Lottie, Francês e Outras Coisas Lindas ᝰ lottienat

décimo quinto.

BEIJAR EM FUNDO DE TÁXI, ENFRENTAR UM CARA E OUTRAS LOUCURAS QUE FIZ HOJE | natalie scatorccio point of view.

Eu tenho várias teorias sobre a vida.

A de que todos somos flores é bem romântica no que atém a perspectiva de precisar de outra pessoa para nos mudar, mas também tenho essa teoria estranha de que todos somos livros.

Pensem comigo: todos somos livros.

Qualquer pessoa que entra em nossa vida nem que seja por um curto período de tempo, tem um vislumbre da nossa vida. Se gostarem do nosso primeiro capítulo, mostramos mais páginas a elas. Se elas gostarem, se confiarmos nelas o bastante pra criarmos mais laços, deixamos que essas pessoas vejam as partes não revisadas, com erros ortográficos e até algumas incoerências ao decorrer da história. Algumas pessoas - as mais especiais - podem tomar notas nas nossas margens porque deixam suas marcas em nós e na nossa história. Nós sublinhamos elas, passamos marcadores de texto coloridos para destacá-las nesse vasto mundo de páginas que somos.

Mas tenham em mente uma coisa: o livro é você e é você quem escreve. As palavras que estão impressas - as que nos representam como pessoas - não mudam sem nossa permissão, então é mais do que justo saber selecionar quem pode tomar nota nas suas margens, ver seus erros não revisados e suas marcações vulneráveis.

Como por exemplo, a Lottie mal chegou em minha vida e já está deixando sua marca por todo canto.

É estranho constatar isso tendo em vista que logo ao me conhecer ela já me odiava com todas as fibras de seu pequeno corpo. Pensei em deixá-la em paz, em apenas não insistir em tudo isso, mas a verdade é que eu me senti intrigada pelo ódio espontâneo. Não é normal, é? Alguém olhar para mim e simplesmente decidir que sou uma criatura desprezível. Digo, tenho consciência de que tenho carisma o suficiente para fazer uma boa primeira impressão. Uma ótima primeira impressão.

Não tenho?

Então, quanto mais fomos ficando sozinhas juntas, descobri que a questão é que às vezes as pessoas querem ir embora porque estão assustadas, ou mal informadas, ou inseguras, ou confusas. E é nessas horas... nesses momentos duros e definitivos, em que duas pessoas estão à beira de despencar ou de voar, que você precisa se perguntar: essa pessoa quer mesmo ir ou só está com medo?

No final das contas, Lottie não quis ir. Ela deixou que seu muro de Berlim fosse caindo aos poucos - creio que ele ainda exista, um pouco desmoronado, um pouco em pé, mas exista -, e eu apenas me vejo de braços abertos esperando pacientemente para que ela se sinta à vontade o bastante para derrubá-lo por inteiro.

Entretanto, há quinze dias desde nosso primeiro encontro na praia - o qual a levei para observar as estrelas e acabamos desviando do objetivo da coisa -, tudo ao nosso redor parece um espiral de atração sexual e carinho misturados em um caldeirão gigante com as letras 'Adeus, Jogo da Amizade', porque o que estamos tendo juntas todo dia é tudo, exceto amizade.

Por mais que eu saiba disso, entretanto, me falta coragem pra perguntá-la em que pé ela está com tudo isso e estragar tudo. E eu não quero estragar tudo com alguém como ela. Porque nos mínimos detalhes, em quase um mês em que a conheço e passo todos os começos de noite com ela, eu gosto do que ela é.

É séria, não ri de tudo no colégio, mas anda gargalhando bastante das minhas piadas e sempre me dá um beijo no ombro a cada vez que a faço rir repentinamente. Sem sombra de dúvidas é séria como ninguém sobre suas obrigações de filha e aluna, mas ainda assim, consegue se distrair e espairecer de vez em quando comigo, com minha irmã ou seu amigo.

Além do mais, Lottie ama, ama abraços casuais, repentinos, e descobriu que gosta andar de mãos dadas - não só as mãos, ela gosta de enroscar os dedos nos meus. Basta perceber que estou perto para que ela comece a fazer carinho em minha mão, mexa no meu cabelo com seus dedos delicados ou deite a cabeça em meu ombro, porque em suas palavras, é um local propício para uma soneca.