o mentiroso

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Todo domingo ele tirava as vestes que o mundo estava acostumado a ver, sentava em seu sofá e gritava com ardor nos pulmões a poesia que tanto o negaram. Não era como uma vítima, longe disso! Sabia seu papel no mundo e suprimia muita gente. Mas o que são os vilões sem sua parte lírica?
Ele vivia por amor, e alguns dizem que foi disso que morreu. Cantava poesia em tons terríveis e sorria descaradamente, era sua forma de vingança, era a sua arma contra a infelicidade terrena! Ah, quão forte era.
Só que a vida exige, o teatro manda e os personagens obedecem. No outro dia punha seu traje de vilão e cometia as tais maldades que o nomearam rei daquele lugar. Exarcebado em lágrimas e álcool, chorava... Mas sorria... Mais bebia - com intenção de nunca acabar - e sempre se afogava.
Ele sabia o que estava fazendo, era de consciência pura! Mentia para a criança por medo, dizia que era a única maneira que encontrara para sobreviver, pois a dor sempre sacrifica alguma parte.
Numa noite de verão, olhou à criança e disse: "encontre sua forma de viver o mais depressa possível! Eu prometo sempre te ajudar." - e tantas noites se passaram, que por fim esqueceu.
Os domingos ainda eram feitos de mpb, gritos incontroláveis e lirismo, mas o homem nada mais falara. Sua roupa desbotara, a criança não mais o lembrara, e suas maldades haviam morrido - junto de sua alma.
O legado que deixou era sobre encontrar formas de viver, só que mentia de forma tão descarada que quando o domingo o chamou, nem se pôs a correr.

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