2. dear dad

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4 semanas antes

   Há dias em que o céu está mais azul para alguns, o sol brilha mais forte e até o vento parece mais agradável. No entanto, para outros, existem dias com céus nublados, o sol se esconde atrás das nuvens escuras e o vento é tão gelado que é capaz de congelar aquele que toca. Esses eram os dias de Sirius Black desde que e ele se entende por gente. Uma neblina o cerca, impedindo-o de ver para onde está indo e quem está ao seu lado.

Viver em um mundo com pessoas que não entendem os seus motivos é maior desafio para ele, é como se estivesse correndo perigo a todo instante, por isso seu instinto é sempre atacar primeiro, é a forma que ele encontrou de se proteger dos que o atacava. Sirius se aliava apenas àqueles que conseguiam o vencer, foi assim com James, Peter e Lily, eles até o questionam sobre como Remus o venceu, porém, ele nunca respondeu.

Deitado em sua cama enquanto jogava uma bolinha na parede e a aparava novamente, ele ouviu passos apressados se aproximarem da porta do seu quarto. Automaticamente ele se sentou e se colocou em defesa, até o momento em que a porta foi aberta, revelando a imagem de um Remus assustado, que bastou fechar a porta atrás de si para que caísse em choro e corresse para os braços de Sirius.

── Remy, o que houve? ── Black perguntou enquanto afagava as costas daquele que estava em seus braços, soluçando de tanto chorar. ── Aconteceu de novo? ── ele perguntou novamente.

── Você prometeu...disse que iria me ajudar a sumir com ele! Já fazem sete anos, Six! ── o outro respondeu entre pausas e Sirius fechou os olhos com força.

── Você sabe que tentei, mas não é tão fácil, ele ainda é influente. Vamos dar um jeito nisso ainda hoje, eu prometo ── disse com a voz baixa. Sirius usava aquele tom calmo apenas com Remus, o outro controlava cada emoção do Black mais novo com tanta facilidade.  ── Mon cher...olha pra mim

Remus rompeu o abraço lentamente e levantou seu olhar para Sirius, que sentiu seu peito apertar por saber que mais uma vez não estava presente para defender o seu garoto daquele monstro que nem mesmo merece levar o título de pai. Sirius tocou o rosto de Remus e limpou as lágrimas dele, se inlcinando para deixar um beijo na sua bochecha em seguida.

── Ele não vai mais te machucar. Ninguém mais vai te tocar, apenas eu, e será da maneira certa ── Lupin assentiu, voltando a abraçar aquele em sua frente.

Aquela era a dinâmica deles, os dois só conseguiam ser fracos na frente um do outro. Sirius e Remus, desde o dia em que se conheceram, jamais foram capazes de chorar na frente de outras pessoas, seja de raiva, de tristeza, de felicidade, ou de qualquer outra emoção.

   Depois de alguns minutos juntos, os dois saíram da casa de Sirius e seguiram para a casa de Remus. Black sempre ia para a casa do outro escondido, já que o senhor Lupin o desprezava e jurava que se um dia ele aparecesse por lá, o mataria. Sirius não tinha medo, temia apenas que o mais velho machucasse seu namorado, pois ele sabia que não responderia por si caso algo assim acontecesse. E daquela vez, o homem havia excedido seus limites.

── Vai ser rápido, mas ele vai agonizar até que seu coração pare de bater ── Sirius explicava para o garoto ao seu lado enquanto colocava luvas nas mãos. ── Você já alcançou a maioridade, não vai parar em uma casa de apoio. Pode ficar na minha casa ── prosseguiu.

Assim que estava pronto, Remus abriu a porta de sua casa lentamente e adentrou junto ao outro. Eles olharam bem ao redor até chegarem na sala, onde o senhor Lupin dormia na poltrona, haviam diversas garrafas de cerveja espalhadas pelo chão e na televisão passava algum episódio daqueles programas onde as pessoas se humilham por dinheiro. A casa estava fedendo, as paredes mofadas e com a tintura desgastada, assim como o estofado do sofá.

── Não precisa olhar se não quiser ── Sirius disse para Remus, que o surpreendeu se colocando a frente.

── Mata logo esse desgraçado ── Lupin respondeu com a voz carregada de ódio e os olhos praticamente exalando fogo.

Sirius sorriu orgulhoso e se aproximou da poltrona, parando atrás dela, ao lado de Remus. Ele beijou os lábios do seu garoto antes de encostar o canivete ainda fechado perto do pescoço do homem que dormia e olhou uma última vez para Remus.

── Tenha bons sonhos, querido papai ── Remus sussurrou e assentiu para Sirius.

Aquele foi o aval necessário que ele precisava para apertar a trave que fez a lâmina do canivete entrar pescoço do homem. O senhor Lupin abriu os olhos repentinamente e começou a agonizar, enquanto o sangue jorrava do seu pescoço como se fosse uma mangueira. Sirius contou dez segundos até que o homem começasse a sufocar com o próprio sangue que saía agora da sua boca.

Com um olhar de satisfação, Black guardou o canivete no bolso e olhou para o namorado, que assistia toda a cena com um sorriso ladino em seus lábios e os olhos agora brilhando. Quando o senhor Lupin deu seu último suspiro, Remus pôde finalmente respirar aliviado, pois sabia que aquela tormenta de anos tinha finalmente acabado.

── Vou ligar pro James trazer o carro e a gente se livra dele ── Black disse, se afastando um pouco para ligar para o seu amigo.

  Mais tarde, quando o sol havia dado lugar para a lua e as ruas estavam com pouco movimento, Sirius e seus amigos ajudaram Remus a levar o corpo de seu pai para o fundo do carro, e depois para a floresta mais afastada de onde moravam. James dirigiu por todo o percurso, e durante ele, Remus e Sirius explicaram como tudo aconteceu, dizendo os barulhos que o homem fazia enquanto agonizava até a sua morte.

Na floresta adentro, eles cavaram um buraco fundo o bastante para que ninguém achasse o corpo do homem, mas um imprevisto atrasou o enterro do corpo. Peter, que havia ido no carro buscar o ácido fluorídrico para dissolver o corpo quando já estivesse no buraco, acabou não destravando o carro e o alarme disparou, e infelizmente aquele era o horário de ronda da patrulha florestal. Foi então que eles apenas jogaram o corpo do senhor Lupin de qualquer maneira e o cobriram com pressa, mas nenhum deles lembrou que estavam sem luvas no momento do ocorrido, apenas depois, quando já estavam no carro e voltando para casa.

── Se a porra daquele corpo for encontrado, todos nós estamos ferrados ── Lily disse com a voz meio alterada.

── Eles não vão achar nada, caralho! Se estão com tanto medo, voltem e vão enterrar ele de novo ── foi Sirius a dizer. ── Salvei o Remus daquele monstro e é isso que importa

E Remus estava verdadeiramente grato por isso. Era a maior prova de amor que já recebeu em sua vida.

   Mais tarde, no dia seguinte, o rosto de Lyall Lupin, ex-policial renomado, estava sendo exibido em todos os jornais, dado como desaparecido. Remus Lupin, seu único filho e família, apareceu em entrevistas chorando e desesperado por não encontrar seu querido pai, ou pelo menos era isso que ele queria que a mídia pensasse. Para os holofotes, o homem estava apenas desaparecido, e apenas seis pessoas sabiam a verdade. Apenas seis adolescentes sabiam que nesse momento, o corpo de Lyall Lupin deveria estar sendo devorado por insetos.

Devaneios de cigarros || WOLFSTAROnde histórias criam vida. Descubra agora