Nona Carta

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PARA VOSSA MAJESTADE O REI DE VAKRUT

Kaiser tentou me animar no dia seguinte, ele me levou para um pequinique perto do lago. Confesso que demorou para eu me sentir relaxada, não havia conseguido dormir direito, parecia que você estava do meu lado falando aquela frase. Ela ecoava na minha mente, me atormentando a noite inteira.

__Dormiu bem?

__Não. __Kiligan me olhou.

__Ele não devia ter dito aquilo.

__Não mesmo.

__Homens são impulsivos. Quando queremos algo deixamos explícito, não importa as consequências.

__Vocês são egoístas que só pensam em si mesmos. __eu estava prestes a chorar quando Kiligan segurou minha mão.

__Você pode chorar um oceano se quiser, mas não se afogue nele, Lília. __meu olhar não desviava do seu. __Essa paixão que ele sente por você vai destrui-lo. Tudo que começa errado, termina errado.

Kaiser tinha razão, nós dois estávamos condenados a sofrer, majestade, sofrer por um amor que jamais seria aflorado. As vezes eu fico desejando voltar naquele dia do terraço e parar o tempo ali.

Para ficarmos juntos eternamente.

__O amor não deveria doer, minha mãe dizia que amor é lindo e trás felicidade.

__Amor próprio.

__O que?

__Talvez ela tenha se referido ao amor próprio.

Eu fiquei em silêncio encarando Kaiser, aquilo até que fazia sentido, talvez ele tivesse razão, mas amor próprio sempre foi algo difícil de conquistar, ainda mais com todas as críticas da sociedade, sendo mulher e solteira. Era quase impossível ignorar os mal-olhados e palavras ofensivas.

Eu não conseguia me amar.

Eu achava que não merecia tal coisa, por sentir paixão por um homem comprometido. Que tipo de pessoa eu era?

Estava pecando.

E o pior de tudo, estava apaixonada pela pessoa que estava comprometida com alguém que eu amava muito.

O pequenique durou pouco, logo voltei para meus aposentos e soube de uma caçada que estava tendo, vossa majestade havia convidado os nobres e Kiligan era um deles.

Cada homem poderia levar uma dama para fazer companhia. Kaiser me levou, tudo que eu mais queria era lhe evitar o máximo que eu podia.

Mas parecia que o universo não estava ao meu favor.

Nós fomos até próximo a floresta, seus servos montaram tendas para descanso e para as damas, eu teria que ficar com a Grace e suas amigas nobres.

Aquilo foi uma completa tortura, vê-la e não poder conversar com ela, eu me senti completamente deslocada. Grace sorria para todas aquelas pessoas, e nem se quer me olhava.

__Vou trazer um cervo para você. __Kiligan havia me prometido um cervo, pois era minha carne favorita.

__Não precisa se incomodar.

__Você merece, depois de tanto estresse que vem passando. __ele havia dito aquilo para Grace ouvir, ela ficou apreensiva, mas você também vossa majestade, estava de olho em mim e no Kaiser.

__Um coelho já está ótimo.

__Você não gosta de coelho.

__É mais fácil de caçar.

__Esta me subestimando?

__Jamais. __Kiligan deu risada.

__Voltarei com o cervo, Lady Shorman! __ele havia pegado minha mão e dado um beijo.

Tudo isso para te provocar, majestade.
E você caia em todas as provocações de Kiligan. Eu sei, ele consegue ser irritante tanto quanto Grace, mas é um ótimo amigo.

Os homens foram caçar e eu fiquei sentada tomando chá enquanto as mulheres conversavam.

__Vossa Alteza é tão sortuda, está com o homem mais forte do reino, ele lhe trará um animal selvagem como prêmio. __uma das damas dizia a Grace.

O sorriso que ela dava era superior, como se gostasse de toda aquela bajulação, como se fosse um combustível para ela.

__Não sabia que o rei é tão prendado assim. __ela dizia.

__Ele adora caçar, é tão bom nisso que matou um cervo quando ele tinha 12 anos.

__Nossa, espero que ele me surpreenda então.

__Vocês dois combinam tanto, são tão lindos um para o outro.

__Não exagere. __Grace dizia fingindo estar sem graça.

__É verdade, vossa alteza, você e o rei serão muito felizes juntos. __ela se aproximou um pouco de Grace como se fosse lhe contar um segredo. __E boatos correm dizendo que a senhorita será muito feliz em suas noites com o rei.

Todas começaram a rir junto com Grace.

Eu bebericava meu chá com um nó na garganta, ter que ouvir aquilo era uma tortura.

__Ja que estamos falando disso, você e o rei já deram uma escapada? __outra dama pergunta.

Grace olha para elas fazendo mistério.

__Não foi nada tão sério como vocês imaginam.

__Então aconteceu?!

__Foi apenas um beijo.

Aquilo me quebrou em mil pedaços.

Mas o que eu poderia fazer, Grace era sua noiva, óbvio que isso poderia acontecer, mas ouvir aquilo me deixou sem chão, majestade.

O assunto delas foi basicamente sobre você, as damas davam dicas a Grace de como lhe satisfazer na noite de núpcias.

__Se você quiser deixar o homem louco por você ao ponto dele não desejar mais nenhuma outra mulher é apenas colocar aquilo na boca. __meus olhos se arregalavam a cada palavra proferida.

__Isso é tão vulgar. __Grace dizia chocada.

__Mas homens gostam de mulheres vulgares, porque acha que eles vivem em bordeis? __a outra reclamou. __Eu sempre digo as minhas filhas, seja uma dama na frente dos outros, mas uma puta na cama com seu marido. Ele irá ama-la para sempre e se não amar será leal a você.

__Me contem mais! __Grace pedia com urgência, ela parecia ter uma certa necessidade em aprender como lhe prender majestade.

Mas tarde naquele dia, todos os nobres voltaram, inclusive você, mas eu não via Kiligan, comecei a me preocupar. Quando me levantei para olhar melhor eu vi meu amigo sendo carregado por outros nobres, ele parecia ferido.

__Kiligan! __gritei correndo em sua direção, todas as damas ficaram surpreendidas quando o viram ferido. __O que aconteceu?

Perguntei ao Kiligan que estava consciente.

__Eu cai do cavalo e o cervo me atacou.

__Eu disse para não pegar o cervo! __foi a primeira vez que fiquei brava e preocupada daquela forma com ele.

__Eu estou bem, foi só um arranhão, ganhei a luta. __logo atrás de Kiligan vinha uma carroça com o cervo morto, voltei a encara-lo.

__Não faça mais isso!

__Sim, senhora.

Eu sentia olhos me queimando nas costas, você nos encarava irritado, da mesma forma que eu fiquei quando ouvi Grace falar de você com as damas.

Quando a noite chegou eu estava deitada em minha tenda, todos já estavam dormindo, quer dizer, quase todos, eu ouvia gemidos das damas e de seus companheiros.

Não conseguia dormir e então eu saí da tenda para caminhar, eu não imaginava que tudo aquilo aconteceria, se eu soubesse, jamais teria saído daquela tenda.

COM CARINHO, LÍLIA SHORMAN

Cartas para o ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora