Devaneios de cigarros || WOLFSTAR

16. the truth untold

  Dentro do carro, enquanto voltavam para a casa de Remus, o clima estava pesado, o silêncio era ensurdecedor. A atmosfera melancólica denunciava a situação e a necessidade de um diálogo para que tudo se estabilizasse. Era nítido há quilômetros de distância como tudo estava bagunçado, como se uma nuvem cinza estivesse bem acima daquele veículo onde estavam Remus e Sirius.

Minutos mais tarde, quando o carro parou em frente a casa de Lupin, permaneceram nos bancos, ambos olhando para frente e sem dizer uma única palavra, não pela falta delas, mas sim porque nenhum dos dois queria dar início a tal diálogo tão delicado. Remus tinha medo de magoar ainda mais Sirius, que estava também com medo, mas sim do que iria ouvir, pois estava se recusando a acreditar que sua mente não estava lhe pregando uma peça.

Remus foi o primeiro a tirar o cinto e descer do carro, deixando um Sirius muito vulnerável para trás. Black fechou as suas mãos e começou a batê-las contra o volante com a força que tinha naquele momento enquanto, dos seus olhos, escorriam lágrimas grossas.

Quando Sirius resolveu entrar na casa, seguiu direto para o quarto, onde Remus estava sentado na cama vestindo apenas um short e enxugando seu cabelo com uma toalha, denunciando que havia acabado de sair do banho. Black ficou alguns poucos minutos na porta antes de caminhar para dentro e se sentar também na cama.

── Moon…── ele chamou o outro com a voz baixa quase inaudível. ── Vamos conversar ── praticamente implorou. Remus se virou para ele e deixou a toalha de lado, pois sabia que teriam que conversar.

── Você não ouviu errado, Six ── Lupin começou a falar, sentando um pouco mais para frente, ficando mais próximo do outro. ── Eu tô passando mal todos os dias porque a bateria do marcapasso tá acabando, e quando isso acontecer já era, eu vou morrer ── confessou quase hesitante. Ele não queria encarar Sirius.

── Não vai não, Mon Cher! Eu vou te levar pro hospital e…e eles vão trocar o aparelho ── as palavras falhando denunciavam o quanto o outro estava mexido com tudo isso. ── Depois disso você ainda ficará vivo, a gente vai se casar e…── sua voz falhou e lágrimas voltaram a escorrer por seus olhos.

Remus, que até então não estava chorando, sentiu sua garganta arder e seus olhos marejarem. Ele segurou gentilmente uma das mãos do seu namorado e a guiou até seu peito, onde dava para sentir o alto relevo do aparelho em seu corpo. Black seguiu cada movimento com os olhos, subindo o olhar em seguida para aquele em sua frente.

── Eu sou muito grato por todos os anos de vida que esse marcapasso me proporcionou e tudo graças a você, meu amor. Eu tive momentos incríveis ao seu lado porque esse aparelho me permitiu ── conforme falava, ele sentia o tom de sua voz abaixando. ── Mas eu não posso mais viver com isso. Eu não consigo mais fingir que tá tudo bem e que eu amo não poder fazer tanto esforço quanto gostaria, na verdade isso é bem frustrante. Eu não quero mais isso, Six

Lágrimas banharam o rosto de Remus, que ainda segurava a mão do outro em cima do seu peito.

── Eu queria poder viver como uma pessoa normal, fazer mais coisas e não ser limitado a algumas atividades. Eu queria poder sentir meu coração bater sem saber que ele está fazendo isso por causa de um aparelho ── ele engoliu seco, desviando o olhar por alguns segundos, pois não suportava ver o outro chorando.

── Mas você precisa viver um pouco mais…vamos achar um coração pra você, vamos conseguir seu transplante ── Sirius disse tão esperançoso que por um momento Remus chegou a acreditar.

── A cirurgia que você deixou paga pra mim anos atrás, foi lá em Austin, não temos dinheiro para pagar outra ── ele respondeu, direcionando as orbes para o outro mais uma vez. ── Você vai ficar bem, ma vie, eu sei que vai. Quando eu morrer…você pode viver sem se preocupar de cuidar do seu namorado doente

Sirius, que estava quieto, olhou para Remus com uma expressão desacreditada.

── Como você ousa falar isso? Eu nunca achei você um fardo, Moon, eu amo cuidar de você porque eu te amo, é isso que as pessoas que amam fazem ── ele disse, agora com a voz mais estável.

── Por isso eu não queria que você soubesse

── Remus John Lupin, você tá sendo a porra de um egoísta! Você pretendia morrer e não contar nada sobre isso? Como você pensou que eu fosse ficar? Achou que seria melhor pra mim? ── Sirius puxou sua mão de volta para ele, enxugando as lágrimas. ── Pois saiba que nada iria amenizar a minha dor. Saiba, Moon, que assim que você partir, eu irei com você, porque pra mim não faz sentido viver em um mundo onde você não esteja

Remus piscou algumas vezes tentando conter as lágrimas, e quando conseguiu, ele tocou o rosto de Black, se inclinando para frente e deixando um selar demorado em sua testa.

── Você sabe que essa não é uma escolha minha, meu amor, não temos controle sobre isso ── ele sussurrou com o rosto próximo ao do outro. ── Me desculpa…eu realmente não quero deixar você

── Mas isso é muito injusto, eu não quero te perder, acabei de voltar ── as palavras de Sirius eram como uma súplica.

── A vida não é nem um pouco justa, Six, acho que esse é o meu karma ── disse com os olhos fechados, enquanto sua testa estava encostada na do outro. ── Mas eu não me arrependo de nada que vivi ao seu lado

── Nem de todas as pessoas que matamos?

── Nem de todas as pessoas que matamos

Lupin se afastou um pouco para olhar nos olhos do outro, e assim ficou por quase dois minutos antes de beijar os lábios de Sirius com intensidade. Aquilo era mais do que um beijo, era também um lembrete de que não importa o que aconteça, eles sempre estariam juntos, mesmo que não fisicamente.

── Eu te amo muito, sabia disso? Você é o meu grande amor, daqueles que dão frio na barriga e fazem nosso coração bater bem rápido ── Black confessou em voz baixa. ── Eu te amo desde o primeiro dia, quando você era só um garotinho com medo e um óculos quebrado ── Remus riu baixinho da última fala.

── Eu também amo muito você, sabia, ma vie? É o meu amor estrela cruzada. Te amo desde o primeiro segundo que chegou pra me salvar e exigiu que eu fosse seu namorado ── Lupin respondeu e deu um sorriso largo. ── Aliás, obrigado por consertar meu óculos com fita

── Eu consertaria mil óculos por você

Eles trocaram olhares emotivos até que estivessem, mais uma vez chorando. Remus foi quem tomou iniciativa e puxou Sirius para um abraço apertado e significativo. Aquela noite já havia se tornado uma daquelas que se lembra para todo o sempre, pois apesar de já terem dito antes que se amam, aquela foi a primeira vez que fizeram isso com tanta intensidade, como se fosse uma despedida.