantê-lo como está, Jimin. — Meu pai, com a visão distinta que mantém da história, opina. — Sua vida está um pouco mais organizada, não acha? Vejo que está com tempo sobrando, conciliou a carreira à sua vida pessoal e tem se saído bem, então eu friso novamente que não vejo razões para manter o término do noivado.

SEXOLOGIST (MUSO)Onde histórias criam vida. Descubra agora