Te devo desculpas
— Oi — murmurei sem jeito
Não sei se me considero uma garota vaidosa, mas no estado em que eu provavelmente me encontrava, não estava muito contente em ser vista naquele momento. Deus, meu corpo pesa como uma pedra!
— Escuta... — Finn estendeu um copo d'água em minha direção, prontamente aceitei — o que caralhos você tava fazendo na rua às seis e vinte da manhã?
Sinceramente, sua indignação me tirou risadas, mas a feição do garoto continuou intacta; estava sério, talvez preocupado.
— Corine — ele me repreendeu — você caiu na calçada, quase foi atropelada na rua, eu te socorri e você vomitou nos meus sapatos... e está fedendo a álcool
Caramba, acho que notei só agora o quão desagradável eu posso ser quando resolvo ser uma pessoa melhor.
— Acho que eu precisava te ver — soltei sem pensar, com a voz freada por uma tenebrosa dor de garganta
— Ah sim, me cobrir de vômito também estava em seus planos? — ele tinha um tom leve em sua voz, então ri porquê soube que, no fundo, talvez estivesse contente em ouvir que eu passei por uma baita humilhação para chegar até ele — acha que consegue se levantar? Você precisa de um banho
— Deus! Não me ofenda com tamanha brutalidade — ele sorriu
Até posso ter tentado, mas falhei miseravelmente. Assim que meus músculos sentiram a tenção de deixar aquela cama confortável, meu corpo novamente alcançou o chão. Uma dor cruel dominou cada centímetro do meu ser como se um caminhão tivesse me esmagado. Finn, como o monstro que é, não fez esforço para me tirar do chão, em vez disso, ficou parado à minha frente dizendo coisas como "anda, saia daí" ou "eu sei que você consegue, se levante!".
Não, Finn, não consigo.
Em minha segunda tentativa, ao menos fui capaz de sustentar o peso do meu corpo em meus pés por alguns segundos, quando um sorriso orgulhoso estava prestes a preencher o rosto de Wolfhard, um choque ecoou pelas minhas veias tirando minhas forças de modo brutal. Por sorte, dessa vez o garoto a minha frente não foi tão severo e me segurou para que eu não caísse pela terceira vez naquela manhã.
— Que horas são, Finn?
— Nove e meia, você até que dormiu bem — me entregou um sorriso amigável
Repousei na confortável cama de casal encostada à parede pintada de azul marinho; só então olhei em volta e notei que aquele seria com certeza o quarto de Finn. Sem pensar muito, me debrucei na janela que seguia sua cama na tentativa de descobrir onde o mesmo poderia morar. Minhas expectativas foram frustradas quando encarei apenas uma varanda com roupas estendidas no varal e algumas tralhas espalhadas por ali. Que bela vista, hein?
Ao notar minha inusitada curiosidade, Finn se mostrou inseguro, não ache que minha casa em hipótese alguma seja melhor do que a sua, querido.
As paredes de seu quarto eram preenchidas por pôsteres de bandas e cantores desconhecidos por mim; uma porta na direita provavelmente guiava a saída e a outra porta, entreaberta, me dava a visão do pequeno banheiro "particular" de Wolfhard. A cama de solteiro onde ele dormia até que era bem confortável, tinha um cheiro doce e curioso em seus cobertores.
— Mais alguma pergunta, miss bebedeira? — sorri sem graça
— Essa é a sua casa? — ele pareceu surpreso
— Oh, temos um albert Einstein! — arremecei nele uma almofada para que se colocasse em seu lugar, o que o ocasionou um riso fraco — seja bem vinda, espero que não tenha problema, sabe? Seus amigos descobrirem que você já esteve aqui
— Deixa de bobeira — me recostei na parede assim como o mesmo fazia — o único problema é seus pais saberem que você trouxe uma garota desmaiada para casa assim desse jeito
— Ah, não se preocupa... minha mãe não tá em casa, ela saiu numa viagem para visitar uns parentes — coçou o cabelo, visivelmente nervoso
Tenho que concordar que, para um garoto com sua reputação, não pegava nada bem arrastar uma mulher desacordada para dentro de sua casa sem nem ter o consentimento de nenhum responsável, mesmo que fosse uma intenção de coração puro.
— Bom, você não parece bem, mas se for melhor para você, posso te deixar em casa.... vai ter que andar até o carro, a propósito
Mover meu corpo o mínimo que seja está completamente fora de questão, meu bem.
{☆}
Dias Atuais
Acordar na cama do Finn foi um começo, uma iniciativa incomum e estranha; mas foi ali onde algumas coisas mudaram, não só para mim, mas creio que para ele também.
Meu número de telefone celular era um pouco demais para a pouca intimidade que tínhamos, mas mesmo tendo acesso só ao número do telefone fixo da nossa casa, Finn não parava de ligar, era até meio engraçado ouvi-lo telefonar às vezes apenas para desejar boa noite ou para perguntar se eu prefiria doce ou salgado. Claramente não sabia como ficar sozinho, e mesmo tendo passado tanto tempo com meus amigos, era simplesmente diferente com ele; ele agia de modo singelo e curioso ao mesmo tempo. Não era como Cylia, que perguntava com quantos garotos eu já dormi ou coisa assim; Finn parecia empolgado em descobrir quem eu poderia ser por debaixo da casca, reparei que ele dificilmente fazia perguntas muito pessoais, mas ao mesmo tempo estava sempre afim de saber algo novo sobre mim, isso era... era muito legal.
Tê-lo em minha casa se tornou usual, no começo, ele esperava até ser convidado por mim ou Kaycee, que se tornou grande amiga dele, mas depois, aparecia com frequência em nossa porta mesmo sem avisar. Dificilmente era mal recebido. Não gosto de pensar por esse lado, mas acho que ele já percebeu que não é de incômodo algum ter ele aqui. Pelo contrário, era um certo prazer quando ele surgia aqui com algum presentinho para minha irmã ou para mim, algo que comprara na conveniência.
Mesmo estando mais próximos, não conversávamos muito na escola, sorte ele nunca ter questionado sobre isso, acredito que já saiba a resposta. Meus colegas e Cylia continuaram a caçoar dele, mas com a entrada de um novo nerd na escola, deram certa trégua ao Finn. Cylia dormiria aqui essa noite, mas quebrei o combinado porque estava começando a me entediar de seus assuntos.
É como comer um chocolate mediano que, até então, você acha delicioso. Algum amigo te oferece uma mordida de um chocolate refinado e caro, de repente, o chocolate antigo se torna uma porcaria, porque agora você provou de um melhor e não quer mais comer o ruim.
Era como meus amigos faziam eu me sentir de vez em quando. Estar com Finn me fez perceber que Cylia e Oliver não sabiam conversar. Era exaustivo tentar dialogar com eles agora; parecia que tinham mudado, mas no fundo eu sabia que a única que sofrera uma certa mudança nos últimos dias havia sido eu.
— Tive uma ideia, Corine — atraiu assim minha atenção — vamos jogar
— Não tenho video game Finn, somos pobres — ele gargalhou
— Não esse tipo de jogo... verdade ou desafio?
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𝒀𝒐𝒖𝒓 𝒔𝒊𝒏𝒔 ~ 𝐹.𝑊
Ficção Adolescente𝐂𝐚𝐩𝐞 𝐂𝐨𝐝 | 𝟏𝟗𝟗𝟖 𝘜𝘮𝘢 𝘱𝘢𝘪𝘹𝘢̃𝘰, 𝘵𝘢𝘯𝘵𝘰 𝘱𝘰𝘥𝘦 𝘴𝘢𝘭𝘷𝘢𝘳 𝘤𝘰𝘮𝘰 𝘵𝘢𝘮𝘣𝘦́𝘮 𝘥𝘦𝘴𝘵𝘳𝘶𝘪𝘳 𝘶𝘮 𝘤𝘰𝘳𝘢𝘤̧𝘢̃𝘰, 𝘷𝘢𝘭𝘦 𝘢 𝘱𝘦𝘯𝘢 𝘵𝘦𝘯𝘵𝘢𝘳 𝘮𝘦𝘴𝘮𝘰 𝘵𝘦𝘯𝘥𝘰 𝘤𝘪𝘦̂𝘯𝘤𝘪𝘢 𝘥𝘢𝘴 𝘨𝘳𝘢𝘯𝘥𝘦𝘴 𝘤𝘩𝘢𝘯𝘤...