Lottie, Francês e Outras Coisas Lindas ᝰ lottienat

sexto.

JEFFREY DAHMER, NATALIE SCATORCCIO E OUTRAS PESSOAS PERIGOSAMENTE ATRAENTES | charlotte mattews point of view.

Eu nunca tive um namorado, e estou começando a achar que vou morrer sem um também.

Consigo me enxergar morrendo ao lado de uns cinco cachorros com nomes de artistas famosos que eu detesto, tipo... Chris Brown? É, bem. Só consigo associar esse nome a um cachorro desde que me entendo por humana, coisa que quem carrega essa nomenclatura claramente não é.

Quando eu me sentir sozinha demais, trabalhando o dia todo e chegando em casa pra ver tudo vazio, minhas pesquisas vão se resumir a 'posso adotar um bebê sem casar?' e se por um acaso não puder, terei que baixar o Tinder para encontrar alguém que goste de francês tanto quanto eu, e daí viveremos conflitos porque odeio pessoas, só que em conflito na França.

Brincadeiras à parte, ser solteira não é um problema pra mim e nunca vai ser. De verdade, e daí se logo faço dezoito anos? Estou longe de ser carente de atenção e não vou ser humilhada em praça pública por ainda não ter um cara empencado comigo vinte e quatro horas - essa ideia me dá ânsia de vômito.

Além do mais, oportunidades não faltaram. Desde que me entendo por gente meu pai é diretor do local onde estudo, e ele usa isso em seu favor. Ainda assim, os caras me paqueram. Alguns tentaram me cortejar nos corredores do colégio, outros em monitorias, outros nas aulas mesmo... Um deles até me mandou uma foto do pênis com a legenda 'Todo seu, gata'. Isso foi bem nojento, então resolvi que estava na hora dele ficar longe de mim. Meu pai ficou sabendo disso, com certeza, porque eu contei. Ele expulsou o garoto e encheu a ficha dele de péssimas recomendações. Acho que o arruinei e não, não me arrependo.

O que quero dizer é que, por mais que nem todos os garotos sejam horrendos como o citado acima, ainda não consigo me interessar por nenhum deles porque eles são... desinteressantes. E as pessoas parecem incomodadas com isso. Nenhuma delas têm coragem de dizer cara a cara, mas já ouvi murmúrios de que eu já deveria ter arrumado um namorado, pois sou linda, inteligente e 'pra casar'.

Solto uma pequena risada através das narinas enquanto passo com o indicador a página de papel reciclado grossa do livro de literatura. Ninguém, absolutamente ninguém consegue ver uma garota bem-sucedida em tudo sem querer lhe dar um marido e dizer que ela tem que casar logo.

"Em que página está a piada?" A voz grave indaga, acredito que por ter escutado minha pequena risada amargurada. O cheiro de café da cantina normalmente me ajuda a focar no que estou lendo ou escrevendo, mas depois do domingo que tive ontem, me sinto tão sobrecarregada que não lembro de mais nada que li na página anterior. "Por favor, preciso de humor. Esse livro é um tédio."

Nossa professora de Literatura Moderna é um tédio, se é pra ser bem sincera, Nick é apenas gentil demais para dizer isso em voz alta, mas honestamente? Ler sobre isso no café da manhã está me dando sono. Tudo sobre essa cantina me dá sono.

O Rosemont é um dos colégios mais insuportavelmente caros de Sacramento, mas suas bolsas integrais dão a oportunidade de que adolescentes bem intencionados e estudiosos tenham uma boa formação acadêmica. Aqui os corredores são limpos de uma forma quase impossível, as carteiras não têm um sequer risco visível a olho nu e as mesas de cor clara são distribuídas em volta do refeitório interno gigantesco de modo mega-organizado. Tudo aqui mantém cores claras e neutras, limpas e me dá a impressão de que esse jogo de cores foi minuciosamente escolhido para me dar sono ao invés de me acalmar.

"Não foi nada do livro." Respondo, fechando de vez a capa dura. As letras estavam se embaralhando aos meus olhos, e eu preciso tomar ao menos um suco ou comer algo para começar o dia.