Quarta Carta

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PARA VOSSA MAJESTADE O REI DE VAKRUT

Eu acordei com Grace invadindo meu quarto, ela estava tão animada, dizendo uma coisa atrás da outra e eu não entendia o que.

Até que ela levantou a mão direita para mim e ali estava a prova de que minha memória não tinha se apagado, o anel de noivado estava no dedo anelar dela.

Brilhando na minha cara, como se estivesse me julgando pelo que fiz. Eu não conseguia dizer uma palavra para Grace, nada.

Minha voz simplesmente não saia.

__O que foi? __ela perguntou preocupada. __Por que está com essa cara de espanto, teve um pesadelo de novo?

Ela sentou a minha frente e eu precisei segurar as lágrimas para não desabar na frente dela.
Grace estava preocupada comigo, ela mal sabia o que eu havia feito.

Eu me sentia tão culpada que não conseguia nem olhar para ela.

__Não, só achei lindo demais. __os olhos dela se iluminaram e um sorriso brotou em seu rosto. __Parece pesado.

Falei sobre o anel, que tinha um diamante do tamanho de um olho. Grace deu de ombros como se não se importasse com os problemas de ter um anel grande, já que o que importava era o anel ser grande e brilhante.

__Você tinha que ter visto ele pedindo minha mão em frente a todos. __ela estava feliz. __Por falar nisso, onde você estava?

Aquele pergunta doeu.
Como se ela tivesse me dado um soco no peito.

__Aqui. __passei a mão na cama. __Eu vim dormir mais cedo.

Ela acreditou.

E eu me senti tão mal por isso.

Pois ela nem desconfiou da minha mentira, Grace confiava muito em mim.
E o que eu havia feito com essa confiança?
Eu joguei fora.

Joguei fora por você, majestade.

Anos de amizade e confidência.

Foram embora por sua causa.

Mas não posso somente lhe culpar, já que eu também lhe beijei, afinal, uma pessoa não trai sozinha.

__Você precisa conhecê-lo.

__Eu estou ocupada agora, preciso escrever uma carta ao meu pai.

Eu estava desesperada para não ter que conhecê-lo. Eu era capaz de correr até Thorpez para não ter que vê-lo novamente.

__Seu pai pode esperar, o rei não pode. __Grace sabia como me convencer. __Depois você escreve, vamos pelo menos tomar o café da manhã.

__Não estou com fome.

__Eu pedi para o rei ordenar que trouxessem romã, pois é sua fruta favorita.

Grace já havia contado tudo sobre mim a você, só não sei se ela tocou no assunto ou se você perguntou a ela.
Eu tentei me desviar da situação, mas Grace sempre consegue o que quer.

No fim eu acabei indo parar na mesa de café da manhã, você ainda não havia chegado. Havia tantos romãs na tigela, que eu pensei que viria um batalhão comer com a gente.

Eu comecei a comer rápido para poder me retirar e não vê-lo, mas foi em vão.
Ouvi passos se aproximarem da mesa e meu estômago se revirou, eu quase vomitei tudo o que estava comendo.

Grace se levantou da cadeira com um sorriso no rosto. Eu a acompanhei pois precisava reverência-lo.

__Majestade. __ela foi quem disse a palavra e aquilo despertou algo em mim.

Fiz uma rápida reverência e não me atrevi a olhar em sua direção. Se eu fizesse acho que desmontaria ali e choraria na frente de todos.

Eu sentia seu olhar em mim, ouvi quando arrastou a cadeira e se sentou ao lado de Grace, eu voltei a comer com pressa e desejando que você não iniciasse uma conversa.

__Essa é a amiga de quem falei, Majestade. __Grace iniciou a conversa e eu queria que um buraco abrisse e me engolisse. __Na verdade, ela é mais que uma amiga, é quase minha irmã.

__É um prazer conhecê-la, srta. Shorman. __sua voz me desestabilizou.

Eu sei que o certo era você fingir não me conhecer, mas mesmo assim aquilo doeu como o inferno. E ainda me chamou de srta. Shorman, a mesma forma que se referiu a mim no terraço.

__A mim também, majestade. __continuei com a cabeça baixa.

__Ela não queria que eu me casasse com você no início.

Eu travei no momento em que Grace soltou. Eu sentia os olhares em cima de mim, aquilo foi uma tortura.

__Dizia que eu devia me casar por amor.

__Amor?

Você disse tão incrédulo que eu me senti uma tola envergonhada.

__Sim, não é engraçado, eu disse para ela parar com esses sonhos, amor não existe no nosso mundo. __Grace continuou e eu queria desaparecer. __Mas Lília insiste que só vai se casar se for amada pela pessoa.

__É raro encontrar alguém assim.

__Eu disse a ela, talvez fique solteira para sempre.

Eu me levantei, farta de ouvir aquilo. As vozes ecoavam na minha cabeça "solteira para sempre".

__Com sua licença, irei me retirar agora. __fiz uma reverência e sai depressa sem dar tempo para que você me impedisse.

Mas acho que não teria feito.

Talvez tenha sido constrangedor para você também.

Eu voltei para meu quarto e respirei fundo impedindo as lágrimas de caírem, e eu sei o quanto elas forçaram a cair.
Eu me sentia humilhada e suja.

O que eu havia feito foi contra todos os meus princípios, eu estava decepcionada comigo mesma.
Estava ferida e magoada.

Eu fiquei em meu quarto a tarde toda escrevendo cartas para meu pai e meus amigos que estavam em Thorpez. Naquele dia eu não senti vontade de almoçar, mas você mandou levarem meu almoço em meu quarto.

Não saí para jantar, mas você ordenou que levassem o jantar também.

As refeição voltaram intactas para a cozinha, e fiquei sabendo que você não gostou nada da minha desfeita.

Mas o que queria que eu fizesse?

Que receberia seus agrados com um sorriso no rosto?

Eu não sou assim, majestade, nunca fui.

Naquela noite Grace não veio me dar boa noite, e nenhuma refeição foi mandada para meu quarto, eu apenas tomei um banho, me deitei na cama, no escuro e ali minhas lágrimas caíram como cascatas.

Eu não consegui segurar mais elas.
Toda a humilhação, decepção, mágoa e medo desceram pelos meus olhos.

COM CARINHO, LÍLIA SHORMAN

Cartas para o ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora