Capítulo 32 - Ajuda Inusitada

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— Andreas?

Jessica ia de aposento em aposento procurando por seu parceiro, com crescente desolação.

— Andreas, se está tentando pôr à prova meus poderes telepáticos outra vez, saiba que isso não é justo.

Acordara na cama vazia, o que sempre a aborrecia. Descobrira com Andreas algo que jamais havia imaginado viver, e quase perdera esse tesouro antes mesmo de tê-lo inteiramente. Sabia que suas capacidades telepáticas ganhariam força e nitidez, quando se recuperasse do dano que sofrera, e esperava que isso acontecesse logo, ou passaria o resto da vida sofrendo com esses testes de Andreas.

Ela atravessava a cozinha quando sentiu aquele som singular que acompanhava a chegada de um Demônio teletransportado. Virou-se, esperando ver Andreas, mas não havia ninguém ali. Já na sala, ainda tentava sentir o cheiro de fumaça e enxofre, que seu parceiro sempre deixava no ar, quando foi empurrada por trás e jogada no chão com violência. A força do golpe deixou-a sem ar e feriu seu nariz. O tapete azul era manchado pelo sangue que jorrava de suas narinas,

— Então, druidinha ... — disse uma voz feminina num tom desdenhoso, bem perto de seu ouvido. Um joelho apoiado em suas costas, expulsava dos pulmões o pouco de ar que ela tinha para respirar. — Onde está aquela puta da sua irmã quando você precisa dela?

A última coisa que Jessica sentiu, antes de ser arrastada pelos longos cabelos loiros.

                                       ***
O puma contornou a casa devagar, cheirando o chão e tentando identificar o que o olfato registrava. A porta estava aberta e, com passos lentos, a fêmea puma entrou na casa. O cheiro de sangue era forte, e ela o seguiu até encontrar a poça no tapete.

O puma lambeu a mancha devagar, incapaz de resistir ao apelo do aroma e ao sabor. Jamais provara nada parecido antes. Era uma composição tão estranha, que a deixava confusa. Havia nela um toque de poder. Nada forte, mas o suficiente para indicar que não pertencia a um humano comum.

O lugar estava tomado pelo cheiro de Demônios, e a fêmea selvagem olhou em volta. Sentia o odor residual do medo, o cheiro de hostilidade. Algo violento havia acontecido naquele lugar, e de repente o animal compreendia que não devia ficar ali, pois alguém podia chegar e interpretar erroneamente suas intenções.

Ela se virou para pular pela janela, mas parou ao sentir cheiro de enxofre e fumaça. Uma nuvem cinzenta invadia a sala com violência espantosa. O Demon que saiu dela parou repentinamente ao ver o gato selvagem se encolher numa postura típica de defesa. Andreas sentira a inquietação da parceira por um segundo, e quando o sussurro que era sua presença desaparecera do espaço minúsculo em sua mente, o medo o tomara de assalto. Agora, ao ver a fêmea de felino selvagem e a poça de sangue, ele percebia que o medo dava lugar à fúria e à dor.

O cheiro de sangue era de sua parceira, e sabia que ela estava ferida e correndo grave perigo. Com os punhos cerrados e os olhos verdes iluminados por um brilho feroz, ele avançou contra o animal. O puma retrocedeu, olhando em volta como se procurasse por uma via de fuga. Sua decisão foi rápida, provavelmente gerada pela constatação de que jamais poderia escapar de um Demon capaz de se teletransportar. O felino começou a tremer, e o sino em seu pescoço chamou a atenção do Demon. Era estranho, que um animal selvagem usasse uma coleira. Ou um colar? O gato continuava tremendo. A cada movimento seus pelos iam se transformando em longos caracóis dourados.

Em poucos momentos Andreas se viu diante de uma mulher de olhos dourados. Nua, exceto pelo colar. Ela ergueu o corpo até atingir sua estatura natural. E ela era alta. Os cabelos longos escondiam a maior parte de sua nudez, mas a fêmea de licantropo não parecia estar incomodada com isso. Toda a sua atenção estava voltada para o Demon.

DEMONS | BILL KAULITZOnde histórias criam vida. Descubra agora