Haerin coloca suas meias, sem ânimo. Como sempre. Ela não gosta da escola, por medo. Medo de ser rejeitada, tratada como anormal. Esse é o maior medo de Kang Haerin. Pois ela já sofreu isso, além de ser tirada do armário a força por até então, uma pessoa de confiança, foi ameaçada na escola por isso. Todo mundo tratou a menina como um alienígena, apenas por não ser hétero.
— Haerin, deixei seu café na mesa. Até mais. - Koo Mi-Na disse, a babá de Haerin.
Ela pode ter 16 anos, mas os pais dela não param em casa. São muito ocupados. Kang termina de colocar os sapatos, se olha novamente no espelho. Analisando a combinação de roupa dela. Uma calça de pijama, preta com cenouras estampadas - apesar de odiar cenouras, um moletom branco com um detalhe laranja no meio, o que lembra uma flor para Haerin. E um All Star branco, impecável. Apesar de ser preguiçosa e não ter motivação para nada, suas roupas, sapatos, cabelo, e etc, estão sempre bem arrumados. Mostrando a riqueza e poder da família dela, como se ela se importasse com isso.Ao chegar na escola, ela recebe olhares de algumas pessoas, curiosas para saber quem é a garota chique. É a mesma coisa, todos os dias. Eles sempre ficam curiosos para saber quem ela é, mas ela é praticamente insignificante, pois se esquecem dela no outro dia. Num ciclo infinito. Haerin se sente presa, sufocada, morta.
Ela chega rapidamente na sala dela, 2 A, a sala do pânico, nome dado por ela, por se sentir presa e amarrada nessa sala, por se sentir puxada para baixo, junto com suas notas. A garota exemplar, que tinha vários diplomas escolares por boa conduta e notas mais que ótimas, como isso aconteceu? Haerin sempre fazia essa pergunta a si mesma após ver o boletim no final do semestre. Ela se sente péssima, mas não tem motivação para escalar até o topo novamente. E também não deseja toda aquela atenção novamente, tanta atenção do mundo exterior, mas que não pôde ser encontrada na própria casa. Diferente dos livros na qual ela leu, nem sua babá se importa com ela. Ela só quer o salário. Essa ideia errada nos contos de fadas,"se os seus pais não gostam de você, então sua babá irá.". Isso é mentira. Haerin aprendeu isso.
A sala logo se enche, fazendo Haerin não levantar a cabeça em segundo sequer. Até sentir uma movimentação ao seu lado. Alguém sentou ao lado dela. Isso nunca aconteceu antes, não depois de ser puxada para fora do armário, e mesmo nessa escola nova, Haerin sente como se não fosse aceita.
Haerin apesar de estar com medo, queria olhar. E então ela cria coragem, de fonte desconhecida. Paralisada. Ela estava paralisada. Assim que olhou para o lado, a pessoa sentada ao seu lado, uma garota, já estava encarando ela. Mas invés de Haerin, ela sorria.
A garota não disse sequer uma palavra, apenas gesticulou alguma coisa, que Haerin não entendeu. Após a desconhecida perceber a cara confusa de Kang, apenas deu um tchauzinho.
Haerin apenas analisou ela, e então deu um aceno com a cabeça, breve, curto e simples. Parecia o suficiente para Kang.— Alunos, temos uma aluna nova na nossa sala. - O professor Go Won disse, o professor mais legal para Kang, pois entendia a garota e não a obrigava fazer trabalhos em grupos. Mas Haerin, e a sala toda viram uma mulher entrar, ela era a aluna nova? Parecia ter 30 anos. Mas a mulher gesticulou alguma coisa, e a garota ao lado de Kang se levantou. Sorrindo. "Ela tem o sorriso mais brilhante que eu já vi." Haerin pensou enquanto assistia a garota, esperando alguma fala. Mas não houve. Ela gesticulou novamente.
— "Eu me chamo Danielle Marsh, eu sou surda. Eu gosto de cenouras e gosto de cozinhar, também sou uma amadora de animais. Espero que possamos ser amigos!". - A mulher disse.
Haerin ficou pensativa, ela não tem um aparelho auditivo? Ela não devia estar em outra escola? As dúvidas de Haerin pareciam infinitas. Foi nesse momento que ela sentiu motivação em um ano, que pareciam eternidades. Ela queria aprender a língua de sinais para poder perguntar coisas a Marsh.
[...]
Aula vai e vem, e nada de Kang prestar atenção. Ela se escorava nos cotovelos, se segurando para não dormir. Mas logo ficou atenta ao ver um papelzinho em sua mesa, se virou para o lado e Danielle sorria para ela. Haerin pegou o papel e leu o que estava escrito. "Eu também gosto de cenouras." Haerin não sabia o que responder, mas escreveu. "Eu não gosto de cenouras. Mas elas são bonitas." Danielle olhou atenta a escrita da mais alta.
O papel foi calmamente empurrado para a mesa de Marsh, que pegou-o numa rapidez que assustou um pouco Kang. Ela estava tão ansiosa assim para "falar" com ela?Esse pensamento fez Haerin soltar um pequeno riso.
Que assustou a si mesma. Havia acabado de sorrir só de pensar na garota que mal conhecerá? Kang deve estar ficando louca.
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𝐂𝐄𝐍𝐎𝐔𝐑𝐀𝐒 · Daerin/Haelle
Romancecapa e banner por: @lagartixabro Uma história simples das Daerin<3