primeiro.

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MACCHIATOS, COCO CHANEL E OUTRAS RAZÕES PELAS QUAIS TIVE DE SAIR DA TAILÂNDIA. | natalie scatorccio point of view.

Amo café.

Café de todo tipo: com leite, chocolate, puro, mocha, capuccino. Todos mesmo. Ainda assim, tenho uma preferência em especial por macchiatos. E os macchiatos da Tailândia são vergonhosos. Honestamente, é a coisa mais fácil do Universo: café expresso misturado com uma pequena mancha de leite quente com espuma - daí vem o nome 'macchiato' que é nada mais que 'manchado' em italiano.

E mesmo sendo tão simples, todos os macchiatos da Tailândia são tão saborosos quanto um copo de água cheio de cloro.

E foi por isso vim morar na Califórnia.

"Qual foi mesmo a frase que você pichou no muro da escola em Bangkok?"

Confesso que nem lembrava direito desse evento que não teve nada a ver com o fato de eu ter vindo parar aqui.

"Você não vai esquecer isso, não?" Estou vendo os pingos de chuva escorrendo pelo vidro da janela. A Califórnia não é nada o que eu pensei em fevereiro, está fazendo treze graus fora do carro e os céus caem como se Zeus estivesse em pé de Guerra com a mulher do tempo do jornal das sete. Não que eu imaginasse estar entrando num próprio vulcão, mas... bom, certamente eu esperava ver uns surfistas sarados e garotas bronzeadas de biquíni pelas calçadas. Como nada disso está acontecendo agora, infelizmente, apenas tento contar os pingos de chuva que se arrastam com o vento no vidro.

"Certamente não, tendo em vista que você foi expulsa de lá por isso." Diz enquanto se curva um pouco e estica o braço coberto pelo cardigã bege, os dedos passam a controlar o botão do aquecedor, aumentando mais dois graus de temperatura.

"Eu não fui expulsa." Corrijo, vendo de não muito longe a construção grande do prédio o qual estávamos destinadas. "Fui suspensa por um ano. Sério que as paredes daqui são de tijolinhos?" Com um sorriso desdenhoso, pergunto ao escanear o prédio de acordo com a proximidade que o carro pega. "De repente fui transportada para o século dois?"

"De qualquer jeito, nossos pais agora têm certeza que você é uma força da natureza, e que a Califórnia vai cortar suas 'asinhas divergentes'." Ela diz isso sorrindo ainda concentrada na rua em frente, mas sei que acha a citação 'asinhas divergentes' ridícula, e que também acha mais esquisito ainda o fato de nossos pais acreditarem que a Califórnia vai estabilizar a minha mente.

"A doce ironia das coisas." Uma lufada de ar sai pelo meu nariz assim que deixo sair uma risada baixa, tentando puxar um pouco mais as mangas compridas do moletom para que cubram minhas mãos. "Li na Forbes que 90% da Califórnia faz terapia."

Minha irmã imediatamente me olha como se eu tivesse acabado de xingar a Oprah ou algo do tipo, mas não demora muito para que ela também caia na realização que eu não estou falando sério. "Você sabe que a Forbes é uma revista de negócios, não é?"

"É claro." Permaneço absorvendo o que consigo pelo vidro do carro. "Os terapeutas daqui movem 60% da economia do país."

"Você está totalmente me sacaneando." Ouço sua voz tremer, denunciando uma risada. E quando a olho, ela está virando o volante num ângulo de 180 graus para entrar pelos portões de ferro gigantescos do colégio. "... Não é?"

Sorrio ao ver que ela está literalmente pensando na possibilidade de noventa por cento do estado fazer terapia apenas porque eu disse. Sem contar que ela sabe que sou inteiramente incapaz de decorar estatísticas aleatórias.

"Talvez." Murmuro, observando tudo ao que adentramos o campus. A chuva cai conforme o antigotas do para-brisa limpa a água que cai de modo contínuo. Dou um longo suspiro. "Uma mulher precisa ser duas coisas: quem e o que ela quiser."

Lottie, Francês e Outras Coisas Lindas ᝰ lottienatOnde histórias criam vida. Descubra agora